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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Navalha] “Coltrane” feat. IAMKENNIS
Basta-nos a narrativa visual — na lógica de que com pouco se faz muito — para mergulharmos a fundo no universo deste “Coltrane”. E ao simbólico peso do nome que dá título ao novo single de Navalha corresponde a profundidade da sua voz, elevada em destaque sobre a cama instrumental que a suporta. Rapper de ideias fortes e palavras graves, tem-se dado a descobrir a seu tempo como alguém com quem quereremos passar muito mais tempo entre auscultadores.
[Mura] “maçã”
“Toque de bola, Bernardo” — elegante, gracioso, subtilmente inteligente e verdadeiramente encantador. É metáfora em causa própria, mas não há como não assinar por baixo nestas peças de Mura. Os beats que tem escolhido a dedo para a sua mixtape Tudo Ao Contrário têm sido fundamentais nesse nível superior com que o rapper de Almada se tem apresentado nos seus últimos lançamentos. Mas há, além dessa vantagem de antemão, uma diferença assinalável no registo do co-autor de ADAMAS, que tem aprimorado as suas capacidades a olhos vistos, provando que é nos pormenores que se distanciam os bons dos melhores.
[Chico da Tina] “Romântico”
Já lá vão os Verões de romance versado em idiomas pseudo-germânicos, e com Chico da Tina essas juras de amor prometiam, a certa altura, ser para sempre. Mas como invariavelmente acontece com um “Romântico” de paixões fugazes, foi para outras praias que o artista de Viana do Castelo se aventurou, já bem fora do nosso pé. Agora que canta sobre amor num português bem mais explícito, as suas cartas enamoradas têm deixado a desejar. Excepção feita a esta última, endereçada por via do centenário do nascimento de Tony de Matos, que — não obstante continuar a ter como tónica a superficialidade lírica gratuita — nos volta a fazer sonhar com um Chico de outros tempos.
[Alcool Club] “Manhãs de Lata”
No arranque de 2024, “Cem Anos” assinalou um regresso dos Alcool Club aos lançamentos. Volvida a primeira metade do ano, “Manhãs de Lata” surge como segundo avanço do mítico grupo de Sines originalmente formado por Praso, Montana, Harte e Sanguibom. Um tema-ode às ressacas douradas de um colectivo que volta a acordar com histórias de ontem para contar amanhã. E ainda que pareçam as mesmas de sempre, não deixa de haver um ponto a acrescentar…
[Subtil] “Até Aqui”
Temos atirado palpites ao vento sobre um eventual regresso de Subtil aos longa-durações, mas até aqui o rapper algarvio nada nos tem desvendado nesse sentido. Até ver, somam-se singles em catadupa, todos eles com uma linha muito bem definida — o que, no caso do autor de C’Alma, não é propriamente de estranhar —, mas sem mais do que meras suposições no horizonte. De novidades, pelo menos, não teremos razões de queixa.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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