8 discos. Do hip hop ao jazz. Da nova soul à electrónica mais frenética. O 8 que deitado simboliza o infinito, essa quantidade impossível de medir, tal como os diferentes pontos pelos quais passamos na viagem sonora deste final de semana.
E com o Verão a chegar ao fim, parece que as edições querem agora sair todas à rua para que os seus autores comecem a preparar as próximas temporadas, por isso o “banco de suplentes” vem hoje bem recheado: Hause Plants (Não Sou De Cá EP), Luis Lopes (Dark Narcissus (Stereo Guitar Solo)), Magano (A Caminho de Casa), Mimicat (Peito), Marcos Valle (Túnel Acústico), pulp Cruz (outset), Jaz Karis (SAFE FLIGHT), Lil Tecca (PLAN A), Oxlade (Oxlade From Africa), MC Lyte (1 of 1), Nelly Furtado (7), Lampen (Halogen), Noga Erez (THE VANDALIST), Blu & Exile (Love (the) Ominous World), Gábor Lázár (Reflex), The Voidz (Like All Before You), Manu Chao (Viva Tu), BLACKSTARKIDS (Saturn Dayz), Photay (Windswept), The Black Dog (Seclusion EP), Trey Anastasio (Atriums), Honeyglaze (Real Deal), Nusrat Fateh Ali Khan (Chain of Light) e Rrose & Polygonia (Dermatology) também apresentaram novos discos nas últimas horas.
[The Alchemist] The Genuine Articulate
Não é certamente o MC mais prendado que por aí anda, mas tem um swagger que é só seu e, acima de tudo, umas mãos de veludo capazes de orquestrar algumas das melhores batidas de hip hop de todos os tempos. Cadência boom bap (muitas vezes drumless), com uma amplitude estética que vai do soulful ao sinistro, e uma veia de braggadocious enorme são os ingredientes de The Alchemist para um novo disco em nome próprio, em que volta a assumir funções também ao microfone. The Genuine Articulate dá-nos novamente um motivo para celebrar um dos mais respeitados artesãos da cultura hip hop, que tem sido capaz de manter-se relevante com o avançar das gerações e que é respeitado de forma consensual por todos os players do game. Havoc, Larry June, Conway The Machine, Action Bronson, ScHoolBoy Q e Big Body Bes assistem-no ao longo das 8 faixas aqui compiladas.
[Nubya Garcia] Odyssey
Continua a ter momentos bem dançáveis, mas é notório que, ao segundo álbum, Nubya Garcia está também à procura de envergar por um caminho mais espiritual dentro do jazz. Odyssey divide-se entre faixas vibrantes e outras bem mais contemplativas, mas sempre com a mestria que lhe reconhecemos desde a estreia discográfica em Nubya’s 5ive (2017) e o primeiro álbum em nome próprio Source (2020). É o novo jazz britânico a voltar a fazer das suas, com um leque de influências que vai do hip hop à electrónica, e que neste registo conta ainda com os músicos Joe Armon-Jones, Daniel Casimir e Sam Jones, bem como um restrito lote de convidados onde cabem Georgia Anne Muldrow, Esperanza Spalding e Richie.
[PAPAYA] Rapazes do Tédio
Quem disse que o tédio era mau? É dessa letargia que surge o embalo para Rapazes do Tédio, um novo projecto de PAPAYA — trio formado por Bráulio Amado, Óscar Silva e Ricardo Martins — que serve como “aquecimento” para NOVE / IX, o álbum que se seguirá nas contas do grupo. “O remédio para o tédio é…”, escuta-se em loop ao longo do tema sem nunca finalizar a frase, talvez a afirmar que a cura está mesmo no embalo industrial do rock destes três compinchas — que ganha outras dimensões através das quatro remisturas que completam este curta-duração, assinadas por Fernando Triste, Prostitutes, Random Gods e Kurtis Perrie.
[Future] MIXTAPE PLUTO
MIXTAPE PLUTO é mais uma ópera de trap levada a cabo por Future. O rapper que em Março deste ano ajudou a despoletar um dos maiores beefs da história do rap, através de “Like That”, não quis dar-nos duas sem três, e após um par de projectos colaborativos com Metro Boomin (WE DON’T TRUST YOU e WE STILL DON’T TRUST YOU) voltou agora a solo com uma nova mixtape. Sem qualquer convidado, o rapper de Atlanta faz os seus versos deslizarem sobre 17 batidas supervisionadas por Taurus, Wheezy e Southside, para as quais também contribuíram nomes como ATL Jacob, Honorable C.N.O.T.E., London on da Track ou 2forwOyNE.
[Jamie xx] In Waves
Demorou mas chegou. O segundo álbum a solo de Jamie xx veio com nove anos de diferença relativamente ao primeiro — In Colour (2015) — e o tempo de espera parece fazer todo o sentido dada a maturação que se sente nas 12 faixas de In Waves. Selado pela Young, o LP é uma autêntica farra movida a ecstasy com faixas de dança que vão beber à essência de diversas fontes — desde a soul ao UK garage ou ao french touch. A escolha dos convidados também não é menos interessante: The Avalanches, Kelsey Lu, Honey Dijon, Robyn, Erykah Badu (no tema “F U”, que é exclusivo à edição em vinil) ou a banda onde despontou, os The xx, destacam-se por entre a ficha técnica.
[Tim Reaper & Kloke] In Full Effect
O dia não podia ter sido melhor escolhido. Estamos neste momento em pulgas para ver Tim Reaper em acção amanhã, na festa de abertura do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, e o DJ e produtor britânico acaba de levar até à emblemática Hyperdub o primeiro longa-duração de jungle integral dos 20 anos de história da editora fundada por Kode9. Numa conexão que liga Londres a Victoria, na Austrália, de onde Kloke é natural, saem oito hinos para a cena rave repletos de breakbeats deliciosos, graves que massajam os ouvidos e synths que ajudam a transcender a um outro tipo de plano onde se dança até à última gota de suor.
[Orion Sun] Orion
Tiffany Majette já aí anda há uma década, mas só em 2020 começou a ter um protagonismo mais palpável com os lançamentos de A Collection of Fleeting Moments and Daydreams e de Hold Space For Me. Dois anos depois, o EP Getaway veio intensificar o culto em torno de uma das vozes que estão a revolucionar o R&B, ela que em estúdio responde por Orion Sun. É agora num homónimo Orion que a artista de New Jersey mostra o quão intoxicante pode ser a fusão entre indie pop e soul de vanguarda, onde também se sentem laivos de rock alternativo e até hip hop no discorrer das 14 canções que compõem este alinhamento.
[Pearl & The Oysters] Planet Pearl
A soul psicadélica veio para ficar e tem nos Pearl & The Oysters um dos seus mais preciosos representantes. Rui Miguel Abreu entrevistou-os para o Rimas e Batidas no ano passado, quando se estrearam pela eclética Stones Throw Records com Coast 2 Coast, editora à qual regressam hoje para verem novamente o seu selo estampado num novo disco. Planet Pearl é um autêntico parque de diversões onde a pop se deixa embalar pelas sonoridades e grooves mais cósmicas que encontramos no funk, na soul, no yacht rock e até mesmo na tropicália. Está na hora de ir preparar um cocktail.