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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[benji price] “Estúpido” ft. 9 Miller
Se pensássemos em alguns nomes com os quais benji price facilmente poderia colaborar, dificilmente nos lembraríamos de 9 Miller para as primeiras escolhas intuitivas. Mas o rapper e produtor tem o condão de surpreender os seus ouvintes: nas batidas de “Estúpido”, desvendou o registo predilecto do MC convidado e mostrou-se tão ou mais confortável que o seu parceiro, com um flow simultaneamente vertiginoso, intrincado e foneticamente ambíguo — um espectro que vai de Raekwon a Thugger. E no dia 18 deste mês esperam-se mais surpresas destas em ígneo.
[Rafa G] “Processo”
Entre gregos e troianos, sobre Rafa G há um consenso inevitável: o rapper do Vale da Amoreira é uma das vozes mais ágeis do rap crioulo desde a “Correria”. Com Elji Beatzkilla envolvido na produção, o sentido apurado do rapper e produtor cabo-verdiano para gerar hits manifestou-se no instrumental, uma composição rica em elementos melódicos alheios à fórmula mecânica das batidas do drill. Com essa cama feita, Rafa só teve de fazer justiça à sentença do carrasco de beats neste “Processo”.
[LAIA] “LAGO”
“Adivinha quem chegou
Ângela Polícia e Beiro no som”
E chegaram para ficar, a julgar pela cumplicidade com que se entendem nas mesmas frequências, gente da mesma LAIA, imersos no mesmo “LAGO”, som disruptivo para dançar, saltar, gritar, espernear, esmurrar o ar — e voltar a mergulhar.
[LAIA x Pedra] “TIC-TAC”
A semana foi de dose dupla do duo LAIA, a quem Pedra se juntou para, lado a lado com Beiro, marcar o compasso do fúnebre “TIC-TAC”. Quem mergulhou da primeira vez não volta à tona tão cedo depois da segunda — “bebe mais deste copo”.
[LANDIM] “TÉVEZ” FT. PIKA M2
O Programa é de Janeiro e Landim e Progvid já foram eleitos para melhores representantes do hip hop nacional em 2022. Mas, com eles, Programa prometido é Programa cumprido, e em Fevereiro continuam a materializar aquilo que idealizaram: na véspera da apresentação do projecto, a dupla saiu às ruas com Pika M2 para dar a cara pelas ideias — “rosto runhu, Carlitos Tévez”.
[Cachapa] “Agora”
“O Cachapa é uma máquina, escreve sons à velocidade da luz”, ouve-se no fim de “Agora”. E a verdade é que o agora é a hora do rapper de Évora, alguém que revela urgência na palavra e primor na escrita. É por isso que insiste tanto no valor do seu rap, mas quem o ouve rapidamente se convence daquilo que é capaz. Esse valor está mais que provado, agora é seguir em frente.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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