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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[V I D R O] “E s p e l h o”
As influências que Bruno Camões revelou ter ao ReB a propósito da estreia de “E s p e l h o” não podiam ser mais nítidas: de Bob Da Rage Sense nos versos a Navy Blue na estética, o rapper que assina V I D R O tem, também ele, uns bons anos de prática, mesmo que na sombra. A proposta agora é assumida, assim como a identidade do próprio, que, apesar das influências assumidas, garante ser o que escreve e escrever o que é. E isso nota-se a olhos vistos.
[Prodígio] “Pra Sempre” (feat. Jimmy P e Dino D’Santiago)
Há expressões que ficam patenteadas em quem as protagoniza de forma singular. “Vou ser p’ra sempre”, na voz de Gson em “3,14”, é exemplo disso por excelência. Mas uma patente para sempre talvez seja muito tempo, sobretudo quando é Dino D’Santiago a propor renovação. O caminho desta nova tripla pode não ser exactamente paralelo, mas procura o mesmo fim: deixar uma marca conjunta inesperada.
[YUNGVICY] “UFO”
Quando a lane — para usar um termo condizente com o tema — é a mesma para tantos corredores, o critério do juiz pode arbitrar-se ao nível dos índices de atenção (à partida já baixos) captados por factores pouco ou nada concretos. “UFO” tem esse carácter inexplicável que muitas das vezes leva a melhor sobre as nuances que possam surgir. É a velha máxima de que os gostos não se discutem, aqui rectificada: talvez até se discutam, mas dificilmente se explicam.
[Rafa G] “Mama Ka Bu Txora”
Piruka tem-se destacado pelas pontes que tem feito nos últimos tempos, e vê-lo ao lado do rapper do Vale da Amoreira não deixa de ser surpreendente, mesmo depois de tantos cruzamentos inusitados. E brilhar ao lado de Rafa G não é fácil: “Mama Ka Bu Txora”, definida a partir da produção híbrida de Progvid, bem serve de exemplo ao portento que o homem da “Correria” representa. Não obstante, o co-autor de “Ca Bu Fla Ma Nau” já tinha provado conseguir estar no seu melhor nível ao lado de alguém a cantar em crioulo, por isso as expectativas (mesmo para quem não as atira lá para cima) não podiam ser baixas. O resultado final confirma-as, portanto.
[Sizy] “GPS” ft. SleepyThePrince
É bom ver que SleepyThePrince não está sozinho no espaço que ocupa no mapa do hip hop lusófono, e nesse sentido Sizy entra em cena como uma bela surpresa. O encontro entre os dois em “GPS” é vistoso e tem, ainda, em vista a edição de NO BAD DAYS 2 — prevista já para o próximo dia 11. É guardar estas coordenadas até lá…
[Biex x Lois] “Raposinhos” (feat. JV & REZTRIKTO)
As últimas semanas têm-se revelado prolíficas nos quartéis da CS14 Produções, com Biex e Lois à cabeça a desvendar material ora fresco, ora desarquivado. “Raposinhos” foi um entre vários lançamentos, prévio à revelação plena de material gravado a partir deste núcleo entre 1999 e 2022, que se destaca pela participação a quatro, com JV e Reztrikto a darem o seu cunho a uma parte do todo que será Filhes dum Diabe.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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