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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[YOUNGSTUD] “HIPÓCRATES”
Com YOUNGSTUD o juramento de Hipócrates é outro: os mentirosos que se remedeiem, que o rapper e produtor está numa fase hiper-confiante e não tem sido nada meigo a direccionar as suas barras. Aqui “Hipócrates” parece vir de “hipocrisia”, mas de “hipo” este tema não tem mais nada — a energia é exactamente a oposta.
[Minguito] “Andalé”
“Olá ou Hello”, “Still living la vida loca”, “Dentu Holanda”, “Com uma bandida que é da Rússia/ E quer vir p’ra França avec moi (andalé, andalé)”, “Talvez paramos em Espanha/ A espanholita quer ménage à trois”: cosmopolitismo de Minguito para todos as línguas e paladares — e um inexplicável banger para ouvires até te fartares.
“Olá ou Hello
It’s me again
Tell a friend to tell a friend”
Lá vem ele outra vez…
[CorjaFuckinKrew] “Limbo”
De volta também estão eles, em nome de CorjaFuckinCrew, que é como quem diz Smélio, Kaines, Lazy, Smant e Beatscuits em representação da À Socapa Records, um selo que não esconde a marca de água da escola que também representa. Enquanto houver matéria para dar, essa escola vai continuar.
[TEKILLA] “Gratidão” ft. CAMILA MASISO
O que ficou inequivocamente translúcido em Olhos De Vidro — o mais recente longa-duração de Tekilla — é que ele, mais do que rapper, se destaca como curador da sua própria música; alguém que tem uma visão apurada para os parâmetros mais elevados, e que liga todas as pontas soltas da excelência. Desde Sam The Kid, com um beat mais próximo da zona cinzenta que KAYTRANADA pintou para Mick Jenkins, em BUBBA, do que das tradicionais batidas rubricadas por si, a Camila Masiso, mais uma voz feminina repescada pela figura principal de “Gratidão”. Por vezes, o papel secundário acaba por ser o mais importante… “‘Tamos sincronizados”?
[Tiwi] “A Minha Bolsa”
Do instrumental à voz, há semelhanças que continuam a saltar ao ouvido: o tom de Tiwi , em “A Minha Bolsa”, remonta automaticamente para o de Kaps, curiosamente ambos provenientes da Linha de Cascais. Ainda assim, este paralelismo não se assemelha a algo como o de Dillaz e Piruka, já que, fora o tom, tudo o resto é diferente entre Tiwi e Kaps, desde a construção rimática ao flow. Mas isso não impede que se encontrem a meio caminho, num apeadeiro, para uma fusão de graves. Alguém sai nesta estação?
[Giovanni x Buster] “Step By Step”
“Vialonga é o bairro de onde eu venho”, começa Giovanni por dizer. E, hoje, esse código-postal tem um peso acrescido no rap, muito por culpa de nomes que vão de Phoenix RDC a Wet Bed Gang. Para Buster o código de-postal é outro, mas os pesos sobre os quais versam não diferem assim tanto na balança. Da V-Block ao Aleixo, a linguagem é a mesma — daí esta conexão improvável resultar.
[Edi Ventura] “Sorte” ft. GSon
De Waze a Sam The Kid, passando por Slow J, Holly Hood, Mishlawi, Richie Campbell, Jimmy P ou Lhast (entre uns quantos outros), o que podemos concluir, em primeiro lugar e com alguma segurança, é que na hora de colaborar o factor “variedade” pesa bastante na escolha feita por parte do elemento mais prodigioso do quarteto WBG. E, já se sabe, quanto maior a variedade de participações, maior a probabilidade de nem todas agradarem a cada um de nós. Nesta, “Sorte” a nossa e a de Edi Ventura, agradou. Só nos faltou o que falta sempre que GSon se fica pelo refrão de uma canção: queremos versos, Gerson!
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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