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Texto: ReB Team
Fotografia: Carlo Cavaluzzi
Publicado a: 24/03/2023

13 edições, zero azares.

Sexta-feira farta: novos trabalhos de JPEGMAFIA & Danny Brown, 6LACK, Benny Sings, Yaya Bey ou Navy Blue

Texto: ReB Team
Fotografia: Carlo Cavaluzzi
Publicado a: 24/03/2023

Para os mais supersticiosos, escutar 13 discos de uma assentada pode trazer algum tipo de preocupação. Se a audição se deteriorar, não é maldição — talvez, sim, devido a alguns decibéis a mais nas colunas; até porque é sexta-feira e a malta quer celebrar o final de mais uma semana.

E por muito que quiséssemos apanhar atalhos, hoje é um daqueles dias em que é difícil não nos debruçarmos sobre muitos dos interessantes projectos que têm estado a aterrar nas plataformas de streaming, começando no tão aguardado álbum que nasce da inédita parceria entre JPEGMAFIA & Danny Brown e passando, por exemplo, pelas oferendas musicais que nos deram Yaya Bey ou Angel Bat Dawid. Apanhem-nos se puderem!

Caso ainda haja pernas para correr, o caminho não tem de terminar aqui, já que também há por aí música nova de MARO (hortelã), Aurea (Moods), LUDMILLA (VILÃ), Depeche Mode (Memento Mori), Lana Del Rey (Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd), Arooj Aftab, Vijay Iyer & Shahzad Ismaily (Love in Exile), Caroline Rose (The Art of Forgetting), Jae Skeese (Abolished Uncertanties), Kool Keith & Real Bad Man (Serpent), Kele (The Flames, Pt. 2), 03 Greedo (Halfway There), Purling Hiss (Drag on Girard), Debby Friday (Good Luck), Black Country, New Road (Live at Bush Hall), Major League Djz & Major Lazer (Piano Republik), Matt Corby (Everything’s Fine) ou Quando Rondo (Recovery).


[JPEGMAFIA & Danny Brown] SCARING THE HOES

Um cruzamento entre dois dos mais irreverentes rappers dos últimos anos revela-se, desde logo, suficientemente temível no papel. A concretização de SCARING THE HOES por JPEGMAFIA e Danny Brown cumpre, por isso, a promessa de material inusitado — a começar, à cabeça, por “Run The Jewels” e “Jack Harlow Combo Meal” — num trabalho em que a única voz creditada para lá das dos dois irrepetíveis MCs é a do prodigioso redveil. Daquelas parcerias que só se percebe que faziam falta quando acontecem…


[6LACK] Since I Have a Lover

Passaram sete anos desde que tomou o mundo de assalto com o r&b venenoso de “PRBLMS”. Com dois LPs em nome próprio editados pelo meio — FREE 6LACK (2016) e East Atlanta Love Letter (2018) —, o afastamento deste formato permitiu-lhe investir noutras frentes, tendo estado mais recentemente no formato de curta-duração — lançou 6pc Hot EP em 2020 — ou ao lado dos seus colegas de editora, a LVRN, nos dois volumes da série Home for the Holidays, em 2020 e 2022.

6LACK regressa hoje a um formato mais ambicioso com Since I Have A Lover, um álbum que começou a promover logo no arranque deste mês através do lançamento de três singles. “Rent Free”, editado enquanto faixa avulso no final de 2021, é recuperado para integrar o alinhamento deste novo trabalho, que regista apenas um trio de vozes convidadas — Don Toliver, Wale e QUIN — e cuja equipa de produção se estendeu a Psymun, Sounwave, Sir Dylan, FWDSLXSH ou Kill September.


[Isaura] Invisível

Quem também estava estava afastada dos registos em longa-duração era Isaura, mas o seu regresso a este formato tem um significado ainda maior do que o artista anteriormente referido: Invisível é o primeiro lançamento da cantora e produtora totalmente interpretado em português e as suas batidas soam mais aprumadas do que nunca, notando-se desde logo as influências que recolheu de diferentes polos — há vestígios de novos fados, de electrónica esdruxulamente pulsante ou até mesmo do som luminoso da pop dos anos 80. “São as canções mais honestas e verdadeiras que já escrevi,” confessa Isaura no comunicado que deu conta da chegada do sucessor de Human, cuja apresentação ao vivo se vai materializar no palco do Musicbox, dia 21 de Abril.


[Navy Blue] Ways of Knowing

“Chosen” bastou para antecipar duas grandes novidades relativas a Navy Blue: o single veio anunciar Ways of Knowing, o novo longa-duração do rapper e produtor de Los Angeles — desta vez, editado pela imponente Def Jam. Com o londrino Budgie inteiramente a cargo da produção, o MC sediado em Nova Iorque concentrou-se na escrita para aprofundar a sua história familiar — com o seu avô em evidência —, permitindo-se a ir além do seu registo tão característico para seguir mais longe na entrega da sua sempre notável poesia.


[Rosalía & Rauw Alejandro] RR

Como quem crava iniciais e um coração numa árvore, Rosalía e Rauw Alejandro dedicam besos e promesas em RR, um conjunto de três canções em que dois agora noivos se entregam um ao outro por entre o ritmo alucinante que a vida de estrela pop (mais de um do que do outro) implica. Haja, ainda, tempo para namorar e, se possível, cantar sobre isso.


