pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 05/09/2022

De Magdalena Bay a Group Modular.

#ReBPlaylist: Agosto 2022

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 05/09/2022

O palhaço ruidoso e triste é o nosso guia para uma saída de emergência de um alinhamento que, em comparação, é bem mais tranquilo e fácil de navegar; JID é o outro grande protagonista desta lista de escolhas, provando que o seu novo álbum está aprovado por esta restrita equipa de oito escribas.


[Magdalena Bay] “All You Do”

Um dos grandes mistérios (e bizarrias) da época festivaleira de 2022 é a inserção dos Magdalena Bay no cartaz do Rock In Rio. A dúvida é simples: como isto acabou por acontecer, tal deslocada parece estar a estética e sonoridade da dupla formada por Mica Tenenbaum e Matthew Lewis daquilo que vai ocorrendo, ano após ano, no Parque da Bela Vista? Não temos respostas mas, pelo menos por aquilo que foi contado por quem lá esteve presente, toda a circunstância foi “um tiro ao lado pelo contexto em que se inseriu”.

Felizmente – e atenção aos programadores portugueses – podemos ter uma oportunidade em breve de fazermos pazes com os Magdalena Bay e dar-lhes uma chance de brilhar num espaço mais conforme com a sua estética (um indie jovial e colorido), sonoridade (uma synthpop dançável e etéreo misturado com ruído rock e bubblegum pop) e conjunto de fãs. No final de Setembro, a dupla irá lançar uma versão deluxe do óptimo Mercurial World, com o qual nos presentearam no ano de 2021.

Com essa versão deluxe em mente, os Magdalena Bay revelaram “All You Do” ao mundo, a sua primeira canção nova a ser lançada neste 2022. É uma faixa cuja suavidade sabe a algodão-doce, melosa nas suas texturas (a produção da canção é imaculada!) e melodias, sonhadora nas sua pop alternativa, orelhuda nos hooks. Se é viciante com a sua doçura? Sem dúvida – mas deste açúcar não nos podemos queixar que possa fazer mal à saúde. Venha mais e, de preferência, com uma dose ao vivo num Musicbox da vida a acompanhar.

– Miguel Rocha


[Vermin Womb] “Sad Clown (My Spiritually Rotten Second Reply)”

“Enquanto professor, eu tenho de ser positivo para as crianças durante 8 a 10 horas por dia. O resto do tempo, e quando estou a escrever canções, eu sou a pessoa mais negativa e furiosa que alguém pode ser”. Isto disse Ethan McCarthy, em entrevista à VICE, a propósito de uma das formas de canalizar energias negativas, a banda de doom, sludge e má onda geral Primitive Man. Ora, pesca de arrasto em modo destilaria de negatividade e misantropia não é a única forma de ELM (como também se dá) contrastar a energia do seu emprego e procurar o mítico “work-life balance” sem treta de “mindfulness” — também existem os Vermin Womb, em que o guitarrista carrega no acelerador a fundo e entra no modo debulhadora grindcore. Agora com um novo disco à espreita, o trio grind/death de Denver tem adiantado alguns singles, entre os quais este curto e direto (bem à moda do género) tiro epitetado Sad Clown, com riffaria a agoniar para os lados do black metal e ainda com tempo para um clínico abrandar de tempo para um pausado curvar de espinha. Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas um malhão grind faz-se, na boa, em minuto e meio.

– André Forte


[Greentea Peng] “Look To Him”

“etéreo | adj. – [Figurado]  Celeste, elevado, puríssimo.”

É a definição que nos é dada quando procuramos a palavra “etéreo” no dicionário. Em caso de necessidade de substituição, a alternativa poderia ser a mais recente faixa de Greentea Peng, “Look At Him”, que contém um lirismo que se assemelha a despertares matinais lentos que nos fazem esquecer o frenesim dos dias — e um groove de neo-soul. O protagonista é o processo criativo de Aria Wells e a promessa de uma busca por inspiração numa força divina, não necessariamente material, como forma de sair de um loop. Rende-se ao divino, ciente de que a sua cabeça está nas nuvens, mas os seus pés permanecem bem assentes no chão.

