pub

Fotografia: Simão Costa
Publicado a: 18/04/2022

Sem pressas.

redoma + zé menos no Maus Hábitos: o grito dos que ainda querem brotar

Fotografia: Simão Costa
Publicado a: 18/04/2022

“Esta editora tem discos do caraças”. A frase que aponta à Biruta Records é da autoria de zé menos e nós subscrevemo-la: depois de Do Nada Nasce Tudo, 4400 OG e KSX2016, o selo portuense lançou o chão do parque e parte, os dois projectos que estiveram em destaque no Maus Hábitos na passada quinta-feira, 14 de Abril.

O legado está cada vez mais pesado e a fasquia nunca esteve tão alta como agora, o que tornou ainda mais curiosa a estreia de Carolina Viana e Joana Rodrigues num breve mas riquíssimo EP a quatro mãos. Enquanto redoma, a dupla esculpiu seis canções de forma descomprometida e, talvez por virem de escolas completamente opostas à do hip hop, os planos para uma edição só vieram ao cimo graças à “pressão” daqueles que lhes são próximos. Mesmo assim, parte não destoa do restante catálogo da Biruta. Antes pelo contrário — enriquece-o mais ainda. E depois dos elogios que já lhes tínhamos deixado numa das nossas páginas, faltava perceber como é que a cantora/MC e a produtora funcionavam no formato live.

Foram elas as primeiras a subir ao palco, já perto das 22 horas. À direita, Joana ditava a emissão das batidas e das diferentes camadas e texturas que compõem o universo de redoma, auxiliada por um computador portátil e dois controladores. O manuseio da maquinaria foi sempre feito com um à vontade imenso mas não foi possível evitar uma “colisão” de ondas sonoras numa das passagens entre temas. Disposta à esquerda, Carolina estava visivelmente mais nervosa, mas, simultaneamente, parecia ter o cenário todo montado na cabeça. A incerteza na postura a adoptar era colmatada com uma total segurança na voz, algumas doses de humor nos “tempos mortos” e sem nunca perder o raciocínio, até mesmo naquele momento crucial em que a cama instrumental ficou tremida por alguns segundos.

Haverá sempre arestas a limar, mas, de um modo geral, a prestação de ambas correspondeu a 100% com as expectativas que andávamos a criar há dias. Mais do que os detalhes que, por norma, se resolvem sozinhos com o tempo, a redoma faltam mais minutos de som, para que possam ambicionar em agarrar um espectáculo só seu no futuro — os 16 minutos de parte ecoaram no Maus Hábitos na sua totalidade e não houve direito a novidades. Para que não restem dúvidas: estamos de braços abertos para as ter por cá por muitos anos. Agora é tempo de deixar a flor brotar, sem grandes pressões ou exigências.



Mais experiente e pleno de certezas quanto ao futuro que quer para a sua carreira, zé menos assumiu a segunda parte do evento na companhia de Minus. O autor de o chão do parque não teve a mesma sorte de Keso e David Bruno, que ganharam asas após os respectivos clássicos que lançaram pela Biruta, mesmo tendo assinado um dos álbuns mais marcantes do ano de 2019. É difícil encontrar explicações para a discrepância que existiu na aceitação do público a estes três casos, fácil é a forma como o artista anteriormente conhecido como Kap transpõe toda a delicadeza e a mixórdia de sentimentos que vivem nesse projecto para uma performance ao vivo.

Dos instantes iniciais de mais fácil digestão — o concerto começou com “a queda, exposição” e “olhos negros” — aos derradeiros minutos de maior emoção e sofrência — o cover de “Inquietação” tornou-se numa espécie de imagem de marca do rapper e produtor —, zé menos aproveitou o regresso aos espectáculos para deixar uma mensagem aos que viram a sua sanidade mental deteriorar-se nos últimos dois anos — “estamos juntos!”, garantiu, como quem procura o seu próprio conforto em actos que emanam luz sobre os outros. Não é vergonha nenhuma que uma árvore já adulta possa sentir a necessidade de brotar uma vez mais e é, também, nestes casos que não devemos apressar a fixação de novas raízes. Do fôlego criativo que lhe veio no pós-o chão do parque já começam a cair outros frutos, como o tema inédito que soltou a meio e que foi o único não produzido por si — nascido em Gaia mas actualmente sediado em Lisboa, Pedro, o Mau foi quem ajudou o cantautor a divagar por outras sonoridades.

Num formato um pouco mais extenso, a celebração em palco dos últimos dois lançamentos da Biruta desce a Lisboa no dia 18 de Maio, com os nomes de redoma e zé menos a merecer destaque na programação do Musicbox.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos