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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[SCORP X DONTLIKE] “ASA”
“Mas dizer que és rap é couro, isso é Bronx para broncos” é uma das várias punchlines que Scorp traz debaixo da “ASA”, “cuspidas” em cima de um instrumental igualmente incisivo de Dontlike. O registo desta malha é de cortar à faca, do início ao fim, já que o rapper garante que “quando o tema é rimas, tenho a puta da mania”.
[Necxo] “Tiro certeiro”
“Há sempre um tiro que acaba por ser certeiro”, e no caso de Necxo bem pode ser este. Da Zona J ao 2º Piso é sempre a subir, e “Tiro Certeiro”, calibrado por Mundo Segundo, é mais uma faixa da compilação 14 de Outubro promovida pelo MC e produtor de Gaia novamente em destaque nesta rubrica semanal. Com Francisco Gomes aka Queragura no vídeo, o palco do tema (com teaser revelado sob o piano e a voz de Jorge Palma, de “Estrela do Mar”) é precisamente Chelas, com o bairro no epicentro da faixa – “se o vídeo não reflete o que vês da janela, isso não é clip”. E por muito bem que Necxo descreva essa vida no bairro, “meter a vida na tela não é tê-la ao vivo”.
[RUSSA] “Ex Calibur”
RUSSA fez da caneta a sua “Ex Calibur”, num single produzido por Sickonce e com pós-produção de El Conductor. A rapper tem mostrado uma evolução constante nas rimas e nos flows, e parece estar agora capaz de pegar sozinha na sua espada e ir à luta, de coração partido mas cheio.
[João Pestana] “TARDIO”
A hora mudou na última madrugada de sábado para domingo, e ficámos a perder 60 minutos, mas para João Pestana uma hora de sono a menos não faz diferença – “Não é tarde, minutos são casuais/ Há tempo para partir instrumentais”. Foi com essa brutidão que arrombou a porta de “Tardio”, em boa hora, para dar, “levar na tromba e chorar por mais”. E esse “mais” há-de vir no seu futuro EP Meliante.
[NAMELESS x SAM THE KID] “HOUDINI”
Já se sabe que ter Samuel Mira no instrumental vai resultar em magia sonora, mas desta vez o ilusionista foi Nameless em nome de “Houdini”. Os dois artistas já haviam trocado cartas nas mangas em “Narrador”, faixa integrante da compilação Mechelas de Sam The Kid, e neste novo truque reaparecem juntos em Nova Deli, o novo EP de Nameless e o seu segundo projecto a solo. Ainda assim, neste acto protagonizado pelo rapper de Massamá não houve nada a esconder – as rimas, como sempre, foram esfregadas nas nossas caras. Só não as vê quem não quer…
[TRISTA x JULINHO KSD] “Lost”
Perdidos de amores, Trista e Julinho KSD voltaram a encontrar-se em “Lost”, guiados por Fumaxa no instrumental e dirigidos por Diogo Carvalho no vídeo. Apoiados ainda nos instrumentos – as guitarras, a bateria – tão reais quanto os sentimentos que expressam no tema, os dois artistas do colectivo Instinto 26 destacam-se cada vez mais como duas vozes incontornáveis da Linha de Sintra; Trista melhora a cada single que lança e Julinho já tem selo de banger garantido em qualquer faixa que entre.
[nastyfactor] “MM Freestyle”
E por falar em Linha de Sintra… Quem é que está no topo de Mem Martins? É nastyfactor, pois claro, e se dúvidas houvessem, “MM Freestyle”, escrito, produzido, gravado, misturado e masterizado pelo próprio, não deixa a mínima margem para tal. O rapper e produtor multifacetado da GROGNation tem feito questão de mostrar divisas no seu papel, consolidando cada vez mais o seu estatuto entre os MCs mais temíveis na hora da escrita. Queriam dicas da semana? O nastyfactor deu-nos dicas do mês, ou até mesmo do ano!
[Vácuo] “Estilo 90’s”
Em homenagem ao “Estilo 90’s”, Vácuo coleccionou uma série de referências dos anos 90 em novo tema produzido por Nigma e Raias. De Notorious B.I.G. a O.J. Simpson, de Shawn Michaels a John Travolta, de Miguel Esteves Cardoso a Manuel Serrão ou de Júlia Pinheiro a Rita Blanco, de Jorge Gabriel a Kapinha, da Shell à Nissan, da Aspirina à MultiOpticas, do Zorro ao Stormtrooper, foram revisitados inúmeros clássicos contemporâneos da era dourada do hip hop. E se é de clássicos que aqui se trata, “Life é Pulp Fiction, Vácuo o Vince Vega”.
[Alcool Club] “Com fiança” feat $tag One e Tilt
Numa semana de elevado calibre nas rimas e batidas, o ponto alto foi atingido com o regresso dos Alcool Club aos discos. O Último a Sair é o novo projecto da casa Artesanacto e o terceiro do mítico grupo de Sines. Este trabalho é marcado por uma série de participações entusiasmantes, mas, invariavelmente, é Tilt uma das que sobressai, a larga escala, ao ser “o último a sair” do tema “Com fiança”, que, além dos versos confiantes de Praso, Montana e $tag One, e das batidas e scratch de Tommy El Finger (com cuts finais do anteriormente mencionado Biggie Smalls), conta com a confiança e as barras estonteantes da terceira parte (com umas quantas casas decimais a mais) de ORTEUM. “Posso olhar para o Sol, eu já vi tudo” – e eu, só de ouvir o Tilt, já ouvi tudo.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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