pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 07/09/2020

Uma nova narrativa para uma velha história.

#ReBPlaylist: Agosto 2020

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 07/09/2020

Aquele estranho mês de Agosto. Será certamente dessa forma que nos lembraremos do mês central de um Verão atípico que se espera excepção à regra nos próximos anos.

Como seres complexos que somos, é impossível que os estados de espírito sejam os mesmos. Afinal de contas, todos somos feitos de histórias singulares e moldados por diferentes circunstâncias. As seis escolhas desta playlist são o reflexo dessa diferença. Venham por aqui.


[MADMADMAD] “COOKIKI”

Em 2019, o trio britânico, saído das fileiras do colectivo free jazz Ill Considered (do qual também saem os suaves Wildflower), lançou uma colectânea de músicas que devia tanto aos ritmos maquinais da electrónica quanto ao instrumentismo de excelência da sua principal ascendência, brincando com elementos pop e andamentos kraut no mesmo caldeirão de êxtase instrumental. Proper Music serviu de preâmbulo para aquilo que os MADMADMAD conseguiam fazer, ainda que o disco não fizesse jus às malhas que o tecem, coisa resolvida nos desempenhos ao vivo (e assim, aconselhamos mais que se ouça a sua sessão na KEXP do que se invista tempo no álbum), uma estreia que esteve apontada para o Tremor deste ano, nos Açores. Festival e respectivo concerto adiados, e com o disco de estreia a precisar de sucessão, directamente e já em Outubro chegará MOREMOREMORE. A julgar pela faixa de antecipação, este registo chega em pleno clima de superação e pronto a atestar aquilo que já se vaticinava por aí: estes tipos são do ca*****.

– André Forte


[Chico da Tina] “Resort”

Em pleno mês de Agosto, trocaram-se as romarias pelo “Resort”. Afinal, esta trapstar do Minho já não é apenas uma figura regional, mas sim um fenómeno nacional, estatuto esse que lhe valeu uma conquista improvável face à irreverência deste artista sem igual: falamos da entrada pela porta principal na editora que tanto tem apostado no hip hop português, a Sony Music Portugal.  

O tema “Resort”, produzido por Guire, marca o primeiro vislumbre de Chico da Tina aliado a uma major, e promete apaziguar, desde já, os acérrimos mas ainda cépticos fãs que depressa reagiram fervorosamente a esta subida de escalão com contrato assinado pelo vianense. O lema, ao que tudo indica, mantém-se. É que “quantidade não é qualidade, mas no ‘seu’ caso até é”, e, se o rei pôs “um segurança a dormir na porta do resort”, agora que entrou, não será para descansar. Assim, com a parada a subir ao Alto Minho, Chico acelerou (ainda mais) e exibiu novas manobras no skate, além do “treflip nas escadas à primeira”, como “backside fifty e 5-0″, ou até mesmo um “switch backside flip”

Apoiado em formato vídeo, o single contou com a realização de Irish Faverio e Guilherme Braz, que encadearam múltiplos planos, alimentando o ritmo frenético do Matias Damásio de Viana do Castelo, numa linha visual certamente influenciada por técnicas como as do brilhante videoclipe da faixa “A$AP Forever”, protagonizado por A$AP Rocky, e, claro, pela estética característica do típico vídeo de skate. 

Desta feita, a certeza que fica sobre um dos artistas mais imprevisíveis no meio de uma indústria cada vez mais pensada, calculada e esquematizada em fórmulas é que Chico da Tina, independentemente dos meios, chegará sempre aos seus fins. Mais um sucesso. “Palminhas meu bro do norte”.  

– Paulo Pena


[Tkay Maidza] “You Sad”

Pouco tempo depois de se juntar aos “quadros” da célebre 4AD, Tkay Maidza justifica a aposta com o lançamento de Last Year Was Weird, Vol.2, um nome apropriado para 2021 com música que sabe bem em qualquer altura. A sequela da mixtape de 2018 está recheada de canções que mostram a versatilidade da cantora e o single “You Sad” é um dos vários exemplos no projecto. O título escolhido mostra que tem um fundo triste. Mas é tão açucarada que o recheio nos enche de êxtase. 

Alternando entre o acústico e o digital, a cantora australiana nascida no Zimbábue encanta-nos instantaneamente com um assobio apelativo mas são as suas melodias que nos mantêm com os auriculares colados durante o resto da música. A viagem é de descapotável numa estrada vazia com o mar no lugar do pendura, visão conjurada pela voz de Maidza e o instrumental que a acolchoa. A liberdade que ouvimos é espelhada pelas suas palavras e pela segurança com que nos diz que não será enganada de novo. É ela que dita as regras, segura de si mesma e pronta para seguir em frente. 
A grande tristeza de “You Sad” é que é penosamente curta, provavelmente como a relação que Maidza descreve e que tão claramente vê no passado. Mas deixar-nos a desejar por mais é um mal menor de uma artista claramente destinada a feitos maiores. O tema destaca-se pela facilidade com que apela ao ouvido, mas é o talento de Maidza e a destreza da sua escrita que o elevam acima de tantos outros hits veranis.   

