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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Mura] “Quando Eu Menos Espero”
Quando nós menos esperamos, Mura volta à carga. Ainda agora estreou o seu EP V2.0 e já tem novidades assinaláveis. Além de “Quando Eu Menos Espero”, um freestyle gravado sobre o instrumental de “p u n c h i n ‘ . t h e . c l o c k” — faixa do novo álbum de J. Cole, The Off-Season —, o rapper de Almada teve a sua performance nas Lume Sessions revelada também na semana que passou. “Agora é Mura Best como George”!
[YOUNGSTUD] “SILÊNCIO”
Se há mérito que devemos reconhecer a YOUNGSTUD (que auxiliou Mura na actuação para as Lume Sessions acima referida), esse passa, inevitavelmente, pelo facto de, mesmo nas fases em que se foca na produção, o rapper de Alverca não se deixar ficar em silêncio no que toca às rimas. É um dos nomes que mais passa por aqui e isso deve-se à consistência do seu trabalho, quer em qualidade, quer em quantidade.
“SILÊNCIO” é um apelo a que se deixe falar quem tem, realmente, algo significante a dizer, a começar pelo próprio YOUNGSTUD, que merecia mais tempo de antena. Escusado será continuar a divagar sobre o tema quando a faixa fala por si e mais alto do que qualquer descrição da mesma. Saramago agradece. Pronto, já me calei.
[Dillaz] “Juvena”
O regresso de alguém como Dillaz não podia, de forma alguma, passar despercebido. Depois de uma reentrada com estrondo, por “Galileu”, num jogo que dominou desde cedo e como poucos, o rapper da Madorna reapareceu no seu bairro (de onde nunca saiu), montado num cavalo e com o fumo da água quente por trás a fazer de nevoeiro sebastianista.
“Juvena” é, ao que tudo indica, o segundo tema do próximo álbum de Dillaz, esperado ainda para 2021, e teve, novamente, a visão de Madeinlx no ambicioso vídeo que atingiu o primeiro lugar nas tendências a nível nacional. De resto, nas rimas, nas métricas e nos flows é o mesmo “Dillaz fucking MC” de sempre (mas agora com cabelo e um novo ar juvenal). Vira o disco e toca o Dillaz.
[MGDRV] “FINAL DO DIA”
Quase um ano depois desde a última vez que os MGDRV nos trouxeram novidades sobre o próximo projecto em grupo, chegou a hora de anunciar o “Final do Dia”, o terceiro single que fará parte do novo EP dos Megadraive.
O trio fez-se à estrada neste novo lançamento cujo vídeo complementa a mensagem já de si inequivocamente explícita: contam uns com os outros numa jornada de perder a conta e sem final à vista. “No final do dia tudo isto conta”.
[Beiro] “Ouvido” (com João Não)
Se por um lado temos visto, cada vez mais o nome de Beiro associado a tantos outros como um dos principais produtores a destacar na actualidade, a nível nacional, por outro o seu nome (e o dos seus pares) vem frequentemente assinalado em segundo plano, algo paradigmático no rap: nos últimos anos, o MC tornou-se na figura principal.
No entanto, aqui o protagonista é mesmo Beiro, que aparece como anfitrião de “Ouvido” ao convidar João Não para o seu baile, ele que balança com a voz entre notas e géneros como poucos ousam ou conseguem.
Assim, depois de inaugurar a própria editora — a CRVVO —, André Dias lança o primeiro tema em nome próprio debaixo do seu tecto editorial que prenuncia uma leva intensa de música nova para nos surpreender tanto quanto esta canção. Mas só para quem tem ouvido.
[ORTEUM] “PONTOS DE VISTA”
No mês em que se celebra o Dia Mundial da Criança, os ORTEUM reproduziram os “Pontos de Vista” de quem vê o mundo de baixo para cima sem compreender ao certo como este funciona.
Sobre o instrumental soprado por Metamorfiko, Nero e Tilt voltaram a contrariar a sigla que os une, nos versos, e a eles juntou-se Mass no refrão, para completar um dos trios mais respeitados no rap português.
[Plutonio] “Coisas Na Life”
A trilogia de Plutonio Pão Na Mesa chegou ao fim com o desvendar de “Coisas Na Life”, depois de terem sido apresentados, na semana passada, os dois primeiros temas de seguida, “Duas da Matina” e “Pão na Mesa” com Richie Campbell.
Produzida por benji price, “Coisas Na Life” revela o final de uma história pensada pelo rapper do Bairro da Cruz Vermelha, realizada por Leonel Vieira (realizador do filme Zona J, que inspirou o MC de Cascais) e totalmente ficcionada entre ambos, para falar sobre assuntos, esses, bem reais no dia-a-dia vivido em qualquer bairro da periferia.
“Cash Rules Cypher #2” (Silva G, Ferry, Subtil, Buster, Vato, Bambino, ZA, Danny The Dawg)
Há novo cypher com carimbo Cash Rules — já se sabe o que isso significa. Dois anos depois da primeira edição com os rappers Pródigo, Vilão, Jackpot BCV, Torrete, FDAN, Chyna, Nameless e TOM, reuniu-se nova turma, apenas com Silva G e K. Otic (na produção), os homens da casa, como repetentes. Desta vez foram chamados ao microfone Ferry, Subtil, Buster, Vato, Bambino, ZA e Danny The Dawg. Num formato competitivo por natureza, difícil fica escolher quem “matou” os dois beats desta segunda edição.
[Nitry] “Flado Mudjer ka ta Repa” feat. Priscilla
Tomara que o rap tivesse mais expressão feminina. Se assim fosse, o preconceito sobre a capacidade das mulheres num meio predominantemente masculino ver-se-ia esbatido. Enquanto essa expressão não ganha proporções maiores, admiremos exemplos como “Flado Mudjer ka ta Repa” de Nitry, com Priscilla, como prova exímia e statement imponente do poder destas mudjeres.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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