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Texto: ReB Team
Ilustração: Carlos Quitério
Publicado a: 06/02/2024

De billy woods & Kenny Segal a Paris Texas.

Os melhores álbuns internacionais de 2023

Texto: ReB Team
Ilustração: Carlos Quitério
Publicado a: 06/02/2024

O primeiro mês de 2024 ficou reservado para as ponderações sobre o que se consumiu do ano anterior — musicalmente falando, pois claro. Depois de semanas a fio a esbarrarmo-nos contra as mil e uma listas de melhores trabalhos de 2023 para as diversas publicações da área espalhadas pelo globo, também o Rimas e Batidas reuniu as tropas para delinear um roteiro em torno dos discos que mais se cravaram na nossa memória colectiva.

Listados por ordem de preferência — dos mais aos menos votados por cada uma das cabeças que formulam os escritos por esta sede — esbatem-se 40 projectos de diferentes coordenadas sónicas, com o hip hop e a estética electrónica sempre em grande plano, mas não deixando passar ao lado as melhores pérolas que o R&B, o jazz ou a pop nos têm dado. Os 10 projectos que mais aplausos geraram vêm comentados com as palavras de quem contribuiu para a feitura deste top em jeito de retrospectiva.


[billy woods & Kenny Segal] Maps

A tentativa de recriar a fórmula de um clássico não é tarefa fácil e são muitos os casos em que uma sucessão não consegue corresponder com a expectativa criada. No caso de billy woods e Kenny Segal, esse teste é passado com distinção e Maps só fica atrás de Hiding Places (2019) única e exclusivamente por já não conter o factor surpresa. Todos sabemos o quão sagaz o rapper fundador da Backwoodz Studioz consegue ser ao microfone e facilmente nos sentimos de rosto dorido pelas valentes chapadas de realidade este nos espeta através dos seus versos, enquanto que Segal continua a mostrar ser um verdadeiro revolucionário da estética lo-fi que não se deixa ficar pelos loops fáceis e arrisca com frequência o pisar de territórios mais laboratoriais. A isto juntam-se ainda ilustres convidados como Danny Brown, E L U C I D, Aesop Rock ou Quelle Chris. E fica assim feito um disco consensualmente memorável.

— Gonçalo Oliveira


[Earl Sweatshirt & The Alchemist] VOIR DIRE

Ainda hoje não sabemos ao certo se este era o tal projecto escondido por The Alchemist nos confins do YouTube. Certo é que o célebre produtor californiano já andava a cozinhar este VOIR DIRE com Earl Sweatshirt há algum tempo, e a divulgação de um trabalho feito a meias por estas duas figuras incontornáveis do hip hop norte-americano seria motivo bastante para delírio generalizado entre uma larga fatia de ouvintes especialmente aguerridos a estas frequências de rimas e batidas. Só não contavam os fãs com o “mas” nesse lançamento: disco exclusivamente disponível numa plataforma pouco recomendável para quem não é particularmente adepto do coleccionismo de NFT (leia-se “Nova Fantochada Tecnológica). E talvez tenha sido mesmo esse descontentamento expressado pelo público que levou a dupla a ceder às plataformas de streaming habituais. Em boa hora: imagine-se o que seria um casamento perfeito sem convidados para o copo-d’água…

— Paulo Pena


[Yussef Dayes] Black Classical Music

O álbum de estreia de Yussef Dayes enquanto artista a solo, Black Classical Music, é um grande atestado do talento e capacidade de inovação do baterista londrino, bem como uma lufada de ar fresco na cena do jazz, extravasando-o e tornando-o muito mais rico. Fundindo géneros que ultrapassam as fronteiras tradicionais do jazz, usando a inspiração tanto do rock, R&B moderno ou o reggae, este álbum promete-nos levar a uma viagem contemplativa, divagando por diversos estados de espírito, viajando numa fluidez musical coesa e livre.

