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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Mirai] “Metamorfose”
Não é propriamente uma transformação do dia para a noite — nem se pedia isso, em boa verdade. Estamos em crer que esta “Metamorfose” de Mirai marca, por sua vez, o início de um novo ciclo artístico. Do que nos fala o autor de Tempus, porém, é de uma mudança a nível interno, inequivocamente pessoal, que na imagem se concretiza, metaforicamente, na morte como porta para um renascimento. Por cá, não vamos tão longe. Basta-nos vê-lo com a mesma vitalidade que mostrou ter até agora — “Metamorfose”, esta, incluída.
[Yur1] “JÚRIS”
Nem juiz em causa própria corre, nesta sede, o risco de cair na parcialidade e, por mais que se renovem os membros do júri, o veredicto há-de ser sempre o mesmo: Yur1 é cúmplice do que escreve e culpado do que canta, mesmo que à letra só se encontrem indícios subtis. Por muito ágil que seja nos esquemas métricos, já levamos umas quantas semanas nestas andanças de “agarrar” os rappers mais habilidosos da nossa praça. E se aqui temos denunciado as nossas fortes suspeitas sobre este caso sério, desta vez apanhámo-lo em flagrante.
[MEIRELES] “Terra à Vista” feat. UEST.
“Terra à Vista” é já o segundo sinal do projecto de estreia de David Meireles. Dos quadros do Caixa Cartão Collective, e peça-chave na tríade responsável por Jazz Drill Social Club (ao lado de Beiro e Pedra), o jovem produtor da Maia está em vias de apresentar o Prefácio da sua obra ainda por criar. Juntou-se primeiro a Beiro e Tácio e emparelhou-se agora com UEST. — resta esperar para ver quem mais se junta. “Assim que entrar em cena o meu projecto dói”. ‘Tá certo, boy.
[Fizz Escobarra] “Legend”
Fizz continua a documentar as ruas do Reino Unido, país onde o sub-género (ou “estilo”, para quem viu o último episódio do podcast Três Pancadas da TV Chelas) predilecto do rapper e produtor do Miratejo domina as tabelas. Não é por isso de estranhar que muitas das faixas — como esta “Legend” — do último disco de Escobarra (a começar pelo próprio título do longa-duração, The Ghost), editado em Abril passado, venham intituladas em inglês. É de lá que as novidades de um dos grandes activos do drill cantado em português e crioulo chegam, e é por cá que maior impacto têm.
[SHOCKS] “24 Horas”
Deixar marca forte na primeira impressão é com SHOCKS49: “Tardi Di Maz” é, para quem procura este tipo de registo, um tema incontornável desde (pelo menos) Janeiro de 2020. Agora reduzido simplesmente a SHOCKS, o rapper que se deu a conhecer a partir do Luxemburgo está de volta ao activo em nome próprio na sua melhor forma.
[Deezy] “Soldado”
Editado ainda no início do ano, Deezygual 3 – O Gaúcho pode ter passado despercebido para alguns — ainda para mais com a continuação da série documental #VICIADOEMPALCOS pelo caminho. Mas o último trabalho de Deezy continua a merecer atenção do próprio “TxoBoy”, que volta a assinalar a sua mais recente mixtape através do completo visual do tema “Soldado”, com a capital de Moçambique como pano de fundo.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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