pub

Publicado a: 25/10/2017

VULTO. produz a primeira canção de sempre do newcomer Caronte

Publicado a: 25/10/2017

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

Caronte é o novo rapper que VULTO. dá a conhecer ao mundo numa produção sua. “MIGUEL” é o primeiro tema de sempre deste recém-chegado.

Nem parece a primeira vez. A forma suave, mas confiante com que Caronte abraça a língua de Camões faz-nos pensar que esta poderia muito bem ser uma segunda vida do rapper. Uma mudança de pseudónimo talvez. Mas não, não é nenhum recomeço. É uma entrada a pés juntos de um novo talento a surgir do laboratório de VULTO., que encontra em “MIGUEL” uma nova maneira de dar forma à sua escrita, um processo artístico ao qual recorre com frequência.

O nome que adopta para assinar o tema é “emprestado” por uma figura da mitologia grega que conduzia o barco que transportava os recém-defuntos até ao mundo de Hades. O mesmo nome com que intitula um romance que nos revela estar ainda a desenvolver. É deste hábito da escrita que nasce a possibilidade de passar as palavras de um caderno para os nossos ouvidos. Textos esses que foram ao encontro dos padrões definidos por VULTO. na hora de escolher o digno herdeiro das suas batidas e melodias, que colocou Caronte a soar como quem já leva alguma experiência na bagagem.

“Foi um grande acaso o facto de ter ido trabalhar para o sítio onde ele já estava,” conta o rapper ao Rimas e Batidas, lembrando a forma como surgiu a ligação ao produtor. “Fomo-nos conhecendo e percebi quem ele era e o que fazia. Ouvi os trabalhos dele e. como sempre escrevi num registo totalmente diferente, fiquei interessado em colaborar e diversificar aquilo que fazia. Fui apresentando uns escritos que tinha, passei a escrever de uma maneira mais musical para interpretar. E, ao fim de muitas conversas, recomendações e ensinamentos, acabou por aparecer isto. É realmente importante enfatizar o papel brutal de conceptualização, para além da produção que o Pedro foi tendo.”

Da relação laboral nasce “MIGUEL”, primogénito que soa estar já demasiado desenvolvido para o seu tempo. Até porque Caronte “nunca tinha feito nada neste registo. Só escrevia. Nada gravado, nada no YouTube. Foi mesmo a primeira coisa de todas”. Apesar de tenro, o newcomer já vem com um guião bem delineado e traça um perfil de si mesmo baseado no futuro, sobre a obra que se propõe a continuar a apresentar: “Posso acrescentar que a vertente do storytelling que estou a tentar introduzir de alguma maneira acaba por ir ter ao épico das epopeias antigas, que eram originalmente crónicas da interacção do divino e do sobrenatural nos meandros na humanidade. Existem vários exemplos disso, por toda a Ásia, e mesmo na Grécia, na Antiguidade Clássica.”

VULTO. larga o instrumental no pleno caos da sua total lucidez. Desregula os níveis de acidez dos VSTs que opera na sua máquina, oferecendo-nos uma balada digital corrosiva. “A sonoridade é como sempre faço. Eu adapto-me à pessoa com quem trabalho”, conta-nos VULTO. a propósito da colaboração com Caronte. O produtor já ajudou a colocar no mapa vários nomes da cena underground nacional como L-ALI, Jota ou Secta. “Toda a gente sabe que não descuro as minhas vontades, mas o trabalho é sempre feito com foco no rapper,” continua, deixando ainda antever aquilo que poderá estar para vir: “Temos mais uma faixa semi-gravada, mas não esta fechada, no mesmo registo desta, que acaba por ser o registo gera que eu ando a tentar desenvolver. Estamos também a tentar desenvolver um EP e algumas colaborações com malta que toda gente já esta habituada a ver em trabalhos meus.”

Sobre os pensamentos que discorre em “MIGUEL”, o rapper fala dos motivos que levaram-no a “atacar” o papel: “o intuito era falar daquela situação que nos acontece a todos a dada altura, na qual duas pessoas que se encontraram, nalgum ponto da sua vida, juntas e se apercebem que tiveram de mudar a sua individualidade em prol desse relacionamento e começam a ressentir-se uma com a outra porque já nada sobra delas que não tenha a ver com o relacionamento em si. Como se a presença da outra pessoa tivesse mudado tantas coisas em ti que já não te reconheces bem. E tudo aquilo que foi determinante para estares com aquela pessoa já nem se nota, porque ressentes as mudanças que ela provocou em ti, tanto como as que por ti foram provocadas e apagaram esse traço de individualidade que te atraiu nela em primeiro lugar. A pessoa, que antes era uma cura para a dor, um anti-depressivo ou um ansiolítico, passa a ser só mais uma tarefa ou ‘tempo para passar.’”

O coração de “MIGUEL” rasgado ao meio. Por Caronte e VULTO..

 


pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos