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Publicado a: 03/05/2018

#ReBPlaylist: Abril 2018

Publicado a: 03/05/2018

[FOTO] Direitos Reservados

Nunca é demais saudar a produção nacional. No Rimas e Batidas, e sem qualquer tipo de combinação prévia entre os colaboradores, as escolhas do mês passado recaíram sobre intervenientes da música portuguesa. Um sinal dos tempos que vivemos. Razat, Boss AC, Dino D’Santiago e Colónia Calúnia são quatro propostas que oferecem África, electrónica e vanguarda, mostrando que as portas estão abertas para todo o tipo de abordagens. De peito cheio para o mundo.

 


[Razat] “Saturation”

Presença constante no radar da Noisia Radio, Razat soma edições pela DIVISION, I AM SO HIGH .Recs ou emengy no último ano. Juntam-se as colaborações com os “nossos” Beatbombers, Holly ou Scorp, bem como os cruzamentos sónicos que vão além fronteiras, tendo Subp Yao ou King Peanuts enquanto parceiros. Não esquecendo, claro, a série de lançamentos “d”, de onde saiu recentemente “d:worry” — “sick”, “banger”, “wicked”, “lit”, “fire” ou “dope” são apenas algumas das mais usuais expressões dentro das centenas de reacções que Razat soma a cada “clássico” (como também lhe chamam) que sai com o seu cunho via SoundCloud.

Para a sua estreia com um projecto pelos alemães da SATURATE, Razat não podia ter escolhido melhor o conceito para abordar um EP — “Saturation na SATURATE”, frisou numa conversa com o Rimas e Batidas. Em cada uma das seis faixas do seu mais recente trabalho, Razat explora um processo de saturação sonora diferente, aliando o melhor do trabalho laboratorial de sound design àquela frenética vontade de abanar a cabeça, que a cultura do beat tanto nos tem habituado.

Do primeiro ao sexto tema, Razat faz da distorção música, numa verdadeira vénia aos amantes da cena glitch — e nem as remisturas de Shield e Vorso nos fazem esquecer que ainda estamos dentro de Saturation. O tema-título do EP é o cume desta montanhosa e ruidosa escalada. A sensação do divino mesmo na mais caótica das jornadas.

– Gonçalo Oliveira


[Mogwai] “Donuts”

Andam em estúdios há mais de 20 anos e se há ideias que lhes encaixam que nem duas peças de Lego moldadas uma para a outra, são as de invenção e reinvenção. Ora guitarras em riste e dominantes. Ora sintetizadores e seus derivados. Ora em disco no formato clássico. Ora em bandas sonoras para filmes, séries ou documentários. Ora em EP. Ora em Split com outros ilustres. Ora a remisturar ou a serem remisturados. Os escoceses Mogwai estão de regresso e com composições originais para a banda sonora do filme Kin, dos produtores de Stranger Things e Arrival. Estas duas referências — mais a primeira do que a segunda — chegam perfeitamente para descrever a estética deste “Donuts”. É, e roubando descaradamente o jogo de palavras à rubrica da Isilda Sanches na Antena3, uma bela fricção-científica.

– Diogo Santos


[Colónia Calúnia] “Selo”

Se cada flow valesse um euro, o L-ALI não tinha a “mesma conta rota”. Há quem pague as contas com o rap, e outros que matam beats, custe o que custar (não importam agora as contas para o caso, pronto). O L-ALI dá voz ao frenesim de Colónia Calúnia, uma crew montada por VULTO. que produz os instrumentais desta Lista de Reprodução onde se inserem o tema “Selo” e mais seis devaneios originais. Em dois minutos, tal como em grande parte das outras faixas, a chapada é curta mas dura: “Todo o chico esperto estica ..mas o cachico vê que não é chiclete / Avisa o mini rapper que não é um Ric Flair ../ Tiros no escuro num beat de merda fazem ricochete / Até que mais que multis ostente ”. O L-ALI faz rimas parecerem fáceis em beats difíceis de domesticar. Rappers, considerem-se (a)visados.

