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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 22/10/2020

Poesia visual de Fábio Silva ao serviço das rimas de um duo mortífero.

Silab & Jay Fella estreiam novo vídeo para “Wrong Manz”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 22/10/2020

“E no primeiro plano Silab e Jay Fella. Silab é logo o primeiro a entrar em cena, em ‘Wrong Manz’, e não perde tempo a dizer ao MC imaginário que tem à sua frente na batalha: ‘não estás ready, estás aquém, e esses teus decibéis não incomodam ninguém’. Depois é nervo, matemática gramatical, com frases redigidas sobre régua e esquadro que respeitam milimetricamente o espaço criado pela cadência ditada pela tarola e pelo bombo. Classe pura”. Quem o escreve é Rui Miguel Abreu na crítica a Ed Harris Tape, referindo-se à magia conjurada pela dupla da Mano A Mano na faixa que surge após a introdução.

O cinema que existe nas palavras de Silab & Jay Fella pode existir num plano próprio, mas rejeitar um videoclipe digno para acompanhar essa poesia? Claro que não. É aí que entra Fábio Silva, homem com créditos em Hip to da Hop e “Jazigo“, por exemplo, e um dos praticantes de uma nova escola que quer dar um pouco mais do que planos de gestos vazios à frente da câmara.

O realizador abriu-nos a porta para o pensamento por trás da idealização e execução deste videoclipe e cedeu-nos ainda imagens do makingof acompanhadas por pequenas descrições.



[A narrativa visual do vídeo]

“Inicialmente a ideia foi desenvolvida entre mim e Silab & Jay Fella. Desde início que achámos que seria interessante ver alguém a correr durante o videoclipe. Era apenas uma intuição.

Depois dessa primeira conversa estive durante cerca de um mês a pensar na criatividade; ouvi a música centenas de vezes, revisitei continuamente o local onde seriam as filmagens, defini os enquadramentos, desenhei o storyboard…. Queria que cada plano fosse forte porque era essencial que a narrativa prendesse do princípio ao fim. Era esse o meu foco na fase de pré-produção.

Durante a rodagem, houve uma peripécia engraçada: eu queria duas pessoas a andar de bicicleta à volta do Silab & Jay Fella, mas ao último da hora ficámos apenas com uma. Tinha que se arranjar alguma solução naquele dia. Se não houvesse nenhuma bicicleta, o plano seria enfadonho. E se houvesse apenas uma, ficaria ridículo…. Tinham que ser duas. Acabou por ser o assistente de realização a arranjar a outra que faltava. Um dos pneus ainda se furou durante as gravações, mas o plano ficou ainda melhor do que aquele que tinha idealizado. O planeamento prévio foi importantíssimo e tinha que ser cumprido para que a ideia resultasse. A preocupação do TNT e do Chikolaev também foi fundamental, é crucial os artistas terem uma editora como a Mano A Mano que se preocupe com toda a sua comunicação.

O actor André Marques fez também um excelente trabalho. Foi bonito vê-lo encontrar o personagem. Durante as gravações, olhávamos para ele e ficávamos todos em silêncio. A energia ficava logo diferente durante esse processo de transformação. E agora que o videoclipe está terminado apercebi-me que o personagem tem um certo mistério. Até ao último plano permanece uma certa dúvida. ‘Ele está a fugir do quê? Irritado porquê? Quem é?’ Cada um ouve a música e interpreta à sua maneira. E isso é óptimo.”

[Filmar durante a pandemia] 

“A questão da pandemia poderia ser apenas um problema durante a fase de rodagens, mas no fundo tivemos as mesmas preocupações diárias que agora devemos ter sempre. O facto de não filmarmos em espaços fechados nem estarmos em locais com aglomerados facilitou bastante. Além disso era uma equipa relativamente pequena, nunca chegámos a ser mais de 10 durante as gravações. Apesar da situação atual, o ideal é criarmos as condições para que, na fase de rodagem, estejamos apenas focados nesse momento. E felizmente tínhamos as condições para conseguir fazê-lo.”

[Os videoclipes mais fascinantes em território português]

“Falando apenas no contexto dos videoclipes em Portugal, eu vejo com muita felicidade que têm ficado cada vez melhores. Em 2019, no festival Curtas Vila do Conde, o ‘Mesa para dois no Carpa (música de David Bruno, realização de Francisco Lobo) ganhou o prémio de melhor vídeo musical. Este ano venceu o ‘VaiVai‘ (música de IKOQWE, realização de Pedro Coquenão e Manuel Lino). Se vencermos em 2021 será uma espécie de hat-trick. Interessa-me muito assistir a esta aproximação com o cinema, o meu maior desejo é ver peças autorais que façam elevar a música através da visão única do realizador.

Um dos videoclipes que me deixou sensibilizado foi ‘Nada a Esconder‘ (música de Slow J, realização de Fiti). Estamos quase sempre na pele, no close-up, criamos logo uma intimidade como se estivéssemos dentro da casa do músico. Consigo perceber que foi muito pensado e houve um cuidado muito grande nos detalhes, em não mostrar demasiado; há sinédoques visuais, preenchemos os vazios com as nossas memórias amorosas e por isso é que nos comove… Outro dos nomes que destaco é o de Tristany. Eu conheci-o no ‘Rapepaz‘ (realização de Tristany, Onun Trigueiro e Diogo Carvalho) e fiquei muito impressionado. E as peças que têm lançado agora juntamente com o seu novo álbum continuam a surpreender-me bastante. Têm sido feitas coisas muito interessantes e estou muito curioso para ver o que virá a seguir. Acho que a fasquia nos videoclipes será elevada de ano para ano, não tenho dúvidas disso.”



[Retrato]

“Foi o Silab que me tirou esta fotografia num dos dias da repérage. Os óculos de sol são dele, e foram usados no videoclipe.”



[Equipa]

“Estávamos a fazer o plano de drone. Há esquerda estão os músicos e o resto da equipa de filmagens. O André Marques, o actor, estava a repetir pela enésima vez a cena; ele estava longe e não o conseguíamos ver a olho nu. Eu tinha que lhe ligar para dar as instruções necessárias.”



[Drone]

“O Pedro Santos Ribeiro a pilotar o drone. Demorámos algum tempo a acertar com o primeiro, aquele em que ele corre. O segundo, que é o último, bastou um único take.”



[Storyboard]

“É a primeira página de três… Nas restantes já vemos o tempo da música onde entram as imagens. Como essa página era para o início, antes da música, só tem as indicações que precisava para me guiar.”


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