– Shirley Van-Dúnem


[Nicholas Craven & Boldy James] “Power Nap”

É verdade que muita gente gosta de uma boa sesta, mas o mais importante aqui é não dormir neste nome: Nicholas Craven. Embora possa não soar muito familiar à primeira menção, basta uma pequena pesquisa para se descobrir que esta colaboração com Boldy James não apareceu do nada (nem é a primeira vez que acontece) e que este produtor canadiano já trabalhou com nomes como Roc Marciano, Benny The Butcher, Navy Blue, Mach-Hommy, Pink Siifu, Westside Gunn e Evidence… mas não se percam a contar goats, que o embalo agora é outro.

Craven apresenta-nos algo que podia perfeitamente ser receitado em qualquer farmácia (ou arranjado por meios menos legais): um beat melódico e hipnotizante, que lembra uma mistura entre uma canção de embalar para crianças, revestida de valeriana, e algo que se ouviria numa alucinação causada por comprimidos para dormir, com a voz alterada de um sample que repete constantemente “I go to sleep”; e, ao viajar por esse reino dos sonhos, quem nos serve como despertador desta vez é Boldy, que abre o seu verso dando seguimento a este tema:  Extendo full of sleeping pills, it’s similar to Seroquel”: não somos só nós que estamos trippin’.

Com a sua voz grossa e barras sempre astutas e assertivas, mais uma vez o braço direito de The Alchemist em Bo Jackson vem avisar que é preciso ter cuidado com o bicho papão em que se transforma (ou é) e anda aí a atacar, em instrumentais trippy com nuances de vibrações que não são deste mundo — tomando como outro exemplo uma das suas colaborações mais recentes, “December Coming”, com Domo Genesis, numa batida alienígena de Evidence. 

Sendo que este tipo de vibe lhe assenta que nem uma luva, e sabendo que fez tão bem a cama onde agora se deita, o próprio ainda cospe as rimas: “(…)spend the rest of your life counting sheep/ God appointed me the shepherd, top of the mountain peak/ If I should die before I wake, now lay me down to sleep”, caso dúvidas houvesse que este rapper dorme descansado, mesmo tendo a noção de que provoca pesadelos no game.

Neste cenário, com Nicholas Caven a embalar os corpos e Boldy James a pô-los “sound asleep” em sacos-cama, esta faixa dá realmente a sensação refrescante de uma sesta restaurativa, recalibrando qualquer ouvido colado a uma “hip hop head”.

– Beatriz Freitas


[JID] “Sistanem”

Não há como nos escondermos da nossa família. São quem nos viu dar os primeiros passos e os primeiros tropeções, e a honestidade está no sangue que partilhamos. JID sabe disso e ao longo de “Sistanem” e de mais de seis minutos discute a relação com a sua irmã à medida que ambos cresceram. 

O ambiente não é pesado mas a batida lembra-nos a seriedade do que está a ser discutido. O beat adequa-se à entrega do rapper de Atlanta, notamos a sinceridade na sua voz enquanto relata a maneira como a sua irmã o influenciou e o fez ver as coisas de forma diferente. O final é agridoce, interrompem-se as barras no momento mais aceso. Mas não deixa de ser um dos temas mais profundos da carreira musical de JID, e um sentido tributo a alguém que o rapper estima

– Miguel Santos


[Pa Salieu] “Mista / Lennon Freestyle”