— Margarida Valença


[Larry June & The Alchemist] The Great Escape

De Palm Springs a Malibu, na Califórnia, passando pelo México, não faltaram great escapes na feitura deste trabalho que juntou o rapper Larry June ao versátil produtor The Alchemist. O luxo e descontração que caracterizaram os espaços pelos quais a dupla californiana passou durante a criação de The Great Escape – os quais podem ser vistos no documentário de pré-lançamento do disco – plasmaram-se plenamente num álbum que enche mesmo o espírito mais enfraquecido de confiança redobrada.

A fórmula na base da música apresentada não é propriamente nova, e se não tivesse a mão de um dos seus criadores e mais exímios praticantes, até poderia ser chamada de cosplay musical. Mas a verdade é que The Alchemist continua a transformar em ouro tudo aquilo em que toca e The Great Escape não se resume unicamente a drums crispy e ao ethos “em primeiro lugar o sample e sempre o sample”. Além da já esperada impecável produção, há a entrega sempre segura e consistente de June, tanto na lírica quanto no flow, o qual nunca se afasta de uma monotonia previsível (com excepção dos hooks cantados que adicionam camadas melódicas a uma construção já de si robusta). A questão é que não há como resistir a alguém que fala de vícios de milionários com o mesmo entusiasmo com que descreve os hábitos banais do seu quotidiano.

— João Morado


[Noname] Sundial

O álbum que Noname apresentou em 2023 é um manifesto político que não se leva demasiado a sério. Nele coabitam a necessidade urgente de apontar dedos mas também a honestidade desarmante de assumir culpas. Pelo meio, reflecte-se ainda sobre desamores e questiona-se os poderes instalados do status quo. As letras espirituosas casam na perfeição com os instrumentais jazzísticos dinâmicos, suaves e calorosos, onde a voz de Noname é dona e senhora. Inteligente e com sentido de humor, a norte-americana voltou a demonstrar todo o seu talento e originalidade com este Sundial, que também conta com participações marcantes e escolhidas a dedo.

— Ricardo Farinha


[Nihiloxica] Source of Denial

Se entrarmos num bar e pedirmos o menu para ler Nihiloxica em todas as entradas, ficamos perplexos com as possibilidades — podemos pedir puro kudurismo com trance e techno à mistura, mas não vamos tomar nada sentados (ou pelo menos numa cadeira). Nihiloxica e a percussão de Buganda ergueram, através de Source of Denial, as batidas mais dilacerantes para quem tem um corpo dúctil. Pouco antes de ter regressado a Portugal para tocar ao vivo, o projecto musical original de Uganda proporcionou uma lição bem lúgubre sobre como abanar a cabeça e a cinta. Toda a beleza sepulcral de Source of Denial tornou-o um grito incompreensível mas plausível de se fazer ouvir pelos sintetizadores misturados entre cada colisão.

— Maria Carvalho


[JPEGMAFIA & Danny Brown] Scaring The Hoes

Os anglófonos atiram commumente a expressão “match made in heaven” para se referir a parelhas que dão bons resultados, e gostávamos de dizer que este era o caso de Scaring the Hoes — mas este disco foi cozinhado no pico dos infernos de Danny Brown inebriado, e antes de abraçar a sobriedade, com o condão da produção conturbada do ex-militar JPEGMAFIA. O resultado não é menos caótico, mas, como em tudo o que Peggy tem feito, revela muitas possibilidades de tudo o que o hip hop pode ser e ainda tem por concretizar. O álbum abre logo com o primeiro single a ser revelado, “Lean Beef Patty”, e fica o mote dado para as 13 “malhonas” que se lhe seguem: beats complexos que podiam ser quatro músicas diferentes cada (mas JPEG não faz por menos); um olho no trap, outro no drum’n’bass; letras inflamadas e dicas certeiras; e a base certa para a voz exuberante de Brown, com JPEGMAFIA bem no seu encalço. Os rumores da estagnação do hip hop foram francamente exagerados.

