Vira o disco e nunca toca o mesmo, tal é a variedade musical que o final de cada semana nos traz no menu. Hoje em destaque está um renovado conceito de R&B que vai beber inspiração a fontes menos óbvias, mas também um par de distintos registos de rap, onde talentos emergentes e nomes de estatuto lendário vivem em perfeita harmonia — e cada um com os seus trunfos.
São seis os discos que abordamos mais ao detalhe nos parágrafos seguintes, mas não se esqueçam que ainda há por aí outras propostas de DJ K (Radio Libertadora!), Ravi Landim (Fluxo), Kweller & NAVII (Entre Amores & Bailes), Gino Mondana & Fivio Foreign (Movie Theater Music), Skillibeng (International), Mozzy (Intrusive Thoughts 2), Ethel Cain (Willoughby Tucker, I’ll Always Love You), Sasha Keable (act right), Luck (It Wasn’t Luck The LP), Isaia Huron (CONCUBANIA), Gunna (The Last Wun), Lew Apollo (Fool’s Gold), John McLaughlin & The 4th Dimension (Live at Montreux Jazz Festival 2022), Mechatok (Wide Awake), Tom Gershwin (Wellspring), Kaash Paige (KAASHMYCHECKS), iyla (WEEPING ANGEL), Young Nudy (PARADISE), Big Freedia (Pressing Onward) e Vários Artistas (Stax Revue: Live In ’65!).
[Amaarae] BLACK STAR
Amaarae recolhe as cartas da mesa, baralha tudo e volta a dar jogo com as suas próprias regras. A artista ganesa-americana propõe uma celebração da cultura negra no seu mais recente disco, BLACK STAR, no qual troca as voltas a uma panóplia de géneros musicais — do amapiano e do highlige ao trap, baile funk e até house. Entre produções de nomes não tão óbvios como El Guincho e WondaGurl, a cantora reflecte sobre temas como luxúria ou melancolia e cruza os seus versos com os de PinkPantheress e Charlie Wilson, dois dos convidados presentes no sucessor de Fountain Baby (2023).
[JID] God Does Like Ugly
O novo álbum de JID, God Does Like Ugly, chega três anos após The Forever Story e dá continuidade à mesma narrativa lírica intensa que explora temas como identidade, comunidade e as complexidades da vida em Atlanta. Com 15 faixas (e uma adicional, “Sun”, prevista para chegar na próxima segunda-feira, 11 de Agosto), o longa-duração recorre a produções de gente como Childish Major, Thundercat, CuBeatz, Vinylz e Boi-1da, além de registar colaborações com várias figuras de renome, como Westside Gunn, Clipse, Vince Staples, 6LACK, Don Toliver e muitos outros.
[DJ Premier & Roc Marciano] The Coldest Profession
The Coldest Profession inicia com um pedaço de lore, com DJ Premier a explicar, ao longo de quase meio minuto em “Arrival”, quando conheceu Roc Marciano pela primeira vez na secção da Armani num centro comercial, onde a ideia de formular um trabalho colaborativo foi logo sugerida pelo rapper. As verdadeiras cenas de acção deste filme começam, por isso, com “Armani Section”, a segunda faixa do alinhamento, à qual depois se seguem mais seis malhas de rap com sabor a artesanato. São cerca de 20 minutos de um projecto que, enfim, reune duas lendas vivas do hip hop, no qual as batidas de Preemo são quase como fatos de designer feitos à medida para o luxuoso braggadocious do MC de Nova Iorque.
[Jenevieve] CRYSALIS
Com o seu habitual braço-direito de operações discográficas, Elijah Gabor, ao lado, Jenevieve partiu para a concepção do segundo álbum, CRYSALIS, quatro anos depois de se ter afirmado como uma voz pronta a ditar caminhos alternativos para o R&B em Division. Nestas novas 14 canções, a artista norte-americana aplica uma visão modernizada a estéticas vintage menos usuais nos dias que correm e inspira-se nos seus mais recentes anos de vida para descoser versos sobre amor ou sobre a sua afirmação artística num mercado muitas vezes impiedoso.
[Craig David] Commitment
O momento é perfeito. 25 anos depois do seu álbum de estreia, Born To Do It, e numa altura em que a sonoridade do UK garage atravessa uma espécie de renascimento, Craig David mostra que os veteranos ainda têm uma palavra a dizer no presente. As batidas aceleradas que tanta personalidade dão à cena urbana inglesa são um dos principais trunfos do cantor neste Commitment, mas a sua abordagem crooner não fica de lado e dá origem a algumas baladas menos arrojadas por entre o alinhamento de 13 músicas. Folk, eurodance e afrobeats são mais alguns dos condimentos que dão sabor a este prato.
[Deekapz] Deekapz FM
Após vários anos a lançar fogo para as pistas de dança com alguns dos grooves mais quentes com sabor a Brasil, os Deekapz, de Matheus Henrique e Paulo Vitor, chegaram hoje ao primeiro álbum, Deekapz FM. Pela tracklist de 14 entradas, o par traz-nos versões aprimoradas de uma estética que já tinha dado provas de ser infalível — a de uma electrónica com eixo na cultura baile funk, traços modernos de R&B e ouvidos abertos para o mundo inteiro, recolhendo influências tanto do Reino Unido como de Chicago ou da Nigéria. E são muitas as vozes que dão mais vida às produções da dupla: Criolo, Tuyo, Nill e Clara Lima sobressaem pela longa lista de features.