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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[T-Rex] “UUUUHH”
A escolha do último single foi certeira. Revelado na antecipação da estreia do primeiro álbum de estúdio de T-Rex, a reacção às boas novidades só podia traduzir-se em algo como “UUUUHH”. Cor D’Água emergiu, assim, poucos dias depois do lançamento do terceiro tema do disco que, a páginas tantas, mereceu ainda promoção de televendas. Tema este que, além de abrir o alinhamento do longa-duração, serve de mote ao resto do projecto: um Tóy Tóy igualzinho a si mesmo — que, no seu caso, é o que de melhor se pode pedir e esperar.
[OhTel] “ENORME” (prod. by GRINGO & VT)
Já faltou mais para se darem por completos dois anos desde a apresentação oficial de OhTel com “BriliOH” — assinalada na 30ª edição desta coluna —, e já na altura reconhecíamos no estreante propriedade na voz e determinação no trajecto. Garantiu-nos, desde esse começo, que “O objetivo aqui é ser gigante”, e em “ENORME” almeja a essas altitudes já com outra envergadura. Não há-de tardar muito em vê-lo em voos mais ambiciosos.
[Achero x ZOO] “SINAIS #2”
Como o prometido é devido, Achero voltou, dias depois, a dar sinal após a revelação de “LUMI ZOO #1” ao lado do dito cujo. Em “SINAIS #2”, a química entre rapper e produtor mantém-se inalterável — fortalece-se, até —, o que só augura bons resultados para um inevitável terceiro encontro. Dia 26 tem reservada uma terceira parte para esta série.
[Holympo] “SPEED FREESTYLE”
“Acham que sou comparável?” é deixa de toda uma resposta de luva branca que nos faz meter a viola ao saco e enfiar a carapuça. A verdade é que, da última vez que por aqui falámos de Holympo (nem há um mês), pusemo-lo lado-a-lado com LON3R JOHNY a partir de “SQ”. Em contra-proposta, o autor de “SPEED FREESTYLE” carregou no acelerador, com a combustão provocada por Nedved, e demarcou-se a alta velocidade de qualquer via paralela. E, à semelhança do que já nos mostrou em vezes anteriores, provou que, além da agilidade, tem uma elasticidade surpreendente. Imagine-se o que ainda tem por experimentar.
[Lazy] “Anagramas” (prod.Dekor)
Numa semana especialmente concorrida em matéria de lançamentos no hip hop nacional, em que Valete voltou a mostrar serviço sem (mais uma vez) convencer, foi a evocar uma célebre deixa — “Eu também ‘tou liso” — de uma das maiores referências do rap lusófono que Lazy mereceu, por sua vez, redobrada atenção. “Anagramas” representa o que de melhor o rapper e produtor do Porto sabe e faz: descomplicar o que, à partida, não é simples, com uma simplicidade que é tudo menos fácil. Ainda para mais apoiado por Dekor.
[DJ Sims & Cachapa] “Forma”
Fecha-se um, passa-se ao próximo. Ainda agora Cachapa desvendou o segundo volume de Dicas Sem Limite na totalidade, e já tem em vista um novo projecto. “Forma” é o primeiro vislumbre de Detalhe, o segundo álbum de estúdio feito a meias, no seio do Sistema Intravenoso, entre DJ Sims e o rapper de Évora que não dorme na forma nem na formatura.
[Deezy & Vado Más Ki Ás] “Conquistas” (prod. Supa Beat)
“Com o mano Vado, a conexão que o people sempre quis ver” — mas não sabia. Neste “Conquistas”, single do novo trabalho de Deezy, a mixtape Deezygual 3 – O Gaúcho, o rapper do bairro 6 de Maio junta-se ao anfitrião deste trabalho em Roça Água-Izé, São Tomé, para partilharem raízes e influências com uma intensidade que só eles sabem imprimir às suas distintas maneiras.
[Champ] “Longe Do Meu Bando”
A cadência padronizada de hi-hats fulminantes não limitou a criatividade de Champ. O rapper que deu os primeiros passos pelo boom bap mais tradicional mostra agora estar completamente à vontade em sonoridades drill. Com uma entrega a fazer lembrar um dos grandes embaixadores da Linha de Cascais, faz-se valer de um timbre inequivocamente seu, e ao longo de “Longe Do Meu Bando” vai mostrando que vale mais do que a primeira e reticente escuta pode indiciar.
[Tiwi] “Sassutown”
Já a linha de Tiwi é inconfundível por influência directa dos seus parceiros que deixaram marca a partir do mesmo código postal. Mas há no rapper com ligações à turma da Madorna elementos diferenciadores que o destacam por si só. A acidez das barras é um deles — e é esse o sabor que traz da “Sassutown”.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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