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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[E.se] “Hubris”
É com o tema que dá nome ao álbum do qual E.se desvenda o segundo single. Hubris é o título do terceiro longa-duração que o rapper de Almada está em vias de editar pela sua Produções Hipotéticas, disco que promete abrir ainda mais os horizontes de quem se tem notabilizado, também, pelas múltiplas pontes que consegues estabelecer. Com “Hubris” — faixa que nos revela referências subtilmente assumidas por Carlos Alves, desde hinos maiores de influências suas como são os casos dos autores de “UMI Says” (Mos Def) ou “Self Care” (Mac Miller) — descobrimos que, desta vez, é Lunn quem tem uma palavra decisiva a dizer na produção de um álbum que se espera, no seguimento dos seus volumes anteriores, ainda mais analítico.
[Ramone Brow] “Inacabado” feat. Lazy
À Socapa Records volta a ser fonte de boas novas, desta vez não directamente por meio de Lazy, mas indirectamente com o cabecilha da editora portuense a assumir, também, responsabilidade no lançamento. Por sua vez, é Ramone Brow — nome até à data desconhecido deste lado — quem protagoniza “Inacabado”, tema que evidencia os dois MC por cima de cadências drill — com uma micro-dose de rage à mistura.
[On the Spot#12: UEST.] “Blackout”
Ainda há um par de semanas destacávamos a longevidade de uma rubrica sem cadência definida, e já há novo episódio a reportar. On the Spot já leva uma dúzia de edições, e é UEST. quem, à semelhança do seu antecessor imediato, assume o protagonismo da décima segunda. Significa isto que é ele quem define o tom, com produção própria, para os minutos que se reservam à exibição do melhor material lírico que tem a oferecer. Nada menos do que a fasquia sobre um rapper e produtor deste calibre exige, portanto.
[Vácuo & Rilha] Fleuma Nossa
Ficou prometido em “MC’s de Garagem” e não tardou em ver-se cumprido em Fleuma Nossa. Vácuo e Rilha não perderam, por isso, muito tempo para mostrar o que haviam, discretamente, andado a congeminar em conjunto. Só não se verificou o nosso palpite projectado a partir do que ficou do single único de antecipação do disco: além de Catalão, há uma série de gente que deixa neste Fleuma Nossa o seu cunho pessoal, dando ainda mais sentido à causa aqui apresentada.
[Uno] “Isto é uma arma”
Isto é mesmo uma arma. Isto, a palavra, bem-entendido. E bem entendida, já agora. Por isso, há que saber usá-la, não necessariamente para o bem, mas no caso de Uno nunca alheia ao mal. Males esses que pisam o nervo poético deste rapper eternamente inconformado, quer com o status quo da realidade que o rodeia, quer com a sua própria obra. Obra feita é obra arquivada, revisitada apenas por força das circunstâncias de quem se propõe a expô-la com alguma frequência, ainda que o seu indomável impulso criativo o obrigue a renovar-se constantemente. Mais esta palavras desarmadas para denunciar outro álbum a caminho.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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