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Publicado a: 03/11/2017

#ReBPlaylist: Outubro 2017

Publicado a: 03/11/2017

[FOTO] Hugo Domingues

Habemus playlist de Outubro. Portugal, Reino Unido e Estados Unidos da América formam uma espécie de espaço imaginário nas escolhas da redacção ReB, um paraíso em que a electrónica com sabor nórdico de Surma divide um quarto com a versatilidade de Gson ou o bragadoccio de Blasph. Noutra sala, a herança “outkastiana” dos EarthGang e a postura imperturbável de Skepta coabitam sem grandes problemas. Sejam bem-vindos à nossa casa.

 


[Surma] “Nyikia”

Outubro de 2017 marca (para sempre – claro) a estreia de Surma nos trabalhos de longa-duração. No seu todo, o disco é uma espécie de projecto megalómano no qual eu ando a pensar para quando não tiver onde gastar o dinheiro que não tenho: uma ferrovia que parte ali dos arredores de Leiria e pára definitivamente em Reiquiavique. Sempre à superfície, inclusivamente a da água. Quando estiver em funcionamento, o bilhete de primeira classe permitirá aos passageiros uma viagem lenta, confortável e envolvida numa espécie de orvalho feito com micro-fibras de algodão doce. Da zona de Leiria, o comboio parte a cerca de 40 km/hora em direcção à Suécia para o primeiro abastecimento. Lá no frio do norte da Europa, a noite é passada numa suite, antes do pouca-terra se esgueirar até Antuérpia para uma curta e programada pausa. Calma. Sempre com muita calma. Até chegar à capital da Islândia, só lindíssimas paisagens. E nem vos conto o quão bela é aventura pelas terras altas na Escócia. “Nyika”, a nona e penúltima paragem, é um sorriso rasgado. Afinal, neste comboio, o cliente poderá escolher ser despertado por um grupo ou de cães ou de gatos. E antes que me esqueça: se as auroras boreais não aparecerem, devolvemos o seu dinheiro.

– Diogo Santos


[Andrezo x Gson] “Sons de Amor”

O novo profeta da música portuguesa apontou, mais uma vez com assertividade, um dos flagelos que estaria prestes (senão andasse já por cá) a assolar o panorama das rimas: “toda a gente quer matar toda a gente”. Ora, numa altura em que duas das figuras mais mobilizadoras se digladiam mutuamente, há um newcomer-já-não-tão-newcomer-quanto-isso a fazer o seu caminho de forma consistente, sem apelo nem agravo.

Mesmo não sendo o exemplar mais fiel, “Sons de Amor” dá novamente palco a um rapper munido de rimas imprevistas, flow veloz e camadas vocais capazes de surpreender a cada verso.

Se as estatísticas não me falham, Gson tem dado voz a mais do que uma faixa nova por mês, quer em nome próprio, quer em projectos alheios. Falta pouco para fechar 2017 e já sabemos há muito que as listas de melhores do ano o contemplarão.

É ele quem dá o mote: mais amor, menos beefs.

– Samuel Pinho


[EarthGang] “Robots”

“What the fuck is wrong with me?”, questiona Doctur Dot na entrada de “Robots”, o primeiro single do EP com o mesmo título, editado em Outubro. “Maybe I’m just a machine” é a hipótese lançada como resposta. O duo sensação de Atlanta de 2017 vai fundo às emoções escondidas para contrapô-las com a frieza calculada do meio em que circulam. Não haja dúvidas: há muito rap agarrado à teia de sentimentos vazios pré-fabricados em regras impostas pelo mercado e pela sociedade americana (a tal reacção maquinal ou robótica explorada no tema). É dessa indústria que saem por vezes excepções que confirmam o facilitismo pronunciado dos seus conterrâneos. E esta canção é um desses casos. Tudo nela lhe dá o cunho de intemporalidade que atravessa uma moda passageira de mumbles: o conteúdo é desenvolvido de forma simples (não simplista) com um refrão orelhudo; a destreza dos flows ondula perfeitamente à volta do groove “grave” de um beat, que encaixa os seus diferentes elementos na temática explorada, e num cruzamento de vozes, que se equilibram tonalmente e acentuam todas as qualidades de Doctur Dot e Johnny Venus. No estilo e na criatividade encontramos semelhanças num outro saudoso duo: os Outkast. E isso é dizer muito.

– Rui Correia


[Skepta] “Still”

Violento. Selvático. Bárbaro. É assim o novo EP de Skepta que, mais uma vez, “brincou” ao Halloween com uma edição surpresa. É uma boa entrada do veterano do grime para as contas de 2017, um projecto curto mas preciso na mensagem que o Top Boy pretende fazer passar.

“Top boy for too many years and still nobody can top me
It’s me they all tryna sound like, it’s my gang they all tryna copy”

Em “Still”, Skepta fala sobre manter a forma num registo elevado, indo de encontro aos anos que já leva “disto”. É um dos pioneiros do género britânico e, ao longo da sua carreira, tem-nos sempre dado motivos para fazer dele um MC a considerar em terras de sua majestade. E o mundo dá sinais de ver isso: depois da parceria com Drake e dos convidados de luxo de Konnichiwa, A$AP Rocky e Lil B são aqueles que testam as suas capacidades ao lado de Skepta neste novo Vicious.

– Gonçalo Oliveira


[Blasph] “Incandescente” 

Flawless. Blasph dribla no beat de Keso como se nada fosse. Rapper de calibre elevado e um produtor (e MC) de alto nível juntaram-se para um single que é, sem grandes dificuldades, um dos grandes destaques de 2017. Depois de “Juros”, faixa menos conseguida em que entrega e instrumental não casaram da melhor maneira, “Incandescente” é uma chamada de atenção para os poucos que ainda duvidam da capacidade de Blasph para comandar a comitiva da Margem Sul. “Não atrofies com o Diluva, o Diluva é chefe.”

– Alexandre Ribeiro

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