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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/04/2022

À escuta do mundo.

#ReBPlaylist: Março 2022

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/04/2022

Vêm de todo o lado — Kampala, Los Angeles, Barreiro, Compton, Toronto, São Francisco, Belo Horizonte, Miami e Tallahassee — e alguns deles já nos acenaram com discos durante este primeiro trimestre de 2022, representando escolas tão distintas — como o hip hop de diferentes tradições, o rock alternativo ou a electrónica de cariz mais inventivo — todas elas parte integrante do ecossistema musical que estas páginas têm vindo a abranger ao longo dos anos.

Da nova ponte musical lusófona traçada entre Portugal e Brasil através de Minguito e MC Anjim ao revivalismo pop punk no qual os PUP se inserem, há um total de seis faixas a destacar do mês que passou por parte da equipa do Rimas e Batidas.


[Ecko Bazz] “Mmaso”

A chamada “entrada a pés juntos” seria uma forma insuficiente de descrever a porrada sonora que Ecko Bazz preparou para abrir o seu primeiro longa-duração. O beat, com produção de Debmaster (colaborador da não menos incrível MC Yallah), tem apenas duas velocidades: estonteante e supersónica, sendo que a primeira serve só para não assustar toda a gente nos primeiros segundos. O rapper, que debita as suas rimas em Luganda (língua do Uganda), pinta a vida dos bairros pobres do seu país numa cadência que não se deixa ficar no encalço do andamento da música, acrescentado aos seus já por si elevados níveis de intensidade. Agora pensem: o disco começa assim. Audição recomendada em espaços amplos, ou numa cadeira com cinto de segurança. Agarrem-se que o Ecko Bazz entra-vos pelos tímpanos dentro.

[Sunni Colón] “Universe 4 Two”

Quatro anos depois de ter mostrado ao mundo um dos mais suaves álbuns de música pop, Sunni Cólon vem largando ocasionalmente pequenas doses de açúcar sonoro para saciar quem se viciou em Satin Psicoldellic. Felizmente para Cólon, infelizmente para nós, os singles mais não fizeram do que aguçar apetites, que estavam em pontos insaciáveis — mas eis que chega o novo longa-duração JúJú & the Flowerbird, com 10 novas faixas para despistar hipoglicemias com melodias orelhudas, vozes dispersas e sussurradas em gancho, linhas de baixo bem recortadas e todos os demais ingredientes que fazem da pop algo desejável. A abrir, porque estes álbuns comecem bem logo com uma certa nudez frontal, está “UNIVERSE 4 TWO”, uma faixa hesitante no andamento, mas pulsante no ritmo e na forma clínica como usa os sintetizadores para despertar sentidos. Sensualidade sonora desavergonhada, bem à moda de Sunni Cólon.

– André Forte


[Minguito x MC Anjim] “6AM”

Na sempre complicada travessia do Atlântico, tem sido o hip hop aquele que actualmente melhor tem construído pontes entre Portugal e Brasil. A prova mais recente disso chega-nos no encontro entre Minguito e MC Anjim.

Nesta conversa em tons de trap, sobre o que acontece ou deixa de acontecer às seis da manhã, – hora de pecados, de trabalhos, de sonhos, de celebrações, de inícios e de fins de rotinas –, encontramos a ciência do refrão. Um tema rápido, eficaz, directo, mas sobretudo orelhudo, imensamente orelhudo, daqueles que cola e tudo por culpa do refrão. Diz-se por aí que Minguito promete um grande 2022, e sem dúvida que “6AM” é uma premissa de coisas boas para acontecer. Enquanto esperamos por novidades de um dos mais interessantes rappers nacionais da actualidade, vamos repetir os versos de MC Anjim — eles prometem ficar nos ouvidos durante muito tempo. 

– Luís Carvalho


[Denzel Curry] “Troubles” feat. T-Pain

“Outra vez arroz”, dirão os leitores mais assíduos da #ReBPlaylist, ao perceberem que destacamos pela segunda vez consecutiva uma música de Denzel Curry. Mas se no mês passado o rapper norte-americano nos servia sushi, desta vez estamos mais perto do arroz carolino. “Troubles”, o terceiro single do seu novo álbum, é um tema corpulento em que Curry reflecte sobre as vicissitudes da vida e os obstáculos que tem de ultrapassar.

