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Fotografia: Inês Ventura
Publicado a: 25/01/2022

Uma força extraordinária que perdurará.

Morreu Elza Soares, uma rainha que transformou a dor em Carnaval

Fotografia: Inês Ventura
Publicado a: 25/01/2022

Espírito livre para cantar, Elza Soares morreu, no dia 20 de Janeiro, de causas naturais. Descansou em paz, como desejava e quando queria.

Em vida, esta rainha do samba ultrapassou qualquer tipo de rótulo e de destino pré-traçado. Desde que surgiu no ritmo brasileiro na década de 1960 até ao renascimento em novos formatos experimentais, nos anos 2000, a cantora marcou gerações de brasileiros com uma voz rouca que dizia ser inspirada no som do louva-a-deus.

A artista não sucumbiu à fome, à perseguição na ditadura, à violência doméstica, à morte de filhos e ao machismo e esquecimento por parte da indústria musical, mas chegou ao fim da vida reconhecida de ponta a ponta no país — e no mundo — e celebrada como uma das maiores vozes da música brasileira em todos os tempos.

De 2015 até agora, a carreira de Elza deu uma nova volta com A Mulher do Fim do Mundo, o seu primeiro álbum de canções inéditas, o disco brasileiro do século, de viola e percussão afiadas, assombrado pelos sambas passados, do início, ou melhor, do fim dos tempos. O trabalho foi imensamente aclamado pela crítica (dentro e fora do Brasil) e marcou a abordagem da veterana cantora com esta nova geração de músicos de São Paulo, que inseriram guitarras numa estética de samba-noise e letras de natureza social na sua obra. O projecto teve amplas repercussões e fez Elza erguer-se das cinzas, sendo apresentado a um público mais jovem. 

Depois de anos de esquecimento, Elza desfrutou dos seus últimos anos como ícone da música brasileira e dos movimentos negro e feminista, manifestando-se sempre que possível em em espectáculos, entrevistas e redes sociais contra os sistemas de opressão.

Em 2019, o Rimas e Batidas teve oportunidade de falar com a diva e de, mais tarde, vê-la ao vivo no Capitólio, em Lisboa. Os dois textos foram assinados por Vera Brito, ambos com fotos de Inês Ventura. “Deus é mesmo uma mulher negra”, garantíamos no segundo.

Mesmo com dificuldade em mover-se, estando numa cadeira de rodas, a artista continuou a fazer concertos nos últimos anos de vida e tinha apresentações agendadas ao longo de 2022, tendo espalhado a sua arte pelo globo até ao último suspiro. Como ela pediu, com a sua voz ainda mais enrouquecida pelo tempo, na canção “Mulher do Fim do Mundo” — “deixe-me cantar até ao fim”.


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