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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Farrusco] “Prioridades”
O Cão Que Encontrava Trufas continua insaciável, mas também não falta quem alimente a sua fome de batidas. E não tem ele razão de queixa nessa matéria: o sample servido, em “Prioridades”, por gonsalocomc é tudo menos “outra vez arroz”; e Farrusco faz-se a esse bife como quem não come — ou rima — há demasiados dias. Prioridades essas que passam, portanto, pelas necessidades básicas.
[Kaiza] “Rua K”
“Rua K” foi mais um produto com carimbo Zona Recs expedido na última semana. E, a julgar pela urgência na voz de Kaiza, a encomenda dirigida a este endereço de uma só letra já devia ter sido entregue há muito. Responsabilidade total do remetente, que assina ainda o instrumental — por sinal, a parte da mensagem com mais por dizer, ainda que, nesse campo, sem palavras para dar.
[Dezinho] “Baba (remix)” feat. Bebuxxa
O remix de “BABA (Toma Tussi)” — tema de Russ Millions que já leva mais de 11 milhões de visualizações em pouco mais de um ano — foi tomado à letra e à imagem: tanto no refrão de abertura como no cenário inaugural, Dezinho e Bebuxxa seguiram a linha original. Mas, quando Venus acentuou a cadência predilecta dos dois rappers em evidência, nenhum deles se deixou ficar pelo registo veranil, e mergulharam ambos nas águas onde melhor se movem — as do drill cantado em crioulo.
[L-ALI & Lunn] “Brio”
Permitam-nos a extensão do critério nesta sede: a nova proposta de Lunn e L-ALI, como primeiro avanço oficial do EP Balanço que ambos estão a preparar juntos, pode estar mais próxima das pistas de dança menos convidativas ao hip hop, mas não deixa de haver na voz de “Brio” um exercício de rap que, aliado a batidas estivais e dançáveis, abre um mundo de possibilidades que ainda este ano vimos resultar da melhor maneira com, por exemplo, Aminé e KAYTRANADA em KAYTRAMINÉ.
[may] “Seita”
Não nos passava no radar as coordenadas de may desde os últimos dias de 2021, altura em que editou Esterno como o seu trabalho de estreia em nome próprio. Mas quem está (bem) viva sempre aparece: sem cultos associados, a cantautora regressa novamente a solo com “Seita” num novo exercício lírico de mãos dadas com a spoken word — desta vez sob a produção de SPVSR, Bernardo Centeno e da própria autora.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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