pub
Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Holly Hood] “Volta”
As voltas que a película de “Volta” deu adiaram a sua revelação para a semana que passou. O tema propriamente dito já tinha sido disponibilizado na anterior, mas a última faixa da segunda parte do álbum de Holly Hood não podia ser excepção à regra que tem ditado o lançamento de cada uma com o respectivo vídeo. Ultrapassadas as burocracias alfandegárias, o filme de Francisco “Cheezy” Ramalho cá chegou para completar o ciclo de Sangue Ruim. Volta o formato analógico, volta a estrutura de um só verso. Para quem espera tanto pelo seguimento do trabalho do homem-da-frente da Superbad, esta última “Volta” sabe a pouco — sobretudo por ser tão curta. Venha daí a terceira parte o quanto antes.
[Phoenix RDC] “Dicksucker”
É preciso recuar a 2020 para relembrar “Dicksucker”, segundo tema do alinhamento de Vale D’judeus, álbum antecessor de Cool Kid, editado por Phoenix RDC já em 2022. A faixa em que o rapper da Vialonga ostenta os frutos do seu “hustle” volta a merecer destaque por via do vídeo que a traz de novo à agenda da semana. Não é esse vídeo que a valoriza, mas sempre chega como forma de revisitar mais um tema-espelho das inegáveis valências deste MC.
[MIKE FIND MIND] “E.M.D” feat. Domi & nastyfactor
SOMBRA representa um novo começo para Mike Find Mind, como revela o próprio no tema homónimo deste EP de quatro faixas. E o rapper de Sintra não vem sozinho: em “E.M.D” conta com a reconhecida experiência de Domi e nastyfactor para mostrar que também tem umas quantas palavras a dizer. Neste caso, a que fica é uma: money.
[Pulla] “Encostado à Parede”
A entrada de “Encostado à Parede”, a faixa que abre Casos Arquivados — o novo álbum de Pulla —, faz lembrar o arranque de “Titanic” — do também deste ano SICK! de Earl Sweathsirt, para depois seguir um rumo completamente diferente. Se o single “Toma Lá”, com 3000Kilo, já nos tinha prendido por aqui, a revelação do projeto por inteiro não nos deixa arquivá-lo tão cedo. E é pelo início que se começa a tratar a matéria.
[ACHERO] “WINNER”
“1 litro de leite e 3 carcaças” — o pequeno-almoço dos vencedores anunciados por Achero. “Winner” é um daqueles temas de celebração de alguém que veio de baixo, bateu no fundo e começa agora a subir à tona. Mas não vale só pela história de superação que conta: sem cair em lugares comuns, Achero conseguiu, num registo confessional, dar a volta por cima também na faixa. A juntar o peso da mensagem à leveza da abordagem. Receita dos vencedores.
[Uzzy] “Organizado” (feat. Hernani Kalash, Baqui)
O refrão, apesar de esse ser “o estilo, ‘tá provado”, não é dos melhores que já ouvimos Uzzy cantar. Mas “Organizado” vai-se impondo à medida que se desenrola. O verso do rapper de Portimão chega mesmo a ser o ponto alto de um tema em que Hernani Kalash não fica muito atrás, ao contrário de Baqui que, aqui, não se apresenta ao nível dos restantes parceiros.
[Herege] “Eudaimonia”
Corações e ouvidos moles para as batidas mais soulful, é a vós que “Eudaimonia” se dirige. Culpem bedhop pelas taquicardias e arritmias, e responsabilizem Herege por encriptar o que sentem sem saberem verbalizá-lo. E não é, também, para isso que a música serve? E não é esse, também, o significado de “eudaimonia”?
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
pub