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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/04/2020

A nova investida de Pedro Simões é a música que não sabíamos que precisávamos.

Pedro Mafama sobre “Não Saio”: “Gosto da ideia de poder marcar um tempo com esta canção”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/04/2020
Há alguns anos, o Gang Machado, grupo de Angola, cantava “Hoje Não Saio Daqui“, um daqueles temas que se tornou hino além-fronteiras e que ressoou um pouco por todos aqueles que encontravam numa discoteca o espaço para transformar as noites em dias. Em Abril de 2020, os espaços nocturnos estão fechados, exigindo-se novos hinos para quem simplesmente não pode sair de casa. “Não Saio”, de Pedro Mafama, é isso mesmo. O mais recente single faz parte do seu próximo projecto e o videoclipe tem realização do próprio autor em colaboração com André Caniços, que também edita, direcção de arte de José “Cosmvs” Torres, efeitos especiais de Márcio Pité e captação de imagem de Maria Inês Roque. A música (misturada e masterizada por Pedro Coelho Franklin), não foi feita durante estas últimas semanas, mas a premissa ganhou mais um sentido: o grito para parar o impulso de se entregar a mais uma noitada transformou-se numa nova forma de resistência. Das “guitarras sintéticas meio alentejanas” à “Janela Indiscreta do Hitchcock em versão tuga”, o autor de Tanto Sal e Má Fama abriu-nos a janela de sua casa:

Acabas de lançar um tema muito indicado para o que estamos a viver. Já estava feito ou foi algo que surgiu nesta quarentena? A música já estava feita há muitos meses, e a frase “não saio” era no sentido de ficar em casa e não ir para mais uma noitada, resistir ao impulso e pressão de sair quase todos os dias. Estava a pensar também na gentrificação que estava a acontecer em Lisboa na altura, que tirou tanta gente dos bairros históricos onde cresci, e eu ainda por cima trabalhava num hostel, por isso estava a começar a ficar muito sensível às consequências do turismo de massas. Depois chegou a quarentena e achei interessante lançar a música agora. Mesmo que não tenha sido propositado, a música aplica-se muito a estas semanas que estamos a passar, e gosto da ideia de poder marcar um tempo com esta canção. Como é que foi o processo de construção da faixa? Que géneros tradicionais te informaram para chegares aqui? Foi muito natural, lembro-me de gostar imenso daqueles kicks bué nervosos quando os fiz, e aquelas guitarras sintéticas meio alentejanas deram logo a cor que eu queria ao som. Não sou muito estudioso em termos de pesquisa para a minha música, simplesmente interesso-me por vários universos musicais e acabo por juntar tudo de forma natural. Uma coisa que tem estado sempre presente é o interesse em fazer músicas que tanto podiam estar a tocar na bagageira de um carro tuning como numa festa de aldeia. Ainda não ouvi a minha música em nenhum dos dois, por isso ainda há muito trabalho pela frente [risos]. Fala-me do conceito do vídeo. Como é que surgiu e como é que isto foi executado? O conceito do vídeo surgiu muito rápido, mal decidi que ia lançar o som nesta altura. Falei logo com o José Torres, com quem já tinha feito o vídeo do “Arder Contigo“, e logo a seguir com o André Caniços, que tinha realizado o “Lacrau“. O Caniços definiu logo que as minhas acções iam ser super simples, basicamente que isto ia ser um vídeo em que não acontecia rigorosamente nada, só eu a deambular pela casa como se ninguém estivesse a ver. Adorei logo isso, tipo a Janela Indiscreta do Hitchcock em versão tuga. Depois decidimos que íamos fazer a fachada do prédio em 3D, então o Torres desenhou tudo comigo, e o Caniços chamou o Márcio Pité para dar vida ao nosso desenho. O meu único receio era que o vídeo não captasse a atenção das pessoas por ser muito parado e não acontecer nada, mas estou bué feliz por ver que o pessoal gosta do vídeo mesmo assim. Muitas vezes temos esta ideia de que temos todos um tempo de atenção de dois segundos, e de que tem de ser tudo super básico e açucarado para ser bem recebido, mas sinto que nem sempre isso é verdade. Esta faixa faz parte de algum projecto ou é um single solto? Sempre há um disco a ser feito? O disco está feito e esta faixa faz parte do projecto, mas não estava prevista como single. Com esta situação toda do vírus, os planos de lançamento vão ter de ser repensados, e ainda estamos a pensar em como fazer a coisa da melhor maneira. Só sei que estou atento a tudo o que se está a passar e disposto a moldar-me esta nova situação e tirar o melhor partido disto. Não é uma boa altura para se ser inflexível e teimoso, é tempo de fazer coisas novas e desbravar caminhos desconhecidos. Tendo em conta os tempos complicados, como é que tens lidado com esta clausura? Estás a ser produtivo ou nem por isso? Ao princípio soube-me muito bem, estava a precisar de acalmar das saídas e andava há muito tempo a precisar de um detox… Também sempre estive muito habituado a estar sozinho, e gosto muito de estar comigo mesmo a pesquisar coisas e a trabalhar nos meus projectos. A parte assustadora é a parte económica, e não saber como vou pagar a renda, ou se ainda vai haver uma indústria da música rentável quando isto eventualmente passar. Por enquanto estou a trabalhar como se nada se passasse, porque não nos podemos ir abaixo e entrar em pânico. Temos de fazer o melhor com aquilo que temos, e procurar novas soluções e caminhos. Para fechar: como é que foi a experiência de actuar num festival no Instagram a partir de casa? Foi muito fixe, é uma das tais coisas que nunca teria feito se não fosse esta situação, e gostei muito. Fazer a actuação sozinho deixa-me ter mais controle em algumas coisas, e como é uma coisa caseira deixa de haver tanta pressão para estar tudo perfeito e polido… Gosto de ser uma coisa mais lo-fi e caseira. É uma forma de expressão diferente dos concertos tradicionais, e não substitui a experiência de estar nos palcos, mas é também um novo caminho que se abre!
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