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Publicado a: 02/04/2018

#ReBPlaylist: Março 2018

Publicado a: 02/04/2018

[FOTO] Direitos Reservados

“Abana a cabeça, não digas nada”. Vamos apropriar-nos do refrão do tema dos MGDRV para lançar as escolhas da equipa do Rimas e Batidas em Março. Do r&b libidinoso de Sango até ao banger arquitectado por Lhast para Papillon, passando pelo minimalismo de Tyler, The Creator, as cinco canções são boas para a anca e más para o pescoço. Deixem-se levar…

 


[Jamie Isaac] “Wings”

Sentes que vais levantar voo pelos sopros intempestivos da Irene? Não te sintas incapaz de sair de casa: Jamie Isaac dá-te as asas que precisas para te segurares no ar. “Wings” é uma balada transportada pelo free jazz e pela bossa nova, sem esquecer os artifícios da electrónica. A tempestade perfeita para amar, faça chuva ou faça sol. E, se James Blake tem permanecido em constante pensamento na chuvosa cidade de Londres que os acolhe a ambos, Jamie Isaac, também ele percursor da soul moderna, decidiu abandoná-la sorrateiramente para passear pela solarenga cidade de São Francisco (Califórnia) e gravar o seu novo disco. A música que aqui vos apresentamos é o segundo single do álbum (04:30) IDLER com data prevista de lançamento para dia 1 de Junho. Até lá, aconselhamos a (re)visita ao título de estreia Couch Baby: registo esquecido de 2016 pronto a ser consumido pelos mais relaxados, que encontrarão nele um aconchego natural, e pelos mais stressados, que encontrarão nele uma surpreendente terapia auditiva.

– Rui Correia


[Papillon] “I’m The Money”

Desde que os GROGNation apareceram, há seis ou sete anos, que têm estado em constante evolução e a elevarem a fasquia dentro do próprio colectivo e da nova escola do rap nacional — essa melhoria e cada vez maior profissionalização nota-se bem nos trabalhos em grupo. Sempre foram reconhecidos pelos seus pares mais experientes e consagrados e traçaram o próprio caminho mesmo depois deste boom de popularidade do rap em Portugal. Harold foi o primeiro a emancipar-se com Indiana Jones, e Nasty Factor lançou já este ano o EP Adrenalina. Papillon esteve a trabalhar arduamente, em maturação no seu casulo, e finalmente chegou o seu primeiro álbum a solo. Ainda bem que esperou — e que teve a colaboração de um mestre tão jovem chamado Slow J.

O disco estará, certamente, nas listas de melhor álbum no final do ano. Tal como The Art of Slowing Down, a diversidade é um dos seus maiores trunfos, e isso não impede que Papillon se assuma como um dos melhores rappers da sua geração — até porque Deepak Looper não se afasta tanto do hip hop como o álbum de estreia de Slow J. Há barras pesadas, partes cantadas, auto-tune, influências da afro-Lisboa, uma gama vasta de flows, um leque variado de temas, sonoridades mais trap e outras mais aproximadas dos clássicos. Papillon conseguiu fazer uma obra completa e multifacetada e “I’m The Money”, com um instrumental incrível de Lhast, é uma das melhores faixas do disco.

Não é um tema que seja estranho a Papillon, pelo contrário. Como o próprio menciona, quem não se lembra de “Money”, faixa em que o rapper de Mem-Martins partilha o beat com ProfJam? Ou da mais recente “Pagar as Contas”, com Slow J e Gson? Mas há mais: nos Grognation sempre o pudemos ouvir a falar dos problemas do dinheiro em, por exemplo, “Teoria do Bolso Furado”, “Pecado Capital” ou “$em Avi$ar”. Numa altura em que o mais banal no rap em Portugal é falar de querer ou ter dinheiro — contam-se pelos dedos das mãos os que faziam o mesmo antes de 2013 –, Papillon mantém-se coerente e vai contra a corrente numa música que fala do mal que existe associado ao dinheiro, do sistema financeiro, do capitalismo desenfreado, e daquilo que as pessoas fazem para ter notas na mão — algo que é sobrevalorizado. Para expor a sua mensagem, Papillon encarna o próprio dinheiro, para falar de si mesmo, e depois troca de personagem para o próprio Papillon, em que acusa o “money” dos seus males, as pessoas dos seus vícios, num diálogo entre dois Eus, inseridos na mesma letra. Rap consciente sem precisar de levantar essa bandeira e a mostrar que nem todos os bangers precisam de idolatrar dinheiro, o hustle para o conseguir, ou falar de festas, bebidas e drogas.

