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Publicado a: 18/09/2018

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[TEXTO] Moisés Regalado

FREE 6LACK chegou em 2016 e poucos meses bastaram para que o músico amador ascendesse na escala da notoriedade musical americana com uma rapidez que poucos julgariam possível. Não que a sua música não apresentasse suficientes sinais de qualidade, só que o cenário que se seguiu não seria sequer uma hipótese, tendo em conta a irrelevância de 6LACK até então. O apoio da gigante Interscope não terá sido alheio ao sucesso do músico de Atlanta, que, ainda assim, merece receber os “props” por inteiro.

A força do trap, como música e movimento, está também no papel que tem desempenhado em simultâneo pelo rap e r&b, servindo de nave-mãe aos dois estilos em medidas iguais, mais até do que o saudoso boom bap que tantas vezes alimentou o rhythm and blues contemporâneo com samples e tarolas vincadas. Só que o outro lado da questão também se faz sentir e é cada vez mais difícil distinguir os rappers dos cantores — que, por sua vez, se assemelham assustadoramente entre si.

Claro que há rappers e rappers, desde Immortal Technique a Super Shor, e cantores para todos os gostos e feitios, mas, pelo menos ao lado de 6LACK, os maiores representantes desta nova escola “híbrida” parecem viver demasiado perto das órbitas dos Scotts, Lanezs e Tillers desta vida. O papel de 6LACK não é clarificar ou encerrar qualquer uma dessas questões, sendo até pouco provável que haja um interesse real em vê-las respondidas, só que vale a pena apresentá-lo em perspectiva e por comparação a referências maiores.

6LACK consegue ser, em todos os momentos das suas canções, tão genuíno como SiR, tão genial e adaptado como TYuS ou PARTYNEXTDOOR e tão descomplexado e afiado como Evidence, mas é impossível comparar o seu produto final com o de qualquer artista no seu (ou no nosso) raio de acção. “Nonchalant”, single que já dispensa apresentações, prova uma vez mais que é no espectro da simplicidade que se constroem as frases e, portanto, os flows mais memoráveis.

Antes de lá chegar, é obrigatório passar pela excelência de “Let Her Go” ou “Switch”, ouvir os instrumentais com a mesma atenção que normalmente se dedica apenas à voz e dissecar aquela que é, muito provavelmente, a melhor lista de convidados do ano — e, seguramente, a mais sólida (Future, J. Cole, Offset e Khalid). Não significa isso que o painel de convidados seja suficiente para retirar o brilho da fonte certa — na verdade, Offset ficou até uns furos abaixo do expectável. J. Cole foi, como não podia deixar de ser, o que gritou presente mais alto.

Há sensivelmente dois anos, o singleLoyal” serviu de gatilho — e talvez o disparo tenha sido acidental. Assim que 6LACK disponibilizou o tema no SoundCloud, a página EscapeTracks tratou de, no mesmo dia, divulgar a faixa no seu canal de YouTube, e foi a partir daí que a maior parte do público deu de caras com o artista pela primeira vez. East Atlanta Love Letter não surpreende da mesma maneira, mas garante que este é um artista distinto na cronologia recente do hip hop mundial. O segundo disco de 6LACK não será o álbum do ano, é certo, só que o multifacetado artista já é a confirmação de 2018.

 


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