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Ilustração: Riça
Publicado a: 28/12/2018

Baralhar, descodificar e dar de volta.

Os Mandamentos do Moisés: os melhores versos internacionais de 2018

Ilustração: Riça
Publicado a: 28/12/2018

A produção, os refrões, as bridges e as vibes dominam cada vez mais as conversas de café sobre hip hop — pelo menos à superfície do movimento — mas os versos, estrofes ou quadras de rap nunca deixam de estar no centro da discussão.

Tem sido isso que distingue o trabalho de Cardi B, J. Cole ou Drake (pelo menos foi esse o ponto de partida para Scorpion) e continua a ser esse o trunfo daqueles que não vivem obcecados com charts ou tendências, como são os casos de Evidence ou Roc Marciano, o mais activo e regular, embora desconcertante, MC de 2018.

De Meechy Darko a Travis Scott, estes são dez dos melhores versos do ano.


[Cardi B] 1º verso de “Be Careful”

Quando menos se esperava, o típico — e saudoso — flow de Nova Iorque foi ao mainstreamcomo quem diz olá e desaparece, e ninguém adivinharia que Cardi B seria a responsável por tal acontecimento. Ou, pelo menos, a cara visível da coisa: a letra, que fez as delícias da pop por causa das supostas indirectas para Offset, foi escrita por Pardison Fontaine, um nome a ter em conta para o futuro próximo e que, tudo indica, parece pronto para se fixar na indústria.


[Meechy Darko] “Vacation”

O dilema é grande e não tem resposta: qual o melhor verso de “Vacation”? O de Joey é absolutamente delicioso e faz arrepiar qualquer militante — à primeira ou à décima audição. Porém, e assim que chega Meechy Darko, levar socos no estômago torna-se, subitamente, o passatempo favorito do ouvinte. Por via das dúvidas, dediquem-se a ambos em repeat e tirem as vossas próprias conclusões.


[J. Cole] “Off Deez”

Podia ser o verso de J.I.D como é o de Cole. E podia ser qualquer participação de Cole em 2018: com Royce da 5’9″, Jay Rock ou Bas. Mas um MC mede-se pelas suas últimas palavras e, neste “Off Deez” como no resto do seu trabalho, não há ponta solta por onde se pegue. No que toca a featurings, este foi, definitivamente, o seu ano.


[6LACK] “Nonchalant”

Se rap é sinónimo de duplos sentidos, rimas afiadas, simplicidade (por oposição ao que é básico) e flows em cama de veludo, 6LACK pode cantar com quantas notas quiser: continua a ser um dos melhores rappers da actualidade, um dos mais completos e, seguramente, um escritor e tecnicista de primeira. E “Nonchalant” atesta o que foi dito anteriormente…


[Drake] “Emotionless”

O primeiro lado de Scorpion é, nem mais nem menos, um puro exercício de rimas e batidas. Há pouco espaço para grandes tretas e “Emotionless”, tão sentimental quanto “Elevate” e tão afiado como “Nonstop”, leva a taça para estrofe mais certeira do álbum — e, também pelos assuntos envolvidos, acaba por ser fundamental para fechar os capítulos mais recentes da carreira de Drake.


[Travis Scott] 1º verso de “Sicko Mode”

Seria impossível não referir o verso mais cantado do ano — e que, a exemplo do que acontece com 6LACK, deambula entre o rap e r&b com uma mestria a que só se pode tirar o chapéu. A simplicidade e o bom gosto — na entrega, na letra e nas referências, tão hip hop quanto possível — formaram a receita simples, porém infalível, de “Sicko Mode”. E, digam lá, sabe ou não sabe bem ver meio mundo com o nome de Papoose na boca?


[Jay-Z] “Talk Up”

Volta e meia, Jay-Z lembra-se de meter mais uma participação sua na história. A ocasião, que não é assim tão frequente, teve direito, ao longo do ano, a dose dupla. A participação no disco de Meek Mill é a que está mais fresca na memória de todos e até podia aqui estar na vez do seu verso em “Talk Up”. E o que têm os textos em comum? Mostram, com mais nível do que nunca, que Jigga, longe de ser um trapper, é um dos rappers que melhor domina a linguagem — e a postura, que fala por si, diz tudo.


[Roc Marciano] “Corniche”

O destaque vai para “Corniche”, que até tem vídeo — e uma participação muito relevante, de outro nome que poderia integrar esta lista –, só que podia ir para qualquer estrofe de Roc Marciano. Em 2018 foram três discos, dezenas de versos e centenas de dicas de uma qualidade e regularidade impressionantes.


[Joell Ortiz] 1º verso de “Cocaine Fingertips”

Será que a importância das entradas, no que a rap diz respeito, anda mais esquecida do que seria desejável? A resposta fica para depois mas, ainda assim, é bom que se continue a separar o trigo do joio — e os MCs banais daqueles que, a cada som, se desdobram em cuidados para encontrar a entrada perfeita. A de “Cocaine Fingertips” é, facilmente, a melhor do ano.


[Evidence] “By My Side Too”

O mais recente disco de Evidence, que encerra o seu capítulo meteorológico, é quase um baú de versos que poderiam servir de modelo em qualquer curso de escrita rap. “By My Side Too” junta o melhor da técnica a uma entrega irrepetível, sobretudo por causa da letra. A explicação é simples mas, verdade seja dita, nada como ouvir.

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