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Jenevieve

Division

Joyface Records / 2021

Texto de Miguel Santos

Publicado a: 11/10/2021

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Em “Midnight Charm”, ouvimos Jenevieve declarar com certeza, “Your beauty is contagious”, com uma energia pura, felicidade fruto da paixão que a artista norte-americana ostenta. É essa sensação que nos faz gravitar para a sua música. É contagiante a facilidade com que entoa notas com destreza vocal, encorajando os solistas de chuveiro a mostrar a sua melhor imitação de um cantor lírico. Division, álbum que a apresenta oficialmente ao mundo, é uma amostra do seu alcance. Navegando entre os vários tons de r&b e neo-soul, a artista sediada em Los Angeles mostra que a sua música pode vir a ser bastante contagiante.

Benziboy é o seu parceiro nesta aventura e nota-se uma sinergia entre as suas batidas e a voz calorosa de Jenevieve, que não esconde as influências que tem dos artistas do passado, notando-se uma sonoridade vintage em temas como a libertadora “No Sympathy” ou na gingada faixa-título. Mas está bem sediada no presente, como demonstram a psicadélica “Eternal” ou na “Mellow Eyes”, banger meloso sobre o dono de uns olhos irresistíveis, que revela o carácter distinto que a escrita de Jenevieve tem. Quando a ouvimos convidar suavemente “Baby, come on lean back/And evaporate”, é impossível resistir ao seu encanto vocal. 

Há uma personalidade marcadamente sua que transparece nas palavras que Jenevieve escolhe, calculista sem nunca esconder o seu lado mais emocional, e utilizando-o para trazer ao de cima o melhor das suas composições. Division incide sobre os amores e desamores da sua autora, com várias maneiras de olhar para as relações que teve. Mas não deixam de ser maioritariamente sobre a mesma temática, e os temas acabam por se fundir entre si ao fim de algumas audições, perdendo algum do seu valor. Aliado a isso está uma maturidade incompleta das músicas. Temas como “Medallion” ou até mesmo a mais progressiva “Midnight Charm” soam incompletas, músicas verdes colhidas antes do seu tempo. 

“Crybaby” fecha o álbum com pujança que soa a épica sem nunca de facto o comprovar. Parece arrebatar-nos com o seu sentimento de portão imponente e acaba por fechar o álbum com a intensidade de uma porta de correr. Division é uma estreia curiosa: não há nenhuma música que seja inaudível, mas também não há nenhuma música verdadeiramente extraordinária. Há temas que nos fazem ansiar pelo futuro de Jenevieve, como a viajante “Nxwhere” ou a catártica “Résumé”, e mostram-nos claramente que a história desta artista não acaba aqui. É um álbum com alguns momentos contagiantes, mas ainda não é desta que temos um novo vírus mortal da pop.


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