— André Forte


[Sampha] Lahai

Saber o que fazer com a dor será uma das interrogações que a humanidade fará sobre si própria até ao fim dos tempos. Lahai é também disso testemunho, revelando como um processo de luto pode ser contaminado pelas possibilidades emocionais que a arte amplia. Entre a perda dos pais e a esperança da paternidade, Sampha encontrou uma forma de expansão emocional e musical capaz de dar sentido à viagem, mesmo que a luz que aqui emerge nunca deixe de estar povoada de tensão. A melodias ricas sobrepõe um falsete ofegante, onde a delicadeza lírica se encontra com loops hipnóticos, batidas indomesticáveis e texturas harmónicas que nunca se deixam vencer pela previsibilidade. Um som realmente sensível que lembra que ainda não está tudo bem, mas que mesmo perante a dor, há um voo inescapável que se precipita sobre as nuvens e o céu azul, em busca de luz e respiração.

— João Mineiro


[Caroline Polachek] Desire, I Want To Turn Into You

Já não restam dúvidas que Caroline Polachek é das artistas pop mais excitantes (se não mesmo a mais excitante) da atualidade. Em Pang (2019), primeiro disco editado sob o seu nome próprio, a ex-Chairlift entregou um dos discos pop mais aventureiros e intrigantes dos últimos anos; em Desire, I Want To Turn Into You, Polachek constrói por cima do seu predecessor e amplifica as suas ideias a todos os níveis. O desejo em toda a sua imensidão é a base deste trabalho e resulta em enormes canções, recheadas de detalhes e melodias que nos apoquentam o coração. Resultado? O nosso próprio desejo de as voltar a escutar vezes e vezes sem conta sem nunca nos cansarmos delas.

— Miguel Rocha


[KAYTRANADA & Aminé] KAYTRAMINÉ

Em KAYTRAMINÉ, há uma química entre a energia vocal de Aminé e a energia instrumental de KAYTRANADA, evidente na incrível “4EVA”, de groove inegável e absolutamente intoxicante, ou na bossa nova de “Sossaup” e o seu hook tropical. Os instrumentais são versáteis — os sintetizadores românticos de “EYE”, o funk vigilante de “Who He Iz” ou a metódica e polida batida de “letstalkaboutit” — e as barras estão à altura, numa fusão ambiciosa entre o estilo e flow de Aminé com a proficiência electrónica de KAYTRANADA. Este álbum é o culminar de dois caminhos que se cruzaram pela primeira vez há 10 anos atrás. Mas em KAYTRAMINÉ, os dois artistas cumprimentam-se com um abraço.

— Miguel Santos


[Lil Yachty] Let’s Start Here.


[Cleo Sol] Gold


[Lord Apex] The Good Fight


[Armand Hammer] We Buy Diabetic Test Strips


[Danny Brown] Quaranta


[Kelela] Raven


[Model/Actriz] Dogsbody


[PJ Harvey] I Inside the Old Year Dying


[James Blake] Playing Robots Into Heaven


[Jack Harlow] Jackman.


[Sufjan Stevens] Javelin


[Killer Mike] MICHAEL


[Aïsha Devi] Death is Home


[Mick Jenkins] The Patience


[Gorillaz] Cracker Island


[Janelle Monáe] The Age of Pleasure


[Conway the Machine] WON’T HE DO IT


[Ralphie Choo] Supernova


[Laurel Halo] Atlas


[Jessie Ware] That! Feels Good!


https://open.spotify.com/album/0GBxJFUeukK1vriHac0vH8?si=77cfaa4018a04cdd

[Rainy Miller & Space Afrika] A Grisaille Wedding


[Ana Frango Elétrico] Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua


[Jordan Ward] FORWARD


[London Brew] London Brew


[MIKE] Burning Desire


[Jaimie Branch] Fly or Die Fly or Die Fly or Die ((world war))


[Marina Herlop] Nekkuja


[Miguel Atwood-Ferguson] Les Jardins Mystiques Vol. 1


[André 3000] New Blue Sun


[Paris Texas] MID AIR

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