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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[ELIOT & Jeezas] “CHÁ DE HIBISCO”
Rap e jazz entram num bar e pedem um “Chá de Hibisco”. A receita é de autor e vem condimentada por ELIOT e Jeezas, dois sommeliers que, falando línguas bem diferentes entre si, se entendem mutuamente na perfeição. Linguagem bem diferente, esta, da que nos trouxe o rapper em AVESSO, EP que concebeu a meias com LawLess no mês (e no ano) passado. Aqui, bem menos regrado na forma, ainda mais livre no conceito e com voltas completamente diferentes, mesmo que circulares. E, francamente, são estas voltas que, deste lado, mais no deixam de cabeça à roda, encantados com este aroma.
[Timor Ysf] “Comparis”
Há qualquer coisa na fórmula “faixa drill + vídeo no bairro” que, por muito — e sublinhe-se esse “muito” — que já se tenha visto, não deixa de ser atractivo. “Comparis” segue à risca essa fórmula e Timor Ysf é alguém em quem esse registo sempre foi habitual. Mais uma razão, por isso, para que a novidade já soe a velha. Mas a verdade é que neste caso, regra geral, é precisamente isto que queremos e esperamos dele.
[Benny Broker] “Sempre Enfim”
“As pessoas só querem ouvir a verdade…” não é mentira nenhuma. Quem o diz é Benny Broker, rapper do mais transparente que se possa imaginar. What you see is what you get, como dizem os gregos que falam inglês. E continua: “… mas nem todas. Outras preferem andar enganadas. Eu arroto em português, os bifes nem percebem metade.” Ou seja, nem para grego nem para inglês ver. Até porque não há tradução possível para a linguagem de Benny B., uma das vozes mais identitárias que o underground (aquele que não se diz, simplesmente é) português já ouviu, que mantém acesa a chama de um movimento que, em boa verdade, só pertence a ele e aos seus. E no fim de contas vamos a ver e já há mais um projecto a caminho: Alpacavalagarta será o próximo álbum do autor de Fruto Do Sono, que continua bem desperto, sobretudo quando o assunto é verdade.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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