Os ingredientes são simples: começamos com uma batida confeccionada por dois chefs instrumentais, Kenny Beats e DJ Khalil, que nos oferecem uma melodia enternecedora e epiléptica aliada a percussões rústicas e com picante agressivo. Os desabafos resolutos de Curry — polvilhados com o seu característico tom rouco e energético — são complementados por auto-tune q.b., através do rap melódico do veterano T-Pain. Tudo isto é regado com um hook tão delicioso que nem Anton Ego ficaria indiferente. E o melhor de tudo é que esta pequena refeição gourmet está ao alcance de qualquer bolso. De que estão à espera para dar umas garfadas?

– Miguel Santos


[PUP] “Totally Fine”

Muito se tem falado de uma espécie de pop punk revival no período pós-Tickets To My Downfall, disco malévolo que viu Machine Gun Kelly abandonar o mundo do hip hop para embarcar numa carreira como rockstar com a ajuda de Travis Barker, baterista dos blink-182. Seguiram-se outros a fazer o mesmo percurso: Olivia RodrigoWILLOW e até um regresso de Avril Lavigne ao estilo certificou que o pop punk, por uns momentos, era rentável ao capital outra vez e, por consequência, “fixe” novamente.

A ligação destes artistas ao ressurgimento do género não nos impede de olhar para o que outros, à margem do mainstream, fizeram de mais interessante no pop punk ao longo da década de 2010 — Joyce ManorJeff RosenstockOso Oso ou PUP são alguns dos nomes que continuaram a empurrar o estilo além do estereótipo dos quatro acordes. Os últimos, em particular, consolidaram-se como um dos grupos mais interessantes do estilo, com a trilogia de discos PUP (2014), The Dream Is Over (2016) e Morbid Stuff (2019) a apresentar-se como uma evolução da banda canadiana em todas as frentes com cada novo lançamento que apresentaram.

Terminada a trilogia, os PUP preparam-se para agora embarcar em novos caminhos. O novo trabalho de estúdio da banda formada por Stefan Babcock (vocais, guitarra), Steve Sladkowski (guitarra), Nestor Chumak (baixo) e Zack Mykula (bateria), The Unraveling of PUPTheBand, é lançado neste primeiro de abril, depois de quatro singles que mostram uns PUP a soar divertidos e introspetivos como sempre, mas a puxar o seu pop punk para terrenos sónicos mais bravosos. O último avanço do longa-duração, “Totally Fine”, em particular revela-se como um verdadeiro hino para o grupo e para o estilo do pop punk. Nesta faixa, a banda explora os seus toques mais de hardcore, a fazer lembrar uns Sum 41, explodindo depois esses vestígios num refrão orelhudo onde tudo soa bem, concluindo a canção com coros ao estilo do indie rock dos anos 2000. Pelo meio, como nos seus trabalhos discográficos anteriores, a entrega vocal muito característica de Babcock cria a linha de separação entre onde o divertimento do grupo termina e o seu lado introspetivo e edgy começa.

Se a qualidade deste último avanço do quarto álbum do conjunto de Toronto for indicativo das virtudes de todo o projeto, há uma chance alta de que podemos estar a olhar para o sucessor de The Black Parade, disco essencial dos My Chemical Romance, em alcançar a proeza de derrubar as barreiras entre o pop punk, o post-hardcore e o rock alternativo. Esperemos que esta afirmação não seja uma mentira de 1 de Abril.

– Miguel Rocha


[Jay Worthy & Larry June] “She’s Not Around” / “Maybe The Next Time”

Assumimos de antemão a ignorância: quando entra a frase “When she’s not around”, no primeiro de dois temas colados no novo vídeo de Jay Worthy e Larry June, a percepção é de que estamos perante um dos grandes (dos incríveis, mesmo) samples da soul do século passado — mas qual?

Numa pesquisa frustrada, chegámos, ainda assim, à fonte do segundo tema, “Maybe The Next Time”, que na versão original inclui um verso atípico de Roc Marciano: “Next Time It’s For Real”, canção dos Kleer, banda nova-iorquina formada nos anos 70 entre o funk e o disco, foi a matéria-prima de Sean House, produtor de LNDN DRGS — duo que o junta ao rapper canadiano.

Destas duas amostras de 2 P’z in a Pod, o novo projecto de June e Worthy (ou de June e LNDN DRGS), retira-se todo o espírito do álbum: os registos estáticos (mas nem por isso menos cativantes) de cada rapper vêem-se abrilhantados pela produção rica em discografia externa de Sean. Um no skip album muito por culpa da parte instrumental.

– Paulo Pena

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