– Rui Correia


[Boss AC] “Queque Foi”

Se não quiserem ajudar, não atrapalhem: AC, o Mandachuva, está de volta. Faz sentido, o epíteto mais antigo do “patrão”: mandar chuva pode ser sinónimo de “cuspir” rimas e nesse caso só nos podemos queixar de “seca” na carreira de AC nos anos em que não manda nada cá para fora, porque quando se decide a abençoar o microfone, AC não costuma debitar menos do que um dilúvio – de palavras e de ideias, de frases “catchy” e de flows elegantes, de batidas tão perfeitas que ninguém precisa de buscar mais nada. É um artista maior e por isso quando anunciou o seu regresso, depois do fantástico ensaio que foi a sua entrada na “Caravana” de Sam The Kid, sabíamos que vinha lá chuva. Da grossa. Daquela que enche barragens e que nos permite depois aguentar o verão, bem regados de métricas e punchlines.

“Queque Foi” não podia ser melhor. Boss AC manda recados à nação, mostra às novas gerações que lhes entende a linguagem, com um beat infeccioso que se aproxima do trap sem cair na ratoeira e que ganha força à medida que o botão de volume se aproxima do 10; já o refrão é daqueles que se cola ao ouvido interno e se recusa a sair: o patrão sabe coisas que o google não sabe, dá kebab a quem lhe pede bife e depois ainda pergunta — “quéque foi? Tás com dói-dói, boy? Diz o quéque foi. Faz lá queixinhas, onde é que dói? Não chores mais, boy”… Mas não dá mesmo para não chorar, quanto mais não seja a rir. O incrível vídeo de Chikoalev pega na linguagem de corte-e-cola da Internet, mete a cabeça de AC no corpo de uma série de crianças e apresenta-o com um humor tão inesperado quanto bem vindo. Hip hop lúdico até ao tutano, como às vezes nos esquecemos todos que também pode e deve ser, com a dose certa de ácido mordaz para queimar uns quantos egos pelo caminho. Fica a fasquia alta para o álbum. Ah… e Patrão tem mais 4 grandes faixas. Já as ouviram?

– Rui Miguel Abreu


[Dino D’Santiago] “Nôs Funaná”

Não é possível fechar os olhos e tapar os ouvidos a esta Lisboa Crioula que parece ter escolhido 2018 para fincar pé. E que bom que é!

Provavelmente há cinco anos, desde Eva, que Dino D’Santiago andava a cozinhar este álbum de visita às raízes de que ainda só ouvimos “Nôs Funaná”. Um single que puxa para um gingar de um funaná lentu e nos desperta no cair ritmado das congas e o arrastar da vassoura no cajón. Algo assim, Paul Seiji? Foi Seiji, produtor londrino, mas também o nova-iorquino Rusty Santos, quem traduziu uma viagem a Cabo Verde numa música que leva ainda uma pitada de electrónica e kizomba angolana quanto baste.

Pelo meio do videoclipe, filmado por Pluma, há o testemunho que mais me toca e, a quem ouve no Youtube, faz parar e arrepiar. Nha Balila defende, e bem, que “se a mulher nada é, o homem também nada pode ser”.

Uma música que traduz a vontade de levar a cultura cabo-verdiana mais longe, de carregar as origens com orgulho. Ou, como diz o próprio Dino D’Santiago, “o início de deixar um legado para as novas tendências”. Venham elas, cheias de África dentro!

– Alexandra Oliveira Matos


[Aminé] “Campfire” feat. Injury Reserve

Os graves a saltitarem com pujança suficiente para mandarem qualquer um ao chão e dois rappers talentosos a esquivarem-se enquanto dançam. “Campfire” é isto. Aminé convidou os Injury Reserve Richie With A T para entrar num beat que poderia ser de Pharrell Williams, mas não é. Asa Taconne, músico associado aos Lonely Island, está creditado como produtor e, neste caso, leva o prémio de “maior banger” de Abril de 2018. As estrelas alinharam-se e agora é tempo de observá-las com atenção.

– Alexandre Ribeiro

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