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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Zara G] “Fasho”
É conhecido por ser um homem de poucas palavras em contextos vários, mas na hora de responder às vicissitudes do seu ofício Zara G não se acanha em gastar o seu latim. Seja essa reserva timidez ou introversão, facto é que o rapper da Vialonga não deixa muito por dizer nas suas letras. E depois de mais um impactante capítulo no percurso dos Wet Bed Gang, assinalado em Fevereiro com Gorilleyez, a quarta parte do grupo da “V-Block” está, agora, a dar cartas novamente a solo — ele que de “Sem Juízo” a “Chaminé” se revelou sempre um fenómeno incontornável.
[Pestana x Chapz] “Cidade das 7 Colinas”
Não são os primeiros nem serão, certamente, os últimos a encontrar inspiração nessa “Lisboa, Menina e Moça” — aqui com o próprio Carlos do Carmo de viva voz (ainda que manipulada pelas técnicas-base da produção). Mas a “Cidade das 7 Colinas” que Pestana e Chapz pintam não é tão luminosa quanto se faz crer para (literalmente) inglês ver. Se a capital portuguesa não esconde os seus encantos, o mesmo não se poderá dizer dos seus vícios. E a um par de semanas desta se tornar num ponto de encontro para jovens de todo o mundo, os dois vigilantes em causa aprontam-se ao serviço, para fazerem uma ronda alternativa pela cidade.
[Ícaro SDR X Lawless] “T0 e uma Marquise”
Por estes dias, um “T0 e uma Marquise” nessa “Cidade das 7 Colinas” acima referida comporta um preço que, quanto à primeira divisão, já poucos podem pagar — e quanto à segunda nem o dinheiro parece valer (se se recordam do caso administrativo que envolveu Cristiano Ronaldo e a sua propriedade à Rua Castilho). O código postal de Ícaro SDR, porém, é outro: directamente de Famalicão, o rapper e produtor que representa a Sharp Records dividiu “casa” com Lawless, despido de expectativas alheias, mas, ainda assim, à procura do seu espaço no meio disto tudo.
[Mary Jane] “Como Se Quer”
Trazer música nova para cima da mesa logo a seguir a editar trabalho em nome próprio é, fazendo nossas as palavras de Mary Jane, “Como Se Quer”. Esse é, precisamente, o título da mais recente faixa assinada pela rapper que se estreou no final do mês passado com Mary Jane, wassup!? — um tema que se vê lançado sob a alçada da Caixa Cartão Collective, para a segunda edição do segmento Radar, com a mão de Quartzo e Beiro na produção.
[Anonymouz_va] “Tudo”
A conta de que não há duas sem três volta a comprovar-se por estes lados com a terceira aparição consecutiva de Anonoymouz_va nesta sede. E se à terceira é de vez, segundo dizem, o autor de “Insónias” e “Sunha” deu “Tudo”, à letra, no seu novo single — um tema que contraria o registo mais comum do drill cantado em crioulo, por sua vez desacelerado, com tempo e espaço para a honestidade sob a forma de verso, numa sincera reflexão sobre o lado fatídico dessa vida tantas vezes glorificada precisamente no respectivo registo dominante.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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