pub

Texto: ReB Team
Fotografia: António Pedro Santos
Publicado a: 10/03/2023

Seis discos à cabeça.

Sexta-feira farta: novos trabalhos de EU.CLIDES, Nia Archives, Fever Ray ou Conway the Machine & Jae Skeese

Texto: ReB Team
Fotografia: António Pedro Santos
Publicado a: 10/03/2023

A arte de fazer abanar a cabeça, simultaneamente, por dentro e por fora não é, definitivamente, para todos. E nem tem que ser. Mas há quem o faça com especial destreza e particular encanto — casos de, hoje em evidência, EU.CLIDES, Nia Archives ou Conway the Machine & Jae Skeese. Nos demais — designadamente, Fever Ray (com uma mãozinha  e fudida de Nídia), Tó Trips ou Lonnie Holley —, a experiência ganha contornos ainda mais esotéricos, que levam a cabeça não a abanar, mas a levitar.

Para a música portuguesa, o dia foi especialmente movimentado e as propostas estendem-se a Azar Azar (a entrevista em torno de Cosmic Drops foi lançada por cá esta manhã), Subtil (C’auge), Félix Gambino (Pedrouços Clandestino), O Vampiro Submarino (Tempo Para Nada) e Dispirited Spirits (The Redshift Blues). De além-fronteiras chegaram-nos ainda discos de Lessa Gustavo (Almojanta), Fatima al Qadiri (Gumar EP), Scree (Jasmine On A Night In July), Shana Cleveland (Manzanita), Sleaford Mods (UK GRIM), Jane Bunnett and Maqueque (Playing With Fire), Ali Farka Touré (Voyageur), EBK Young Joc (Hotboiiz: 4L), Rarelyalways (WORK), Blxst (Just For Clarity 2), Bryce Vine (Serotonin), G Perico & DJ Drama (Hot Shot: Gangsta Grillz), Holly Waxwing (The New Pastoral), JUNE! (Smiles Of The Sun) e Musiq Soulchild & Hit-Boy (Victims & Villains).


[EU.CLIDES] DECLIVE

Para EU.CLIDES, DECLIVE representa um primeiro grande salto de fé na sua própria causa. Para alguém que se viu embrenhado na música desde que se lembra, o amadurecimento artístico tem respeitado o devido tempo — e nem uma distinção precoce, mas merecida, nos Prémios PLAY o fez perder pulso ao seu ritmo. Ritmo é, aliás, o condimento diferenciador deste seu álbum de estreia, que tem Pedro da Linha por detrás desse tempero exótico e Tota na escrita premente. Do salto à queda livre com toda uma vida a acontecer pelo meio.


[Nia Archives] Sunrise Bang Ur Head Against Tha Wall

A versão drum and bass de “Baianá” — revelada ainda em 2022 — promete, à partida, ser igualmente irresistível, mas há mais do que samba reinventado no novo trabalho de Nia Archvies. Em Sunrise Bang Ur Head Against Tha Wall, a DJ e produtora britânica compila num EP temas inéditos e outros já revelados que seguem a mesma tendência: a de contra-balançar as mais aceleradas batidas com elementos soul na sua voz, com uma elasticidade impressionante. 


[Fever Ray] Radical Romantics

A ideia de música feita a partir do Vale da Amoreira acabar editada na Suécia seria há umas décadas, radicalmente romântica. Hoje, graças às já-não-assim-tão-novas tecnologias, a criação não conhece fronteiras. Ainda para mais quando uma instituição da dimensão e importância como as da Rolling Stone inclui um disco entre os melhores desse ano — designadamente, Nídia é má, Nídia é fudida, da própria. Agora, Nídia vê o seu nome figurar nos créditos de Radical Romantics, novo trabalho de Fever Ray, com quem a DJ e produtora portuguesa já havia colaborado — em “IDK About you”, uma das melhores canções de 2017 para a Pitchfork. Em “Looking For a Ghost”, o casamento artístico revela-se, mais uma vez, perfeito.


[Conway the Machine & Jae Skeese] Pain Provided Profit

A época de 2023 para Conway the Machine está oficialmente aberta: Pain Provided Profit (que, num seguimento lógico, bem podia ser uma sequela de $oul $old $eparately de Freddie Gibbs) inaugura o ano editorial da Drumwork Music, com o cabecilha a recrutar Jae Skeese (um dos nomes que trouxe consigo para a estreia em Lisboa) para dividir versos em sete temas, num trabalho à mais fiel imagem e semelhança de um dos atiradores mais furtivos que Buffalo criou.


[Tó Trips] Popular Jaguar

Geralmente acompanhado, mas pontualmente sozinho, Tó Trips continua a sua longa e rica jornada em Popular Jaguar. Depois de se juntar a João Doce, Gonçalo Prazeres e Gonçalo Leonardo para editar o primeiro trabalho do conjunto Club Makumba, o guitarrista volta aos discos a solo no ano em que os Dead Combo — duo que dividiu desde 2003 com o falecido contrabaixista Pedro Gonçalves — completariam duas décadas. De Jaguar na mão, o guitarrista felino percorre aqui uma multiplicidade de paisagens que o marcaram ao longo de uma carreira singular na música portuguesa.


[Lonnie Holley] Oh Me Oh My

De onde vem a profundidade despretensiosa de Oh Me Oh My? A história de Lonnie Holley é um bom ponto de partida. Nascido no Alabama da década de 50, não teve direito nem a lar nem a infância. Encontrou, por isso, abrigo na expressão artística, da pintura à escultura e da fotografia à música — guiando-se pelo mapa em branco da improvisação. Até chegar a Oh Me Oh My, deixou pegada nas mais variadas formas de arte, daí que o mais recente volume da sua obra discográfica vá muito para lá daquilo que entendemos por música; um trabalho que se faz ouvir de um âmago obscuro para um universo raiado. 

pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos