Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[SCORP] “DIAMANTES”
Quando se fala de diamantes e rap bruto, o nome de Scorp vem rapidamente à cabeça. Depois de editar o EP ASA com Dontlike, há coisa de três meses, o rapper das Caldas da Rainha regressou ao trabalho para lapidar rimas e “pulir diamantes”. Se o objectivo era “ter o som que o Chulla aplaude”, só Chullage pode dar esse veredicto. Mas por cá aplaudimos em primeira mão e de pé.
[B Quest] “Tetris”
Os rapazes da BCLNSX têm vindo a aprimorar a sua estética e, depois de Cálculo espalhar glamour com Royale, agora é B Quest quem dá luzes do seu requinte cintilante num novo single.
Cláudio Bastos encaixou umas rimas em “Tetris”, por cima de uma camada instrumental alinhada pelo próprio em conjunto com o parceiro supramencionado, num tema que espelha bem a personalidade que está a desenvolver como artista.
“E se eu criei identidade, eu apliquei-a no rap”.
[tigaz e gonsalocomc] “símio”
Inverteram-se os papéis: Wugori e gonsalocomc, que juntos confeccionaram o impressionante Mal Passado Bem Pensado, trocaram de postos em “símio”— o rapper e produtor da Amadora saltou para as batidas, enquanto o jovem produtor e rapper de Braga assaltou as rimas. “E tigaz?” — perguntam desse lado. Bem, o também MC bracarense foi quem abriu a deslumbrante faixa que junta alguns dos nomes mais interessantes a brotar na cena alternativa do rap nacional.
[Salazar] “Dia D”
No “Dia D”, Salazar lançou um novo tema produzido por OUHBOY com scratch de Dj Perez. O rapper da Linha de Cascais é um fiel seguidor dos caminhos férreos que guiam o rap no seu código postal: rap cheio de atitude, com uma confiança inabalável e uma punchline sempre na ponta da língua. “Já ‘tá na altura da tuga limpar os ouvidos” — e Salazar trouxe barras em forma de cotonetes.
[Birro] “Começar de Novo”
“Começar de Novo” é um tema que integra a compilação 14 DE OUTUBRO, editada pela Segundo Piso do próprio Mundo Segundo, que chega agora em formato audiovisual pela mão de Dekor. E assim que o instrumental de Mundo Segundo arranca, apoiado pelo sratch de Dj Score, somos automaticamente transportados para uma época em que o soulful boom bap predominava. Essa deixa melódica embalou Birro para uma retrospectiva desses tempos, em que uma geração do rap portuense tinha tudo por descobrir no hip hop. Estão aqui umas quantas páginas escritas da história.
[Maze & AZAR AZAR] “Rubi”
“Corriqueiramente, ouvirmos a vida nos subúrbios ser descrita como um simples vácuo. No entanto, basta que nos aproximemos para a riqueza do seu folclore se confesse. Aqui, são as zonas cinzentas exteriores que estabelecem os limites, mas o que é verdadeiramente determinante é a batalha interior a que estas obrigam.”
Este é o prólogo de “Rubi”, um encontro surpreendente entre Maze e AZAR AZAR sob a alçada da Monster Jinx que bem podia ser banda sonora de um romance policial transposto para o cinema (quiçá pela visão de Marco Freire, que é o nome por detrás do videoclipe do tema). “Rubi” é também o primeiro avanço do projecto Sub-Urbe que junta André Neves a Sérgio Alves, parceria esta que contou com a colaboração de Ricardo Danin na bateria, Bruno Macedo no baixo, Manu Idhra na percussão e DJ D’One nas agulhas neste primeiro de três episódios.
[Mirai] “Presságio”
Quando pressagiámos que o futuro da música portuguesa passava, também, por Mirai, tivemos em conta, entre outros factores, a sua faceta camaleónica. Agora, é o próprio Mirai que vem confirmar essa sua característica — “tu ficas estático quando sou versátil” — e reforçar o “Presságio” com um novo single irresistível produzido por NoGap.
[YOUNGSTUD] “A TEORIA DO PEIXE MIÚDO”
Vamos avançar com uma possível explicação para “A Teoria do Peixe Miúdo”: quanto mais destacamos YOUNGSTUD neste espaço, mais o “miúdo” insiste em trazer novos motivos para cá aparecer, com abordagens diferentes e a renovar o seu cartão-de-visita a cada encontro. E já dizia o ditado: mais vale sozinho no aquário do que mal acompanhado no cardume.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)