É cada vez mais desértica a travessia pelos lançamentos de final de semana nesta altura em que o ano civil se encontra prestes a virar a página. Aliando a escassez de recursos à vontade de aproveitar o penúltimo feriado de 2023, alinhamos num modo de “serviços mínimos” e destacamos apenas os discos portugueses na segunda sexta-feira (pouco) farta de Dezembro.
Num dia em que são poucas as opções alternativas a ter em conta, importa não perder o fio à meada no circuito do rap internacional, segmento da indústria particularmente activo em matéria de edições: Planet Asia & Midaz The Beast (And 1 Rap Shit), AKAI SOLO (Verticality///Singularity), Nicki Minaj (Pink Friday 2), Night Lovell (I HOPE YOU’RE HAPPY), CB (A Drillers Perspective 2.7) e Rowdy Rebel (Back Outside) não baixaram os braços em dia de pouco hustle.
[Plutónio] ORDEM & PROGRESSO
Em Outubro, Plutonio dava a conhecer “Pensamento”, a sua primeira colaboração de sempre com um artista brasileiro, nesse caso com Vulgo FK. O tema foi apresentado como sendo o arranque de uma série de lançamentos focados no marcado daquele lado do Atlântico, e hoje percebemos a magnitude desse mesmo material que o rapper tinha em mãos: ORDEM & PROGRESSO é um álbum com 10 faixas, ao longo das quais Plutonio contracena com vários nomes — interpretes e produtores — sonantes da cena hip hop do Brasil. Além de Vulgo FK, cruzam-se aqui também MC Pedrinho, Filipe Ret, Ajaxx, Chefin, Portugal No Beat ou MC Lele JP.
[J-K] Habitat
Desde o seu último álbum, Contos de Espadas (2016), J-K apenas foi surgindo com nova música a espaços de forma bem doseada. Participou em projectos de Mike El Nite, DarkSunn ou Vasco Completo, deu contributos para algumas das compilações da Monster Jinx e ainda rubricou um par de trabalhos de curta-duração — Calma e o 5º volume da Monster Jinx Cromática. Novamente em registo de EP, O Gajo da Espada leva-nos desta vez até ao seu Habitat, um conjunto de 4 faixas esculpidas ainda durante o confinamento, nas quais a poesia de J-K se mistura com batidas autorais de Taseh, OSEB e Raez, tendo Mike El Nite enquanto único convidado.
[Miguel Pedro] Sonofobia
Os últimos anos têm servido especialmente bem para Miguel Pedro mostrar a sua veia artística aplicada a outras vertentes do som. O baterista e membro fundador dos Mão Morta estado particularmente próximo da electrónica e temo-lo escutado nesse registo através de Fura Olhos (dupla que conduz juntamente com Inês Malheiro) e, mais recentemente, no álbum Clementina, onde o fabrico de batidas menos ortodoxas encontra refugio entre camadas ambient. Em Sonofobia, o conceito mantém-se, só que a muitos mais metros de profundidade, edificando verdadeiras cavernas sonoras ao longo de 8 temas carimbados pela Revolve.