– Ricardo Farinha


[lojii] “dutti”

O futuro cada vez mais no presente. Na tentativa de reinventar o hip hop, mantendo as boas práticas da escrita, o espectro das sonoridades adoptadas pela música urbana tem-se alargado a olhos vistos. As rimas sobre batidas de dança não são uma completa novidade, embora a evolução e adaptação ao registo comecem a permitir que estes frutos caiam das árvores cada vez mais amadurecidos. Grande exemplo disso é Vince Staples, que está a cimentar a sua carreira nesse campo de fusão entre hip hop e electrónica.

Também as produções têm apresentado os necessários upgrades para acompanhar o avançar dos tempos e os instrumentais deixaram de ser meros loops com bombos sucessivos a marcar os tempos. “dutti”, de lojii, assinala o melhor dos dois mundos. NiceGuyxVinny representa a escola revolucionária da Soulection na batida do tema, que nos dá a conhecer as profundezas da mente inquieta de um MC que está a mostrar valências suficientes para se considerar um talento daqueles que podem ir longe. “Why me on down?”, questiona-se lojii na sexta faixa de lofeye. Eu não sei, deste lado parece tudo bastante acima da média.

– Gonçalo Oliveira


[Sango] “Khlorine” feat. Smino 

O novo disco de Sango está repleto de pérolas, mas existem algumas mais brilhantes que outras. “Khlorine”, single com participação de Smino, é um desses casos.

A ligação do produtor norte-americano com o Brasil é conhecida, aliás, foi isso que lhe deu maior mediatismo, e o vídeo da faixa não poderia ter sido gravado num sítio mais adequado: Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa”. Shaka Lion é o “pastor” escolhido para  introduzir a música — o DJ e produtor luso-brasileiro também empresta a sua voz em “Dance For Blessings” — e o rapper de St. Louis entrega um verso bem ao seu estilo: citando os D’Alva, “livre, leve e solto”.

– Alexandre Ribeiro


[Tyler, The Creator] “OKRA”

Tyler é um puzzle arrumado dentro de um enigma embrulhado num mistério. E isso é que nos faz prestar atenção. Na sua primeira novidade em nome próprio pós-Flower Boy, o agora membro do selecto clube dos nomeados para os GRAMMYs (nada mau para um miúdo obsceno que ainda há uns anos via o mundo de cima da tábua de um skate…) volta a baralhar-nos as ideias, a confundir-nos os azimutes e a obrigar-nos a repensar tudo.

“OKRA” foi lançado para as plataformas digitais e inclui vídeo e tudo e parece ser desenhado como um recado para todos os que o questionam. Sobre um beat mais minimal que um moderno apartamento em Tóquio, o flower boy deixa claro que consegue também não ser flor que se cheire com uma quantidade de rimas mordazes que são carregadas de auto-elogios, que são despudoradamente ostentativas, mas que também contêm mensagens importantes:

“Got enough rocks, see, check my hand
And I got crack, watch how I talk
And it’s still Wolf Gang, bitch, watch how I bark
Wallace still trippin’ on shit that I bought
But, I really do not care the cost ‘cause okra”

Still Wolf Gang? O colectivo continua de pé? Ou Tyler está a dizer-nos que basta ele para carregar a velha chama? Lá está o enigma disfarçado de mistério e tal. O importante, mesmo, é que Tyler mantém a fasquia alta, mantém a pressão sobre quem o persegue, sobre quem o admira e sobretudo sobre si mesmo, que é algo que um artista nunca deveria descurar. E experimentam lá puxar o volume até ao 10 e aumentar o bass na aparelhagem… Forte, não?

– Rui Miguel Abreu

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