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Fotografia: André Alves
Publicado a: 08/04/2024

Sozinho, mas bem rodeado.

St. James Park: “Tive que me obrigar a sair da minha zona de conforto e experimentar novos estilos musicais”

Fotografia: André Alves
Publicado a: 08/04/2024

Foi no mês passado que Modern Loneliness foi apresentado ao universo por St. James Park. Num círculo mais próximo da Cosmic Burger, Tiago Sampaio juntou cooperantes e amigos do seu último trabalho numa festa de apresentação em Braga que teve direito a muita diversão, aguardente artesanal de Barcelos e uma sessão de bingo. Tal agitação em torno do álbum levou-nos a uma empolgante conversa com o artista minhoto.



Apresentaste o teu novo álbum, Modern Loneliness. Podes falar-nos do teu percurso até aqui? O que aconteceu antes deste momento? 

Na verdade, eu venho do mundo das bandas e do pop-rock. De repente, eu começo a sentir uma necessidade de tentar perceber um pouco mais sobre produção, sobre a própria eletrónica em si. Como é que aquelas máquinas — drum machines — funcionavam; como é que aqueles sintetizadores conseguem reproduzir som. Tudo isso me fascinava muito, então decidi começar, mais ou menos em 2015, a experimentar algumas coisas sem muito objetivo, na verdade, só mesmo experimentar para me divertir, para saber mais. Depois, entrei num momento em que já estava a fazer músicas, já estava, se calhar, a criar um caminho. Até que, de repente, o Francisco Quintas, da Cosmic Burger, me lançou um desafio. Ele já me conhecia, não o projeto em si, mas já sabia que andava a criar algumas coisas e então convidou-me para editar o meu primeiro disco. É aí que aparece St. James Park. Eu tive que dar um nome ao projeto, perceber que formato, unir todas essas coisas que tinha aos pedacinhos sem nada definido. Foi um bocadinho isso. Editei o meu primeiro disco [Highlight] pela Cosmic Burger, já na altura, com convidados incríveis como o Noiserv, a LINCE e a IVY. A seguir, fui trabalhando cada vez mais, fui entrando na música electrónica, acredito que um bocadinho mais experimental. Fui-me distanciando cada vez mais da pop e foquei-me mais em tentar trabalhar pequenos sons e tentar fazer a parte mais experimental. Até que, de repente, dou por mim e percebo que estou sentir-me completamente perdido. Já não sabia muito bem qual era o rumo. Estava sem estratégia porque decidi só divertir-me a fazer coisas sem muita estratégia até que percebi: “Ok, precisas de uma estratégia! Precisas de voltar! Precisas de perceber o que é que queres!” Pronto, então eu decidi isto!

Deixa-me só interromper-te. Isso foi antes, depois ou durante a pandemia? 

Olha, eu lancei o meu primeiro disco na semana que caiu a pandemia, ou na semana a seguir. Durante a pandemia andava a divertir-me. Se calhar também deve ter sido isso um bocado a causa, talvez, não sei [risos]. 

A minha pergunta vai nesse sentido. Estava-me aqui a soar um bocado familiar esta esta parte de indefinição. 

Pois, pois, exato, exato! Eu acho que estávamos todos ali naquele momento sobre a sobrevivência. Lá está, eu acho que era um bocadinho isso, acho que foi um bocado arrasto, porque também senti. Como lancei o meu projeto na pandemia, nunca tive a oportunidade de tocar ao vivo, ou seja, nunca tive um compromisso muito grande em me afirmar como músico ao vivo, porque não havia concertos e agora que as coisas começam a… Pronto, já abriram há algum tempo, e começo a pensar mais neste projeto como um projeto de música ao vivo também, neste caso.

Antes, estavas a dizer que te tinhas perdido na parte de composição.

Sim, foi um momento em que senti que estava um bocadinho perdido. Eu vinha de 2 ou 3 anos a trabalhar sozinho em casa no meu estúdio, então eu decidi: “Ok, vou fazer um disco e pronto. Vou convidar muita gente para entrar nas minhas músicas, e cada música, no mínimo, tem que ter um artista.” Só tive que me obrigar a partilhar mais coisas, momentos de estúdio, aprender mais coisas, sair da minha zona de conforto e experimentar novos estilos musicais nos quais não domino nada, nem nunca compus nada, mas pude obrigar-me a sair da minha zona de conforto e tentar perceber qual é que é o meu caminho. Ou o que é que sou, conhecer-me melhor, ou a minha voz. Então decidi começar a mandar muitos convites a vários artistas, muitas pessoas que eu que eu gostava imenso do trabalho. Uns eram amigos meus, outras eram pessoas que me davam aquela pica só para tentar perceber como é que poderia funcionar uma música com elas, sei lá. Porque os estilos são tão diferentes…  Às vezes uma pessoa não imagina, mas depois penso: “Ok, pode funcionar!” Uma pessoa tem de se pôr à prova e pronto, até que cheguei aqui ao Modern Loneliness.

