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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Kristoman] “Aladino”
Kristoman está definitivamente de volta aos lançamentos a solo, o que nos leva a crer que o seu próximo trabalho — descrito pelo próprio como o seu melhor projecto a solo que já fez até à data — poderá estar mais próximo do que seria de antever. Depois de uma ode à sua jornada no hip hop a partir da cidade de Loulé, o rapper algarvio sobe à capital à boleia do tapete de “Aladino”, à reconquista de toda a praça nacional.
[Parker] REFORMA EP
De Parker já nos habituámos a não saber o que esperar, que é o mesmo que contar com tudo. Criatividade não lhe falta, isso ninguém lhe tira, ainda para mais tendo a benesse da proximidade com uma série de inventivos criadores da sua geração (como é o caso de bedhop) que tantas cartas têm, discretamente, dado ao hip hop nacional — e não só. Um jovem produtor na reforma e um rapper promissor de baixa? Com essa não contávamos de maneira alguma. E o tempo que quer a reforma, quer a baixa, lhes têm dado tem sido aproveitado da melhor forma.
[João Pestana] Cuidado com as Companhias
“Cuidado com as companhias” é advertência feita por quem as escolhe a dedo. Há novo trabalho na estante discográfica de João Pestana, ele que ao longo dos anos se tem revelado um dos representantes mais proactivos do orgulhosamente isolado underground nacional. Porque, se mais vale só que mal acompanhado, ideal é mesmo só contar com companhia certa, sobretudo quando o assunto é rap e o objectivo é a criação conjunta.
[Mini God] “Pa Li”
Os anos passam e há coisas que, felizmente, parecem não mudar. Foi em 2021, aquando da edição de Nasci Pa Keli, que enfim nos convertemos à obra de Mini God. Hoje, parece-nos incontornável que o MC de Oeiras seja um dos grandes valores do rap crioulo, e “Pa Li”, último single do autor de trabalhos como Rap é Nos (2020) ou They Can’t Take It (2022), confirma-nos que manter uma linha não implica — ao contrário do que recentemente temos visto noutros casos — estagnar. Aprimorar também é evoluir.
[Petr Gdsoon] “Mito de Sísifo”
“Mito de Sísifo” abre o disco homónimo que no título ainda prevê o preâmbulo de que o que se segue se caracteriza por “música para o conforto dos teus fones”. Pelo menos a julgar pela faixa inaugural, Petr Gdsoon não defrauda as próprias expectativas. Já a partir daí, ainda o sentimos a procurar encontrar-se nos vários caminhos que experimenta trilhar a par de Pierre Camus, alter-ego pelo qual responde no mesmo trabalho.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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