Imagine-se uma sequela de La Haine (1995), em que, depois da última cena do consagrado filme de Mathieu Kassovitz, Hubert (caso o último disparo ouvido, já sem confirmação visual, não signifique também a sua morte) tem de testemunhar em tribunal acerca do assassinato a sangue frio, concretizado mesmo à sua frente, do amigo Vinz. E no papel interpretado por Hubert Koundé (que, como os demais protagonistas, empresta o nome de baptismo à personagem) surge, nesta hipotética sequela, à porta do tribunal, engravatado e pronto a depor, Pa Salieu — cujo nome presta homenagem a um tio também assassinado, na Gâmbia, e que evoca influências da língua francesa no país africano. Até ver, encaixa no papel? A julgar pela forma como se apresenta, parece que sim. E que bem que lhe assentam a indumentária solene e os tons noir. Mas as razões que levam Salieu ao Warwickshire Justice Centre são outras. “12 jurors/ They ask question I ain’t never hearda/ They ask me how you feel mr criminal”. 12 homens em fúria, e, desta vez, nenhum deles acredita na sua inocência. Querem encarcerá-lo, mas o réu não é de se ficar: “I’m thinkin suck yo mudda/ Mr ugly fucka”. E é com essa raiva atravessada na garganta que se insurge em “Mista”.

Acendem-se as luzes na sala de cinema. Pausa para intervalo.

Voltamos e o cenário já é outro. O tom é outro também. Salieu está agora num carro, de regresso sabe-se lá aonde. Raiva nem vê-la. O segundo acto é de reflexão. Os vestígios de um afrobeat tenebroso dissipam-se numa banda sonora soulful. As tiradas isoladas e incisivas desenrolam-se em falas complexas, um discurso mais elaborado e elucidativo, a começar em “They say they love me but do me like Lennon”. “Lennon Freestyle” visa ainda os restantes Beatles, para falar de amigos-irmãos que o autor confessa ter perdido. Em especial, Fidel “AP” Glasgow, a quem dedica este tema duplo que transmite um misto de emoções como revolta e mágoa. Emoções essas que ficaram suspensas em Hubert.

– Paulo Pena


[JID] “Can’t Punk Me” feat. EARTHGANG

Qual é a melhor canção que conta com os préstimos de JID e dos EARTHGANG? O catálogo conjunto cresce ano após ano e existe uma nova faixa a exigir o estatuto de favorita: “Can’t Punk Me”, um single produzido por Kaytranada e JD Beck (sim, o baterista que forma dupla com DOMI em NOT TiGHT). Porém, a concorrência da quinta faixa de The Forever Story é pesada: “Meditate“, “D/vision“, “Baptize“, “WATERBOYZ“, “Down Bad“, “Momma Told Me” ou “October/ 3 Storms” são temas que impõem respeito, tanto pelas rimas como pelas batidas — em relação à última parte, notável o bom gosto do trio na hora de escolher. Na mais recente, a bateria, a percussão e a linha de baixo insinuam-se de tal forma que os MCs não tiveram grandes hipóteses de escolha senão usarem o seu melhor jogo de cintura nos seus respectivos versos e sacarem um refrão que incitará certamente à prática do mosh em concerto.

– Alexandre Ribeiro


[Group Modular] Per Aspera Ad Astra

Os Group Modular são Markey Funk e Mule Driver, dois produtores e multi-instrumentistas de Jerusalém, Israel. “Drum-centric sci-fi sound” é como a Delights, a etiqueta que os edita aqui, lhes descreve a música. Trata-se de mais uma variação na estética da library music, o tipo de som que já descrevi mais do que uma vez como “lab funk”, ciência rítmica de laboratório, altamente cerebral na sua génese, mas profundamente físico quando se escuta o resultado final. Um pulsar analógico com um b-boy break demolidor, poeira de estrelas e pouco mais. Tão bom que MF DOOM bem que poderia enviar um verso inédito do lado de lá que cairia aqui como módulo espacial na superfície de um qualquer planeta desconhecido.

– Rui Miguel Abreu

pub

Últimos da categoria: #ReBPlaylist

RBTV

Últimos artigos