[Benny Sings] Young Hearts

Depois da confirmação do regresso a Portugal — desta vez, com actuação agendada para o segundo dia do próximo Super Bock Super Rock —, Benny Sings apresenta o seu novo trabalho, desta feita completo: Young Hearts, já parcialmente desvendado — com produção integral de Kenny Beats e participações (registadas e implícitas) de Remi Wolf —, vê-se agora revelado na íntegra, bem a tempo da recém-aparecida Primavera.


[Yaya Bey] Exodus the North Star

O semblante é o mesmo, mas mais de perfil do que de retrato. Exodus the North Star é, na figura de Yaya Bey, uma outra face de Remember Your North Star (um disco que, por aqui, foi dos mais bem recebidos pela redacção da casa no último ano). Daí que o rasto de luz nos guie pela mesma direcção, agora com menos pontos luminosos — mas igualmente cintilantes —, todos eles, juntos, suficientes para quem ainda andava meio perdido por estas coordenadas.


[Hit-Boy] SURF OR DROWN

Os avanços de SURF OR DROWN já vinham a ser feitos de há uns bons meses para cá. Mas a estratégia de Hit-Boy foi mesmo a de guardar o melhor, a nata da nata, para o fim: o encontro com The Alchemist em “Slipping Into Darkness” — com direito a versos de ambos os produtores — ganhou entrada directa nos livros da história do hip hop, e a última novidade antes da apresentação oficial do disco — “The Tide”, com a participação de Nas — voltou a juntar os dois protagonistas da saga King’s Disease. De resto, é ver um artista (mais convidados) a rimar tão bem quanto produz.


[9 Miller & Mizzy Miles] SAY GOODNIGHT TO THE BAD GUYS

Wappa / Frozen” abriu um precedente aliciante para o que poderia resultar de uma sessão de estúdio entre Mizzy Miles e 9 Miller. SAY GOODNIGHT TO THE BAD GUYS surge, então, como uma amostra compacta do que ambos conseguem fazer juntos: beats capazes de soltar facilmente a coluna vertebral, e versos à imagem e semelhança de Mauro Passinhas — uma conexão que funciona especialmente bem quando as rimas por minuto aceleram à boleia dos BPMs mais vertiginosos.


[Spectacular Diagnostics] Raw Lessons

Gostávamos de ter dado com a sua música há mais tempo, mas há um ditado que nos relembra sempre que “mais vale tarde do que nunca.” Numa breve análise ao catálogo de Spectacular Diagnostics, encontramos edições passadas em que recebeu convidados do mais alto calibre no que a liricismo rap diz respeito, de Quelle Chris e Milo a billy woods ou ANKLHJOHN. Nesse sempre interessante jogo do Quem é Quem?, também o seu mais recente Raw Lessons tem uma palavra a dizer, aproximando-se particularmente daquela que é a camada mais undergound do hip hop do Reino Unido: Sonnyjim, CLBRKS, Lee Scott, King Kashmere ou Bisk são alguns dos MCs que tomam de assalto os instrumentais cozinhados pelo beatmaker de Chicago.


[Angel Bat Dawid] Requiem for Jazz

Angel Bat Dawid é professora, cantora, clarinetista, compositora e um dos principais nomes a fazer agitar as águas do inventivo jazz com que a International Anthem nos tem brindado. Inspirado num filme de Edward O. Bland, The Cry of Jazz (1959), o seu novo disco nasce do esforço de uma equipa que incluiu mais de duas dezenas de criativos e desafia a nossa escuta ao ponto de nos transportar para terrenos nada óbvios dentro do género que representa, encontrando pontos de ligação com a música clássica ou com a electrónica. São 24 temas para digerir com calma e, caso necessitem de algumas coordenadas adicionais para vos ajudar a situar, vale a pena estarem atentos a estas mesmas páginas, com a promessa de que a entrevista a Angel Bat Dawid em torno deste Requiem for Jazz aterrará por cá dentro de breve.


[ICECOLDBISHOP] GENERATIONAL CURSE

Single a single, ICECOLDBISHOP vinha a tornar-se num dos nomes mais promissores dentro de uma nova geração de rappers, ao ponto de lhe choverem convites para integrar temas de colegas de considerada exposição mediática, como são os casos de Ab-Soul, Boldy James & The Alchemist, REASON, Take a Daytrip ou AG Club. Hoje, o prolífico artista de Los Angeles atinge um importante marco na carreira ao fazer deste GENERATIONAL CURSE o seu primeiro disco de sempre, feito que celebra sozinho, já que não regista quaisquer convidados para o ajudar a soltar confetis sob a forma de versos. Na lista de créditos, Kenny Beats, Mr. Carmack e Take a Daytrip são os produtores mais sonantes entre os doadores de batidas.


[Ben Sloan] Muted Colors

The National, Moses Sumney, WHY? ou Rozi Plain: nenhum deles entra em Muted Colors mas é tudo gente com quem Ben Sloan tem vindo a colaborar ao longo das duas décadas que antecederam a sua estreia a solo. Os dotes criativos do baterista, percussionista e artista visual de Denver, Colorado, chegam, por isso, já bem maturados a este seu primeiro álbum, hoje selado pela New Amsterdam Records. E dados os instrumentos aos quais mais se tem ligado, a questão rítmica acaba por assumir uma dose adicional de protagonismo ao longo das suas 10 canções, que exploram diferentes territórios ao nível estético — “Too much internet”, que tem cravados versos de Serengeti, atinge uma camada mais nauseabunda do drum & bass; “Calm loop”, com voz de Felicia Douglas, abraça a folk numa abordagem electrónica; já “Rushed”, por exemplo, soa àquele novo jazz beat-based que tem feito escorrer tinta por estas páginas.

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