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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/12/2023

De 04/12/2023 a 10/12/2023.

Rap PT — Dicas da Semana #165

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/12/2023

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.


[NOIATT] “O Amolador” feat. GriLocks

Foi o “Sultão” quem tocou notas de amolador e anunciou a chegada deste “afiador de facas com letras”. E da primeira faixa de Oblíquo até à sua revelação na íntegra foi um instante. Para o efeito, NOIATT contou com Mura no empurrão inicial e terminou a tarefa a meias com GriLocks. No sétimo tema do seu novo EP, o rapper e produtor cerrou punhos e dentes sobre facas e desferiu golpes rimáticos sem dó nem piedade.


[nastyfactor] “Dança”

Mais cedo ou mais tarde, até os melhores rappers ganham curiosidade em ir além do próprio rap e explorar outras capacidades para lá da sua zona de conforto. No caso de nastyfactor, essa transição tem sido gradual — e nunca definitiva —, mas nesta “Dança” o volte-face é total e assumido. Com a dupla formada por Migz e Ariel (que tantas cartas tem dado também na pop) em evidência na retaguarda — onde encontramos, também, os contributos de Peter e Épico —, o MC e produtor de Mem Martins aventurou-se fora da sua praia sem, no entanto, ficar fora de pé. E ainda o barco vai de saída: sabemos agora que esta “Dança” é o primeiro passo para o sucessor de A Vida dos Felizes.


[ELIOT x LawLess] AVESSO

“O que fazemos numa madrugada em Lisboa quando as ruas se encontram vazias e todos os espaços estão fechados é única e exclusivamente da nossa conta. Não importa se temos encontro marcado com a alegria, a euforia, a desilusão ou a depressão; se estamos completamente lúcidos, com ‘moca’ de sono ou com a psique adulterada pelo(s) consumo(s) de alguma(s) substância(s). Ninguém julga porque também não há ninguém a ver. Estamos sós, entregues às nossas acções e pensamentos. E é precisamente nesses momentos que, por vezes, os melhores raciocínios se manifestam pela massa cinzenta, cabendo-nos a nós decidir se queremos guardar aqueles frames como memórias íntimas e pessoais ou eternizá-los em algo mais palpável num qualquer pedaço de arte acessível a mais pessoas.”

Escrito por Gonçalo Oliveira, na crítica que assinou sobre AVESSO, é um bom preâmbulo para o estado de espírito que o novo trabalho de ELIOT convoca. Desta vez ao lado de LawLess da primeira à oitava faixa, o sucessor de DIAS DEPOIS passa menos pelos registos jazzy-soulful e prende-se mais por cadências não tão luminosas quanto a presente época festiva pede. As festas, aqui, são outras, de certa forma fúnebres até, mas não menos esperançosas apesar de tudo. Porque, mesmo do avesso, é para a frente que esta marcha segue e abre caminho.


[Cachapa] “Imaginar Amor”

Ainda há uma dúzia de dias editou um novo disco e já tem novas cartas para dar. De amor, por sua vez. Quem imagina 16 novas peças, também magica 17. E assim, depois de lançar Detalhe — segundo álbum concebido a par de DJ Sims pelo Sistema Intravenoso deste —, Cachapa volta com uma palavra extra a dizer em “Imaginar Amor”, canção que, presumivelmente, traz no timing a sua força. Porque, quando Roma vira do avesso, não há como ficar impávido a olhar para o que resta.


[Farrusco] “Ouvidos Tremem” feat. Pibxis

Quando a conexão é FarruscoPibxis, podem crer que os ouvidos tremem. E já não é a primeira vez que o chão abana com um cruzamento de barras tectónicas destas: já “Erro Crasso” tinha servido de réplica bastante do que dois dos rappers mais carismáticos da nossa praça poderiam fazer juntos, e agora voltam a colaborar em modo advertência na penúltima faixa de Vitalidade, o novo longa-duração do MC de Odivelas — inteiramente produzido por saraiva, pela sua Zona Recs, pois claro.


[Loreta KBA] “Ska”

Vale sempre a pena, seja de que perspectiva for, dar uma vista de olhos na caixa de comentários de qualquer tema. É por lá que, regra geral, encontramos bons indicadores do que, mesmo nas primeiras impressões, representa essa canção para os ouvintes — e, no caso de “Ska”, não poderia haver uma observação mais paradigmática que esta no que diz respeito a Loreta KBA, ao rap cantado em crioulo e até à própria visão editorial desta coluna:

“Como português agradeço a este homem, não gostava de rap crioulo até ele chegar… Para mim hoje em dia rap crioulo é como rap tuga, bem vindo.”

Não é de estranhar que Loreta seja um dos grandes embaixadores do rap crioulo em solo português, quer pela sua versatilidade e, principalmente, pela sua destreza a vários níveis. Mas chegar às pessoas derrubando a barreira da língua — com tudo o que isso, neste aspecto em particular, significa — é coisa que, para o bem e para o mal, não está ao alcance de todos. E a fazer do comentário assinalado exemplo, talvez esse alcance tenha mesmo alargado para muita gente graças à música de Loreta.


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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