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Ilustração: Riça
Publicado a: 20/04/2021

Techno, house, hauntology e outras ondas.

Oficina Radiofónica #58: Especial Sonoscopia

Ilustração: Riça
Publicado a: 20/04/2021

Oficina Radiofónica é a coluna de crítica de música electrónica do Rimas e Batidas. Música Electrónica? Sim. Techno e footwork, house e hauntology, cenas experimentais, ambientais, electro clássico e moderno, drum n’ bass e dubstep, dub e o que mais possa ser feito com sintetizadores e caixas de ritmos, computadores e osciladores e samplers e sequenciadores e outras máquinas que façam “bleep”, “zoing”, “boom” e “tshack”.



[Vários] Som Desorganizado 2020, 2019, 2018 / Sonoscopia

Som Desorganizado, explica-nos a Sonoscopia, “é um encontro anual que junta ideias e sons de exploradores sónicos inovadores. É baseado em torno de apresentações abertas e discussões de trabalhos artísticos, projectos colaborativos e novas direcções na música. De uma perspectiva mais ampla”, avança-se ainda nas notas que no Bandcamp apresentam o mais recente resultado desta continuada aventura exploratória, “Som Desorganizado é também uma reflexão sobre o significado do som e como pode ele ser organizado em artefactos musicais”.

Essa ideia de “artefacto” é, aliás, muito importante aqui: as caixas que documentam as edições de 2019 e 2018, ambas merecedoras de luxuosa edição física, além dos CDs com a música resultante da iniciativa, incluem ilustrações e fotografias impressas em material de qualidade que contribuem para tornarem ainda mais especial e singular a experiência de usufruto de tais objectos.

Som Desorganizado 2018 traz, no primeiro CD, música criada por Marcello Magliocchi (bateria), Mathias Boss (violino), João Pedro Viegas (clarinete baixo), Maresuke Okamoto (violoncelo), Alberto Lopes (guitarra eléctrica), Henrique Fernandes (contrabaixo eléctrico) e Gustavo Costa (bateria e percussão). A combustão espontânea deste septeto é lenta, mas ultra-expressiva, conjunto de ângulos rectos e elipses sonoras que criam tangentes entre instrumentos numa dança tão abstracta quanto encantatória.

O segundo CD traz a “marca” de Julius Gabriel (saxofone), Constantin Herzog (contrabaixo) e, uma vez mais, Gustavo Costa (bateria). Tratando-se de um ensemble mais contido, a música é cromaticamente menos expansiva, mas, também por isso, com mais espaço para que cada artista possa compor no momento, através de frases não idiomáticas, tão livres quanto a água que corre montanha abaixo encontrando sempre um caminho, seja qual for o seu obstáculo.

O volume de 2019 coloca em jogo, no primeiro dos dois CDs, um ensemble formado por Bertrand Denzler (saxofone e composição), Henrique Fernandes (objectos), Gustavo Costa (percussão) e Alberto Lopes (guitarra eléctrica) e, no segundo, aos repetentes Lopes, Fernandes e Costa acrescem os talentos de Stephen Dorocke (creditado com Rhyzophon) e João Ricardo (electrónica). No primeiro CD, uma singular peça de cerca de 35 minutos, desenrola-se tranquila e organicamente, com drones de insistência hipnótica que tornam a experiência de audição perfeitamente imersiva, parecendo por vezes que alguém colocou um gravador dentro de um qualquer dispositivo mecânico, resultando daí uma registo de pulsares rítmicos e ressonâncias metálicas. No segundo CD, a abstracção plena mantem-se, com a música a soar talvez um pouco mais subtil, com mais amplas aproximações ao silêncio e aos ruídos micro-tonais (na primeira peça) e também, (na segunda peça, que poderia bem servir para o sound design de um qualquer filme sobre uma casa assombrada), algo fantasmagórica e talvez até com um toque de tensão dramática.

Finalmente, a edição relativa a 2020, para já apenas digital, inclui peças de Åke Parmerud, Anthony Pateras, Ignaz Schick e Richard Barrett, que buscam entre o silêncio e o caos mecânico, entre o som do metal e do cristal, entre a voz humana e os ecos humanos encontrados em velhos pedaços de vinil esquecido, entre o que é electrónico e acústico, medidas para a passagem de um tempo que, por ter sido diferente, talvez explique (para já, pelo menos) que este “artefacto” se faça apenas de zeros e uns.

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