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Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 12/12/2020

A manter velhos costumes.

Sem Tirantes: Nero, Amon e DJ Sims estreiam-se em disco pela RAIA

Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 12/12/2020

Nero, Amon e DJ Sims formam um trio em Sem Tirantes, o mais recente trabalho a surgir no catálogo da RAIA Records.

Pouco mais de dois anos passaram desde que o projecto começou a ser desvendado. O grupo deu início à sua jornada já no final de 2018 com o lançamento do primeiro avanço, a faixa que herda o título do LP que aterrou ontem nas plataformas digitais. Já em 2020, o conjunto relembrou a vida na “Esquina“, sucedido agora por “O Meu Melhor” na lista de singles, que acompanhou a edição do disco.

“Existe muito rap sem bases ou noção alguma do que é o hip hop”, dizia-nos Nero, durante um primeiro contacto com o ReB, acerca do propósito de “Sem Tirantes”. Uma ideia que prevalece agora no álbum de estreia, em que são desferidos vários golpes para dentro da própria comunidade hip hop da actualidade, a começar pela capa que cobre as nove músicas e a estender-se pelos inúmeros versos assinados pelos dois MCs de serviço.

Sem Tirantes é, por isso, um álbum interventivo para com a própria cultura em que se insere, uma tentativa de recuperar os valores que estiveram na base da sua edificação em forma de chamada de atenção, que se aplica tanto a ouvintes como a praticantes.

O Rimas e Batidas enviou algumas perguntas aos três artistas para ficar a conhecer um pouco melhor a visão que partilham sobre o actual momento do hip hop feito em Portugal.



Conforme o Nero disse numa conversa anterior, Sem Tirantes “é uma cena raw, sem brilhos, sem merdas”. Que mais sentem que o vosso disco oferece face à actual posição em que se encontra o hip hop?

Neste disco podes encontrar barras num boom bap com aquele flavour clássico do Groove Synthdrome [o alter-ego de Amon na produção] e o toque de Midas do DJ Sims. A começar no “Intro” (que é o tipo de faixa que já não vejo aparecer na tuga aos anos) e a acabar no “Do Nada” com a participação de ORTEUM. Acima de tudo este disco tem conteúdo.

O vosso rap neste disco é bastante interventivo para com a própria cultura hip hop em Portugal. Que defeitos encontram neste momento ou o que é que sentem estar em falta?

[Risos] Neste momento há falta de muita coisa tendo em conta a situação que estamos a viver. Falta concertos e toda a interação a que estamos habituados mas isso não é só a nós que nos falta. Agora em relação à “cultura”, achamos que falta conhecimento ou a busca pelo conhecimento. Tanto nos ouvintes como nos praticantes. Também é importante ter em mente que este furo da música rap no mainstream resulta na maior parte das vezes através de ideias camufladas e honestamente confusas entre o que é respirar uma cultura contribuindo para a celebração da mesma e a utilização da linguagem estética como forma de abrangência de mercados. Por isso, sentimos que falta muito essa consciência nas pessoas de perceberem a diferença entre “o rap estar em altas” e ” a utilização do rap para estar em altas”.

A sonoridade e a escola que vocês representam tem vindo a perder terreno entre o público por cá mas, lá fora, nos EUA, Reino Unido ou Brasil, por exemplo, há ainda circuitos de boom bap bastante viáveis para os artistas. Como é que vocês olham para esta falta de adesão no nosso país?

Nós continuamos a fazer aquilo que sempre fizemos mas mais apurado ao longo dos anos. Agora, a sonoridade que fazemos tem vindo a perder terreno? Não concordamos. Porque se compararmos com a quantidade de pessoas que ouviam este estilo de som que nós fazemos há 10 anos, pode-se dizer que esse número cresceu bastante até. A questão aqui é: quais são as pessoas que ouvem o nosso “estilo” de som? Os número de ouvintes do rap em geral cresceu bastante mas não nos podemos esquecer que hoje em dia toda gente tem um acesso mais facilitado à Internet e os miúdos têm smartphones muito cedo… [Risos] É claro que toda gente ambiciona atingir o máximo possível e nós não somos excepção mas ao fim do dia “Eu vivo Hip-Hop! Faço Hip-Hop! P’ra quem sabe o que significa!”

Sentem que a RAIA pode ser a plataforma que estava em falta para o movimento e que possa vir a causar um impacto — à escala portuguesa, claro — semelhante ao que vemos na Griselda Records ou na High Focus Records, por exemplo?

Esperamos que sim e estamos todos a trabalhar para isso em várias frentes. Vão ter mais novidades em breve. Entretanto podem adquirir o EP em formato físico através da página de RAIA.


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