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Ilustração: Riça
Publicado a: 29/12/2018

Baralhar, descodificar e dar de volta.

Os Mandamentos do Moisés: os melhores versos nacionais de 2018

Ilustração: Riça
Publicado a: 29/12/2018

O rap português também já vive no futuro — e com os pés bem assentes no presente — mas, enquanto pouco se perde e algo se ganha, nem tudo se transforma. Fechar o melhor verso possível continua a ser prioridade para muitos dos que escrevem, seja sob contornos menos convencionais, como os de NERVE ou Richie Campbell, ou de acordo com as regras mais antigas, sem nunca perder o brilho da actualidade e da intemporalidade, como aconteceu no regresso de Sam The Kid.

Estes foram dez dos melhores versos portugueses em 2018.

 


[Holly Hood] “Miúda”

Se Holly Hood lança música, é certo e sabido que pouco ou nada será feito que o supere. O flow da Linha da Azambuja, cujo expoente máximo sempre foi o de Regula, ganhou um novo actor com Holly Hood e o primeiro verso de “Miúda” é mais um que, by the book, entra directamente para a crème de la crème tuga.

 


[Mike El Nite] “Dr. Bayard”

Ao lado de Sippinpurpp e Fínix, que jogam noutros campeonatos que não o seu, Mike El Nite não abdicou das referências ricas em sumo (e que exigem um nível de nerdice considerável) ou da entrega que sempre o caracterizou. Deslizou no beat de Ice Burz como se fosse seu e provou que, pelo menos à nossa escala, pode haver uma comunhão perfeita entre mercado e cultura.

 


[Richie Campbell] “Rain”

Se um dos melhores flows do ano tem assinatura de um cantor que, pelo hábito de anos, está sobretudo habituado ao reggae, dancehall e r&b, não há como ignorar o facto. Ainda para mais quando a seguir entram Plutónio e Mishlawi, que, não sendo especialistas em liricismo, sabem melhor do que ninguém como fazer um verso clean, bem como o público gosta.

 


[Kroa] “Devia Ir”

Pode parecer que GSon e Zara G continuam a ser os mais reconhecidos e acarinhados membros de Wet Bed Gang, mas, feitas as contas, o verso de rap mais ouvido, cantado e repetido em 2018 foi, quase de certeza, o de Kroa nesta “Devia Ir”. E o rapper merece: o seu percurso já vai longo, num currículo que conta com diversas faixas, mixtapes e até batalhas, e sempre carregou a bandeira da métrica e do flow.

 


[Sam The Kid] “Sendo Assim”

Não há muito — ou nada — a dizer sobre o regresso (vale chamar-lhe assim?) de Samuel Mira. Apenas o seguinte: seria redutor catalogá-lo como um dos melhores versos do ano. O rap português agradece (para sempre).

 


[NERVE] “Chibo”

Repitam: “Pollockada na tela e contemplo aquela obra-prima. Reflicto enquanto escorre a tinta. Atravessamos uma magnífica fase da música, em que toda a escória roça pimba”. E não vale dizer sem flow — que, não sendo a mais reconhecida característica de NERVE, continua a ser um atributo que o coloca num qualquer top 10, 5 ou 3.

 


[GSon] “Voar”

Se GSon é, afinal, o mais afamado no seio da WBG — o mérito é seu a 100%. Em “Voar”, há muito mais do que um Gerson boss (God Son serve perfeitamente…) e é graças a momentos como este — “flows dentro de flows (…) sons dentro de sons”. GSon é, definitivamente, a nova escala.

 


[Sir Scratch] “Língua dos Campeões”

Se dúvidas há sobre a existência de uma identidade nacional, que sustente o hip hop tuga, é nestas alturas que o “sim” se desenha bem redondo. GSon e Holly Hood vieram com tudo mas o verso de Sir Scratch recuperou o seu melhor flow e fixou-se como o verso mais “tuga” do ano.

 


[Zara G] “50/50”

As inesgotáveis maravilhas da Internet também passam por aqui: a versão original de “50/50”, ainda em formato maquete, viu a luz do dia contra a vontade de Zara G (ou, pelo menos, num anónimo canal de YouTube) e acabou por revelar, sobre outro beat e sem a companhia de Giovanni (umas das revelações de 2018), um dos versos mais sólidos do rap português que se fez ao longo deste ano.

 


[Blasph] “Ondulação”

Se há candidato ao trono de Regula (e que se lixem os números ou os apelos do mercado, mesmo que isso acabe por moldar a música; aqui a conversa é outra), o nome de Blasph é, mais do que o óbvio — hoje em dia nem por isso –, o único que até ver se adequa realmente. Isso não lhe tira qualquer identidade e é exactamente porque mantém a sua na hora de domar o instrumental que é possível dizer isto sobre o seu rap.

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