[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Sebastião Santana
MONRÓVIA é o novo lançamento de COLÓNIA CALÚNIA, que conta com VULTO. na produção a servir o estreante Caronte.
Foi no final do ano passado que chegaram os primeiros sinais de Caronte, uma nova voz ao serviço do hip hop português, cada vez mais plural no que toca à diversidade de fórmulas e técnicas que têm vindo a ser criadas, principalmente nos últimos cinco anos, período durante o qual a cultura urbana se tem mantido em clara ascensão. VULTO. era — uma vez mais — o homem responsável por nos apresentar um novo newcomer a ter em conta para o futuro, comprometendo-se instantaneamente a lapidar o diamante que lhe caíra nas mãos, tal era a apetência para as palavras e a vontade para percorrer pelos caminhos menos óbvios numa possível carreira musical.
A possibilidade passou a certeza quando colheu os primeiros louros de “MIGUEL”, o seu primeiro rap de sempre e, simultaneamente, o primeiro sinal da sinergia obtida a partir da equação “VULTO. x Caronte”. Não bastassem os elogios tecidos pelos mais atentos cibernautas ao Bandcamp do produtor, em Janeiro foi o convidado surpresa durante a actuação de COLÓNIA CALÚNIA, numa curadoria d’O Gato Mariano no DAMAS, e arrancou um dos mais fortes aplausos daquela noite. “Temos artista,” pensámos.
O estatuto confirma-se quando nos apercebemos que MONRÓVIA é apenas o terceiro lançamento na carreira de Caronte, que não temeu em arriscar os versos num formato mais longo e exigente. VULTO. consentiu e repetiu em MONRÓVIA aquilo que tem vindo a ser um hábito desde SURREALISMO XPTO: produções quiméricas que assumem uma silhueta electrónica em contraste com a cabeça, carapaça de um cérebro que pensa e imagina ao ritmo do hip hop. Está encontrada (mais) uma fórmula para elevar a música portuguesa para níveis superiores.
O Rimas e Batidas esteve à conversa com VULTO. acerca do seu novo lançamento por COLÓNIA CALÚNIA.
Está prestes a celebrar um ano desde a vossa estreia enquanto dupla, naquela que foi a primeira canção de sempre do Caronte. Olhando para trás, o que dirias que evoluiu na vossa metodologia quando trabalham em conjunto?
A maior evolução reflecte-se mais no work flow e o à-vontade que temos um com o outro enquanto trabalhamos. A nível sonoro tem sido uma viagem continua, mas decidimos colmatar esse capitulo com este grupo de canções.
Agora assinam um EP por COLÓNIA CALÚNIA, formato que “obriga” a um maior cuidado na concepção e coesão dos oito temas que nele integram. Tinham algum plano em mente para a narrativa — quer verbal, quer musical — do projecto?
Não. O intuito era experimentar e fazer algo que agradasse aos dois no final. Como referimos, foi uma viagem. Sendo que surgiu um largo interesse por toda a cultura do cancioneiro popular e folclórico e a estética da música de intervenção portuguesa. Não foi algo que pretendíamos utilizar literalmente ou de uma forma óbvia, mas que de certa forma foi influencia para alguns destes resultados.
Explica-me a ideia deste título: MONRÓVIA.
É uma palavra que se explica a si mesma e é um conceito estético que nos agrada. Acho mais interessante as pessoas fazerem a sua pesquisa.
Gostava de focar a “LOTO”, que encerra este EP e faz a ponte entre rap, bass music e cante alentejano. Como surgiu esta ideia? Há alguma história detrás da criação desta faixa?
Toda a cultura musical portuguesa e a forma como nos vemos nela foi sempre um tema muito presente enquanto estivemos juntos a trabalhar. Nesse sentido, todas as referencias que falámos anteriormente acabam por entrar no universo que estamos a construir. É muito osmótico. Não há muito a explicar sobre o trabalho em si, é mais sobre o que se pretende com ele — criar ligações entre o hip hop, a electrónica e a música portuguesa.