Miguel Santos


[Glass Animals] “Waterfalls Coming Out Your Mouth”

Frenéticos e pueris, assim nos habituaram os Glass Animals, com canções que tanto brilham em estúdio como explodem energicamente ao vivo. O seu novo álbum, Dreamland, leva um ingrediente novo, uma falta de certeza e esperança com origem no atropelamento do baterista Joe Seaward. O vocalista Dave Bayley, o principal compositor e produtor do registo, agarrou-se ao temer ansioso de memórias “porque era difícil olhar em frente” no momento.

“Waterfalls Coming Out Your Mouth” é introspectivo e melancólico, e traz um fim de boca estranho a acompanhar o sabor doce da música. Contudo, ao contrário de ser despropositado, é enriquecedor para o projecto e para nós ouvirmos este conflito. Os sintetizadores são os mesmos de ZABA ou How to Be a Human Being, mas são utilizados para comunicar ideias bem distintas desses discos.

– Gonçalo Tavares


[Ruthven] “Have You Decided?”

Quando Jai Paul nos voltou a dirigir a palavra, transformou o rancor num novo começo. Ofereceu o álbum de estreia que lhe fora roubado em 2012, o mito perdeu opacidade e a confiança foi suficiente para nos dar um single novinho em folha. Esta é a narrativa mais apetecível: a do ego convalescente – mas Jai já nos interpela desde 2017, com outras vozes, sem ego à mistura,

Juntou-se ao irmão A.K. (menos conhecido, mas mais profícuo) para formar a academia e editora Paul Institute, que alberga um esquadrão potente de produtores e melodistas. Fabiana Palladino, teclista na banda de Jessie Ware, é um desses talentos, que tem aproveitado a estada no Institute para nos dar suspense sintético e crescendos cheios de poder – tanto dos Berlin como dos Van Halen – a conta-gotas. Ruthven tem o cartão-de-visita mais interessante: era bombeiro aquando dos primeiros temas que editou – a principesca/púrpura “Evil”, o funk sideral de “Hypothalamus”. Este ano, abandonou a mangueira para se dedicar à música. “Have you decided?” não é só o seu primeiro trabalho desde que está nisto a tempo inteiro, é a sua primeira música remotamente alegre, onde a guitarra eléctrica flutua e as harmonias mostram-no verdadeiro crente de algo bom.

Decidiu-se bem. Uma chama azul dança trémula no primeiro minuto e Ruthven dá-lhe tempo. Tenta não a insuflar de oxigénio (poderia dar sarilhos). Arrisca um falsete, para ser cordial onde a paciência se tornou rarefeita – mas o cansaço atraiçoa-o, fá-lo arranhar a garganta, quando apenas queria saber o que a outra pessoa deseja, afinal. E se ela escolher o silêncio? O organista explode numa brisa, um pacote de razões para que o outro não se possa calar, para que tenha de cantar a seu lado: o calor dourado de um groove veraneante, uma melodia que é um prato quente à mesa, uns versos que são um beijo na testa.

“Have You Decided?” é uma promessa desorientada de companheirismo, de quem só quer ser fiador de felicidades alheias. Por que outro motivo tocaria no sintetizador uma melodia tão estupidamente gloriosa e familiar (pontos bónus por ser a continuação do final de “Hypothalamus”)? Talvez porque só a paixão em estado de limbo terá sempre asas para voar: só é imortal quando ainda por definir, depois fica condenada à finitude do real. Pelo som da coisa, talvez Ruthven não se importe de passar mais uns tempos nesse purgatório…

– Pedro João Santos


[Duckwrth] “Kiss U Right Now”

Duckwrth tem andado por aí — e, aparentemente, está a focar-se nas coisas super boas que acontecem à sua volta. Para tempos de medos e inseguranças, o artista americano criou um espaço seguro, o álbum SuperGood, para quem quer dançar e ser feliz. Em “Kiss U Right Now”, a sexta canção do sucessor de THE FALLING MAN, o músico nascido e criado em Los Angeles, Califórnia, vai directo ao assunto, não deixando grande espaço para invenções. Na interpretação, na escrita e no instrumental, imaginamos que isto seja o mais perto que teremos de uma colaboração entre Prince e Frank Ocean…

Se a versão de estúdio já impressiona, a participação na rubrica Vevo Ctrl.At.Home deixa água na boca para, quem sabe, vê-lo numa próxima edição do Super Bock em Stock ou Super Bock Super Rock.

Alexandre Ribeiro

pub

Últimos da categoria: #ReBPlaylist

RBTV

Últimos artigos