Não deste concertos durante a pandemia, mas depois nós vimos-te na Noite de Reis e até escrevemos sobre isso. Como estavas nessa altura?

Enfim, eu já dei alguns concertos, mas foi num formato muito experimental e acho que a coisa não estava a resultar muito bem. Se calhar nem para mim, nem se calhar para o público. Sentia que tinha que trabalhar melhor os espetáculos ao vivo, mas fui fazendo algumas apresentações. Cheguei a tocar em alguns festivais também durante estes últimos dois ou três anos.

Então chegamos ao Modem Loneliness. Queres falar primeiro sobre título do disco, e depois sobre que está lá dentro e sobre esta fabulosa embalagem que temos aqui? 

O nome do disco vem um bocadinho do processo. Por exemplo, eu estive a trabalhar com músicos, só portugueses, mas tudo do país inteiro. Quando nós estávamos em estúdio e partilhávamos o momento da criação isto era muito fixe mas, ao mesmo tempo, quando cada um voltava às suas vidas, era complicado estarmos sincronizados ou continuar a trabalhar nos temas. Ou seja, às vezes uma alteração num tema que em estúdio demorava cinco minutos, à distância demorava uma semana. Isso refletiu em todo o processo. O que eu quis com o título é que ele refletisse o que nos acontece a todos hoje em dia: tu estás ligado a muita gente, certo, mas não deixas de estar sozinho e de te sentires frustrado porque, simultaneamente, não estás ligado assim a tanta gente, porque na verdade não é tua vida real. É tua vida para além da realidade, não é? Ou seja, daí vir o conceito da solidão moderna, achei que fazia todo sentido. 

E o que está dentro desta embalagem?

Olha, na embalagem, a parte do metal era quase como se como se fosse um espelho para nós mesmos. Onde nós víssemos só a nossa própria a imagem. Ou seja, há mais uma vez a alusão à solidão, e depois também é um bocado aquela questão da solidão moderna. Hoje em dia tu vais às compras e já não vais às compras. Compras na net e vem tudo em embalagens para casa. Foi um bocadinho nesse sentido. A rodela puramente estética. Na minha cabeça estava só a imaginar a rodela sem nada gravado. Vem com um cartãozinho só com o alinhamento e os meus agradecimentos.

E temos aqui oito temas. As participações deste álbum, tens alguma que queiras evidenciar?

Eu acho que foram todas bastante especiais. Algumas, se calhar, mais simples do que outras, não é? Mas há algumas que saem mais da zona de conforto do que outras. Duas músicas que me foram um bocadinho estranhas, no início, que é a “B4U” — que compus com o Cálculo, a y.azz e o Birou — e a “Feitiço” — com a Isa Leen (a minha irmã Rita Sampaio, aka IVY) e com a Sónia Trópicos. São as duas que são mais fora da minha zona de conforto. Apesar de já ter produzido coisas de dentro deste género, uma é, se calhar, mais R&B, a outra, se calhar, um bocadinho mais a puxar para os afrobeats. Na altura eu senti-me um bocadinho desconfortável quando as estava a compor, mas eu pensei: “Ok, tu fizeste este disco por isto mesmo, é para te sentires desconfortável, portanto vai e assume que se estás desconfortável é porque está a correr bem!” Foi neste sentido, e acho que o resultado final acho que correu super bem. Depois há mais duas ou três músicas que destaco. A música “Eu Caio”, com a Bia Maria, acho que é uma das músicas que mais me orgulho do disco, porque foi um match, um casamento muito feliz para mim. Depois a “p(44)”, com a EVAYA, e também a “On My Shoulder”, com o Rui Gaspar, são temas que se calhar me identifico mais enquanto pessoa, enquanto músico.

E agora para o futuro, o que prevês? 

Depois da apresentação que fizemos em Braga, onde só decidi convidar os meus amigos e que incluiu o bingo — que foi a melhor parte —, fui a Lisboa no dia 4 de abril apresentar o disco no Musicbox, onde a primeira parte foi feita pela margô — ela é uma artista de Leiria e produziu o EP dela [00:00], portanto acho que faz todo sentido. Estamos agora a preparar a tour de Verão.

Vais atuar sozinho ou vais levar músicos contigo?

Inicialmente estava a pensar que podia ser giro, dependendo do local do país, convidar músicos diferentes, mas hoje em dia toda a gente tem a agenda muito preenchida. É muito complicado. Então decidi fazer-me acompanhar pela Mafalda nestes concertos agora até ao final do Verão. Ela vai estar comigo em palco e é a única convidada. Neste formato já há uma roupagem um bocadinho diferente daquilo que são as músicas no disco e adaptadas à minha realidade.


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