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Fotografia: Adriano Ferreira Borges
Publicado a: 09/01/2024

Bazuucadas musicais.

Noite dos Reis’24 — Dia 2: do jazz trágico de Mafalda BS ao delirante rock dos Bed Legs

Fotografia: Adriano Ferreira Borges
Publicado a: 09/01/2024

É com uma sensação de entusiasmo e expectativa que regressamos, em tão curto espaço de tempo, ao Lustre, tanta foi a diversidade de bandas e público da noite anterior.

Entrados, apercebemo-nos de que hoje o espaço está muito mais compacto logo pelas vinte e três horas, momento em que Mafalda BS abre as festividades da que é a segunda Noite dos Reis — neste caso, da Rainha. Traz-nos uma electrónica exploratória com a apresentação, em concerto, de Canto em Cantos. Com registos desconcertantes, com uma sonoridade entre o jazz e o trágico, mostra-se um mistério de intenções e lugares que se perdem e nos perdem dentro das suas estéticas.

Repetindo-se os movimentos da primeira noite, alternamos entre palcos, e se começámos no Palco Mozart, rumamos em seguida ao Palco Bazuuca. Lá, encontramos mutu. São de Braga, formaram-se em 2020 e… E o som destacou-se, tecnicamente, de tudo que se tinha escutado até ao momento nas duas noites. Mais limpo, apurado, e com todo o detalhe a escutar-se. Coisa que não é fácil de se conseguir com salas forradas a espelhos e geografias estranhas a palcos convencionais, acrescenta a isto a banda ter-se salvaguardado com um músico/técnico/produtor que lhes conhece bem o som, Lucas Palmeira. Atenção que ainda não estou a falar de mutu, nem nada disto será importante, quando uma banda explora sonoridades progressivas e de post-rock com uma maturidade sedosa, onde os ecos da portugalidade, das tradições, dos ditados populares e das lenga-lengas estão em cada acorde, no silêncio de cada paragem até ao próximo alavanque musical. Foi lindo o apelo à gravação dos nossos avós. Foi mágico o momento das vozes na “Senhora dos Remédios”. Os mutu foram tão grandes nesta Noite dos Reis.

Maison Vërt já espraiavam os beats de Birou, com sala cheia e Frank Lukas na voz. Já o vimos ontem e esta geração, hoje, traz mais gente. Percebe-se um fervilhar de uma nova geração na comunidade criativa da cidade, que se atreve em caminhos que ainda não se tinham mostrado… As salas começam a ser pequenas para tanta festa e estes pequenos mostram que querem crescer com tanta força. De repente a noite já é toda ritmos e o verbo solto.

Estaremos com as medidas cheias e ainda a noite ia a meio. Vadiávamos nos corredores que guiavam às salas, e diante de tanta gente, e tanta conversa, e tantas opiniões, o porto seguro foi junto à mesa de som, onde esperámos pela chegada dos QUADRA. Que bem começaram, com Stratos e a seguir com Miguel Santos de MAYU. Chega a palco provando que as simbioses entre músicos e a arte ficam tão bem. Nestes pensamentos, sorrio, porque há aqui tanto dos primeiros dias em que comecei ou ouvir música, tanto dos anos oitenta, simultaneamente original e puro. 

Sorrio ainda mais quando me lembro do poder da música que é sublinhado pelo Cyborg, dos Teen Titans Go!, nos episódios onde se escuta a música dos B.E.R., “Night Begins to Shine!” — perdoem-me a referência, mas adoro desenhos animados. Isto acontece-me ao ouvir “Luz” e seguidamente “Solar Explosion”, observando que todo o público vibra noutra dimensão da Noite dos Reis, e essa, vitralizada pela banda. 

Já não nos apercebemos, dentro desta mórula de gente onde estamos e onde vamos. Começa só a ser perceptível pela geografia das salas. St. James Park é, sem dúvida, refrescante. Traz na bagagem um punhado de canções tão leves como aquilo que quer criar no local onde toca. Percebe-se que não é de agora que o faz e que consegue ser o timoneiro das vontades de quem logrou assistir ao seu concerto. Dentro do género, sem dúvida, o músico mais maduro da Bazuuca.

No início da noite abracei o meu amigo de longas décadas Hélder e com um sorriso perguntei: “Como é, preparado para partir tudo?” Este jovem velhote, como carinhosamente nos tratamos, é o baixista dos Bed Legs, e sobre a resposta vou contar-vos como foi o concerto que tirou o pó aos alicerces antigos do Lustre. 

Não foi nada de espantoso que, para os presentes, este concerto fosse o mais esperado. Todos sabiam que esta banda respira, sua, cospe, delira rock — e do melhor que se faz. De repente não havia tribos, nem gerações, soava a maravilhosa voz de Ferna (Fernando Fernandes) elevada com a prestação de uma banda tão coesa e virtuosa que em segundos levou a casa ao rubro e assim a manteve durante os quase 50 minutos de música. 

Houve o tempo do agradecimento à Bazuuca. Houve o tempo da dedicatória à amada que fazia anos. Houve o tempo do crowd surfing, dos solos do Tiago Calçada, dos baixos marcados e trincados do Hélder Azevedo e de todos os hits e do hit entre os hits, e todo este exagero de rock ‘n roll soou a pouco, ficou a vontade de queremos mais… Ah! E o Ferna anunciou novo álbum! 

Da Bazuuca há a dizer tudo o que escrevi do primeiro dia e deste segundo, somando a simpatia. De repente a sala estava escura e uma multidão se virava autómata para a cabine de DJs. Dark Sessions tinham tomado conta da Noite dos Reis.


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