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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Beiro] “Pladur” (com ZA; Big Jony & Dj Kronic)
Beiro voltou a convocar Big Jony para fazer estragos em mais um instrumental da sua autoria, mas desta vez chamou ainda ZA para esmagar a coisa de vez. Trataram de legendar o guião dos rappers para expor segundos sentidos, eles que trocaram vénias entre “Fuck a geração dos lils, o meu rap é big… Jony” e “Viro o abecedário ao contrário e vou do Z ao A” enquanto partiam batidas como “Pladur”. A missão mais difícil terá sido a de DJ Kronic, a tentar encontrar espaços entre punchlines para riscar qualquer coisa nesta parede.
[DJ Algore] “VidaDumGa: Lawless X Johny Gumble”
DJ Algore, o grande responsável pela mixtape De Rajada, continua a promover a mistura de talento no hip hop nacional, agora através do projecto VidaDumGa, onde se propõe a cruzar rimas com batidas de diferentes autores, gravadas em formato freestyle e com scratch à mistura. Nesta segunda edição juntou as rimas de Johny Gumble em “Get The Fuck Outta Here” (com ORTEUM) às batidas de LAWLESS em “Pausa para Publicidade” (faixa já destacada por aqui há umas semanas) — e o resultado é delicioso.
[Subtil] “Cá Vos Espero” (ft. JeanRichard)
Subtil abriu os braços a quem esperava o seu regresso no pós-C’Alma com “Cá Vos Espero”. O rapper algarvio continua a seguir a máxima de que mais vale só que mal acompanhado, “em homenagem de quem mal me queira e mal me quer”, terminou como começou — mais a falar do que propriamente a cantar — e pelo meio de preenchidos versos trouxe um dos refrões mais bem conseguidos no rap nacional neste arranque de 2022. Mais um ano promissor…
[benji price] “Veni, Vidi, Vici” ft. Mike El Nite
Em Novembro, aquando do lançamento de “girassóis” — o primeiro single do seu primeiro álbum a solo —, benji price apontava para 2022 a edição de ígneo. Só não sabíamos que essa estreia estava prevista logo para o início do ano, uma boa nova anunciada a reboque do segundo tema do disco revelado. Um prenúncio daquilo que vai representar o seu projecto: chegar, ver e vencer.
[Cabril] “Beats à Pala” (Angry Pete e Buba)
De uma cave na Covilhã para “Beats à Pala”, as histórias dispersas de Cabril e companhia foram reunidas no EP Cave 61 pela Armário Records. “Muitos bons momentos foram lá passados, muitos risos, muito som e muitas histórias para contar”, — memorabília partilhada também com Angry Pete e Buba. Não admira que essa cave fique na Rua da Saudade.
[RUZE] “Algodão Doce” feat. Luís Travassos
O produtor Raze e o rapper Ruze carimbaram mais um ponto para o álbum Pressão, com uma faixa açucarada por Luís Travassos na guitarra e na voz. “Algodão Doce” mistura o que de melhor se faz na música (e na língua) portuguesa.
[Skinny, Fabrice, Rosee, Afonso] “Frequência”
Se por momentos esquecermos o título “Frequência”, a localização “Portugal” no vídeo e até mesmo o quarto nome, Afonso, facilmente somos levados a crer que isto não é daqui. A estética — sonora e visual — não remete para qualquer referência interna e, só em algumas ocasiões, a própria língua portuguesa se revela inteligível. Não obstante, essa frequência inusitada (e pouco “portuguesa”, se quiserem) não deixa de ser bem-vinda.
“Ya, eu já dei play
Sintonizei
Entrei na wave”
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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