Por esta altura, já devem ter dado conta do lançamento de Trovador, o muito aguardado álbum de estreia de Ivandro, que tem estado em destaque por cá através de uma longa e reveladora entrevista conduzida por João Marques. Mas esta sexta-feira veio bem carregada de novo material musical e nesta nossa habitual rubrica de final de semana podem encontrar mais 10 sugestões para escutarem ao longo dos próximos dias, num claro domínio dos artistas da esfera nacional.
Se não vos chegar e quiserem vasculhar ainda mais a fundo por entre esse mar de edições, devem também ter em conta os discos hoje lançados por el Amukinado (THE TIME WIZARD), IDLES (TANGK), Omni (Souvenir), Quadeca (SCRAPYARD), Molly Lewis (On the Lips), Les Amazones d’Afrique (Musow Danse), Mari Montana (Sincerely, Montana), Nafe Smallz (Ticket To The Moon), Black Art Jazz Collective (Truth to Power), Chromeo (Adult Contemporary), Nathalie Joachim (Ki moun ou ye) e Booter Bee (True Stories).
[Dillaz] O Próprio
Prestes a consagrar a sua carreira com os primeiros concertos em nome próprio nos coliseus — Lisboa no dia 1, e Porto a 15 de Março — Dillaz oferece aos fãs um novo álbum, menos de dois anos após Oitavo Céu. São 16 faixas que incluem participações de Zeca, Tiwi, Plutonio e Julinho KSD. Com uma forte componente narrativa e autobiográfica e um pé na tradição hip hop e outro numa linguagem mais contemporânea (dos ritmos latinos do single “Colãs” às percussões trap, passando pelo auto-tune presente um pouco por todo o disco), esta é mais uma peça que contribui para o imaginário mitológico de um dos rappers mais marcantes e populares do país na última década.
[Ricardo Martins] Distraimento
Se vem selado pela Revolve, sabemos à partida que temos em mãos uma proposta discográfica que se compromete a desbravar novos terrenos. Assim é Distraimento, o novo álbum a solo do incansável baterista e cientista sonoro Ricardo Martins, conotado com um certo industrialismo rock e muita experimentação de electrónica e sound design. São 7 faixas de interpretação livre esculpidas apenas com recurso a uma bateria apetrechada de triggers, sensores e ferramentas de modulação.
[Eddie Pipocas] Pipocar
O angolano Eddie Pipocas, fundador da revista Bantumen, desvenda o seu lado artístico com um álbum de estreia dedicado aos beats lo-fi. Com influências do jazz, hip hop, R&B ou gospel, a ideia é que sejam instrumentais que possam inspirar os ouvintes, acompanhar tardes produtiva de trabalho ou estudo, ou que sirvam simplesmente para relaxar. Entre as 13 faixas, há espaço para colaborações com Mistah Isaac; King Reapa e Luzingo Monimambo, com quem forma o colectivo Matumbeats.
[serpentwithfeet] GRIP
Neste disco de soul e R&B contemporâneo, de produção arrojada e com um pulsar pop, serpentwithfeet explora os pequenos detalhes românticos de uma relação: os gestos ternurentos e subtis que unem duas pessoas — neste caso, dois homens — e que constituem a verdadeira intimidade; mas também explora momentos mais eróticos. De instrumentais sedosos que evocam uma certa luxúria até à carga mais hip hop que embebe o disco de alguma energia digital. Mick Jenkins, Ty Dolla $ign, Orion Sun e Yanga YaYa foram os convidados para adornar este GRIP.
[Tape Junk & Pedro Branco] Bolero
Editado pela Discos Submarinos, este é o álbum conjunto entre Tape Junk, projecto do baterista João Correia que tem vindo a explorar um indie rock com influências que vão da folk à soul; e Pedro Branco, guitarrista ligado ao universo jazzístico mas que tem aberto os seus horizontes musicais em inúmeros e distintos projectos. O resultado é Bolero, um trabalho de indie folk baseado em histórias reais que se desdobram por uma dúzia de faixas.
[João Pestana] Cuidado Com as Companhias
Mais um disco do reduto underground de João Pestana. Na capa lê-se “Se o rap é união… Cuidado com as Companhias” e o rapper vem naturalmente bem acompanhado de uma série de nomes — produtores e MCs — que constituem esta vaga subterrânea do hip hop tuga. Vácuo, Mura, NOIATT, Trafulha, RakimBadu, Animalio, Geta ou Run APC são alguns dos convocados em mais uma missão ao serviço do rap.
[Parker & bedhop] REFORMA EP
Do noise à música de dança, bedhop produziu quatro beats eclécticos que servem as rimas imaginativas de Parker. Mais um tijolo nas muitas paredes que formam o underground do rap português, e desta vez a adicionar tons diferentes à cada vez maior palete de cores. Os temas foram criados ainda em 2022, tempo suficiente para que bedhop quase se reformasse das lides da produção e para que Parker ficasse de baixa do rap, como aludem na capa do disco. Felizmente, recuperaram este projecto para regressarem ao activo.
[mokina & Jeremy Lachance] 3 músicas escritas em Londres
Não é fácil resistir ao canto de uma sereia, ainda para mais se este vier embalado por uma corrente de águas quentes num qualquer cenário tropical. Apesar de se tratarem de 3 músicas escritas em Londres, é mais ou menos este o quadro que mokina nos pinta num novo EP colaborativo com o também multi-instrumentista Jeremy Lachance, repleto de texturas exóticas e batidas desaceleradas.
[Mike LeDonne Groover Quartet & Gospel Choir] Wonderful
Aos 67 anos, Mike LeDonne é um dos mais consagrados organistas em actividade no circuito do jazz, tendo tocado ao lado de grandes nomes ao longo de um notável percurso, com Milt Jackson, Lou Donaldson, Sonny Rollins ou Dizzy Gillespie à cabeça. Num novo LP a solo, o músico de Bridgeport, Connecticut, abraça o som do lendário órgão Hammond B-3 e atira-se a composições de lendas como John Coltrane, bem como algumas originais, num total de 8 faixas. O seu Groover Quartet e o Gospel Choir acompanham-no nesta viagem com sabor a clássico.
[Heems & Lapgan] Lafandar
Um regresso há muito aguardado. O último disco em que pudemos escutar Heems foi já em 2017, quando o rapper americano de ascendência indiana esteve ao lado de Riz Ahmed em Sufi La, assinado pela dupla Swet Shop Boys. Desta vez, o artista que também fez parte dos Das Racist vem acompanhado pelo produtor de Chicago Lapgan num disco editado através de uma parceria entre a Veena Sounds e a Mass Appeal India. Lafandar é um disco de art rap composto por 12 temas e conta com vários convidados de peso, desde os norte-americanos Your Old Droog, Quelle Chris e Kool Keith aos britânicos Lee Scott e Sonnyjim.