Seja pop, R&B ou electrónica: os seis lançamentos que hoje decidimos destacar em mais uma Sexta-feira farta vão a todo o lado sem nunca perder o hip hop como coordenada de referência. De forma mais clássica ou mais iventiva, não faltam rimas e batidas para vos ajudar a manterem-se animados durante o fim-de-semana aí à porta.
Após horas de navegação por entre os lançamentos que se vão fazendo sentir à volta do globo, acusaram também no radar do ReB os trabalhos assinados por Azymuth (Luisa), Crizin da Z.O. (ACLR+6), Dream Boyz (Mais Uma Vez), Deize Tigrona (NÓS É FIRME, NÃO É CREME), MC Kevin o Chris (VoltMix), Raekwon (The Emperor’s New Clothes), Sly and The Family Stone (The First Family: Live at Winchester Cathedral 1967), Joyner Lucas (ADHD 2), Sainté (4L), Anycia & DJ Drama (Grady Baby), Two Shell (Iicons), $ilkMoney (Who Waters the Wilting Giving Tree Once the Leaves Dry Up and Fruits No Longer Bear?), sake.madara (GOES WITHOUT SAYING), Silent Titan (Dream State), J Balvin (Mixteip), Farah Audhali & Blue Lab Beats (Time’s Up), Myke Towers (ISLAND BOYZ), Slikback (Attrition), Algee Smith (Love Lost), Loe Shimmy (Rockstar Junkie), Earth Sounds Now (Convergence), Lord Huron (The Cosmic Selector Vol. 1), Zac Farro (Operator), GELO (League Of My Own), Sofia Ly (Are You Berd Yet?), Kiln (Lemon Borealis), Che (Rest in Bass), Forth Wanderers (The Longer This Goes On), Jess Ribeiro (Mixtape), MDJ! (purple hearts starter pack), Natalie Bergman (My Home Is Not In This World), Sofie Birch & Antonina Nowacka (Hiraeth), Disiniblud (Disiniblud) e Ace Hood (S.O.U.L.).
[Jim Legxacy] black british music (2025)
Hip hop, afrobeats, R&B, indie rock, punk, pop… O novo álbum de Jim Legxacy tem tudo o que podem imaginar e reflecte bem o carácter camaleónico que o artista inglês sempre procurou colar à sua persona musical. black british music (2025) retrata a experiência negra britânica com uma abordagem pessoal e experimental ao longo de 15 faixas, navegando por entre temas como luto pela morte da sua irmã, a sua ascensão no mercado ou até questões de identidade, combinando letras que parecem páginas rasgadas de um diário com uma produção inovadora. Entre o vestir as peles de um “new david bowie” ou de um “’06 wayne rooney”, Legxacy mostra versatilidade enquanto transita por entre batidas caóticas e paisagens sonoras mais contemplativas, contando com colaborações de nomes como Dave e Fimiguerrero pelo meio. Depois da bela estreia em 2023 com homeless n*gga pop music, o rapper e produtor pinta neste seu mais recente registo um retrato fiel daquilo que é a música negra britânica contemporânea.
[DJ Haram] Beside Myself
DJ Haram já aí anda desde o final da década transacta e tem estado especialmente próxima de gente como billy woods ou Moor Mother (esta última com quem divide a dupla 700 Bliss). Alquimista capaz de inovar na criação de poções sonoras que incentivam à dança nas pistas, estreou-se hoje em nome próprio com Beside Myself, onde recebe o carimbo da prestigiada Hyperdub, do veterano inglês Kode9. Neste LP, a DJ e produtora de Brooklyn faz o que melhor sabe: desconstrói as linguagens musicais da clubbing scene da forma mais tenebrosa possível, lançando trevas e provocando claustrofobia por entre géneros como a bass music, o footwork, o breakbeat ou cadências de baile global, com especial influência de ritmos do Médio Oriente. Moor Mother, Armand Hammer, BbyMutha, Aquiles Navarro ou August Fanon surgem por entre o alinhamento para a ajudar nesta importante missão de desbravar terreno na cena rave.
[Sam The Kid] Caixa de Ritmos 3
A linguagem pode ser de “ontem”, mas o feeling é intemporal. Sam The Kid mostra que continua a ter o toque de Midas sempre que pressiona os pads da sua MPC e volta com um novo capítulo instrumental na sua longa e prestigiada carreira, que teve o primeiro fruto neste formato há já mais de 20 anos com o mágico Beats Vol. 1: Amor, de 2002, que terá as suas primeiras apresentações ao vivo precisamente este ano — em Lisboa e Porto. Após essa saga — que, até ver, começou e findou ali —, a sua relação com a edição de beats tem tido outras ramificações, tanto através da partilha das versões instrumentais de produções suas já usadas por outros artistas, como pelo lançamento de material inédito através da série Caixa de Ritmos, que chega hoje ao seu terceiro capítulo, um dia após o 46º aniversário do MC e beatmaker de Chelas. Influências de soul, R&B, jazz ou até g-funk estão na ordem do dia desta colectânea orquestrada pelo Madlib que Portugal merece ter.
[Cleo Reed] Cuntry
Cleo Reed, atira-se ao segundo longa-duração de forma brilhante, fundindo folk, rap e electrónica numa crítica ao estado actual da sociedade norte-americana, tendo como principais focos a classe trabalhadora e as comunidades negras e queer. Dividido em 14 temas, Cuntry mergulha nas raízes sonoras do sul dos EUA através de uma abordagem renovada, com algumas batidas mais abrasivas e muitas letras afiadas. Temas como exploração laboral, autonomia corporal e herança cultural são explorados em diversas faixas, servidas com uma estética que cruza minimalismo acústico com caos electrónico num manifesto sonoro que é tanto íntimo quanto político. O nome de billy woods destaca-se por entre a tracklist e “Strike” oferece-nos mais uma boa dose de rimas corrosivas por parte do incansável maratonista lírico de Nova Iorque.
[Benny The Butcher] Summertime Butch 2
Lançado há um ano, Summertime Butch parecia apenas mais uma peça para Benny The Butcher “encher” o seu já vasto catálogo. Mas o MC da Griselda e também mentor da Black Soprano Family decidiu meter várias mudanças acima para o segundo volume, editado há um par de dias. Summertime Butch 2 tem mais faixas, mais minutos de rotação, uma sonoridade mais cativante, versos mais bem trabalhados e também um elenco muito mais apetecível, bem mais alinhado com o que já nos tinha dado em Maio passado, Excelsior, um outro projecto em que se apresentou num bom nível. Westside Gunn, Daringer, Mike WiLL Made-It, Bun B ou G Herbo são participações de peso convocadas para este Summertime Butch 2.
[Garrett Sparrow] RAMBO
Nos últimos anos, Garrett Sparrow tem despontado nos terrenos da indie pop e do R&B alternativo com uma proposta musical que vai beber muita da sua influência a nomes que ajudaram a trazer o hip hop para esses lados do espectro. BROCKHAMPTON será certamente um dos projectos nos quais o jovem de Charlotte, Carolina do Norte, se inspirou, mas a estética que mais parece querer emular neste RAMBO é a da versão mais floral de Tyler, The Creator. Sem reinventar a roda, proporciona-nos um momento de frescura pelo caminho menos óbvio que escolheu face aos seus pares neste primeiro álbum, alcançando brilharetes como “SOFTIE”, “BOYFRIEND” ou “EGO” por entre o alinhamento. E se o produtor final de RAMBO já é tão certeiro, mal podemos esperar pelos próximos passos.