pub

Fotografia: Afonso Sereno
Publicado a: 01/11/2023

Sempre em mutação.

Marianne: “Eu vejo todo o meu trabalho como etapas e gosto de encerrá-las quando estão completas”

Fotografia: Afonso Sereno
Publicado a: 01/11/2023

Marianne sentiu o chamamento de Portugal e, aos 18 anos, partiu da Suíça para descobrir por si mesmo os segredos que a nossa cultura guarda. Filho de pais lusos que emigraram para aquele país da Europa Central durante a década de 80, inicia os estudos musicais no conservatório de Genebra e termina-os já em Lisboa, na Universidade Nova, onde se formou em Artes Musicais.

O rumo que escolhe no arranque da sua carreira é, no entanto, bastante desviante face ao percurso académico que trilhou até então. Em conversa com o Rimas e Batidas, admite que continua a tirar proveito das ferramentas que adquiriu ao longo de todo esse processo de aprendizagem centrado na vertente clássica do piano, sem nunca se colar àquilo que é a estética ou as estruturas desse estilo musical tão regrado.

O resultado é bem audível em qualquer uma das faixas que Marianne tenha assinado até ao momento. Influenciado pela cultura hip hop, é hoje detentor de um repertório que vai do trap e da bass music ao r&b e à pop alternativa, alternando entre ambientes sónicos que tanto podem ser celestiais ou mais sombrios. Depois de ver bem recebidos os seus primeiros dois singles, “Lonely” e “Sem Noção”, não demorou até partir para o álbum Tirésias, editado no final do ano passado, tendo mais recentemente apostado no formato de curta-duração em Mémoires, onde dá uma cambalhota ao nível da sonoridade comparativamente com o projecto que lhe antecedeu — lançado juntamente com um videoclipe, “Paris” é a canção em destaque dentro desse trabalho que revelou ao mundo em Setembro deste ano.

Tão promissor quanto disruptivo, o artista prepara-se agora para mostrar a sua obra num dos clubes mais emblemáticos do nosso país, o Musicbox, por intermédio da edição deste ano do Jameson Urban Routes. Na entrevista que concedeu via Zoom à nossa publicação, traçou-nos o seu percurso até aos dias de hoje e antecipou-nos o que podemos esperar do concerto em Lisboa, que está marcado para esta sexta-feira, dia 3 de Novembro.



Tu tens estado por Lisboa, mas nasceste na Suíça.

Eu nasci na Suiça, exactamente.

Eu percebi que foi por lá que iniciaste os teus estudos em música, mais concretamente em piano clássico. Olhando para a música que fazes actualmente, encontras pontos de ligação com o tipo de ensino musical que tiveste?

Os pontos de ligação encontro-os nas ferramentas que eu uso. Esses pontos não são ao nível de querer seguir uma estética mais clássica. Eu não me consigo desvincular do ensino que me foi dado, porque as primeiras vezes que eu tive contacto com a música foi nesse âmbito clássico. Com essas ferramentas que me foram transmitidas eu componho. Eu faço um beat ou uma composição através desse ensinamento que me foi dado. Mas eu não dou um seguimento a isso ao nível da estrutura, no sentido de que eu não vou pegar numa sinfonia de Tchaikovsky ou de Beethoven e fazer um beat com uma parte A, uma ponte, uma parte B… Eu deixo as coisas fluirem mais. Por ter crescido com estruturas dessas, se calhar, mais incisivas ao nível do ensinamento, agora dá-me vontade de querer só usar as ferramentas, os utensílios que me foram dados, e produzir. Eu sinto que estou sempre na conexão com a clássica na questão de como eu toco o piano, como eu vou usar o piano ou outro instrumento. Eu posso, do nada, juntar um 808 a um piano clássico. É sempre à volta da maneira como eu aprendi a tocar, como me foi leccionado. Mas não sigo uma estrutura clássica de forma alguma. Até foi algo que questionei na minha tese de mestrado… Não quero estar a abordar muito a questão da tese, mas eu gostaria de desvincular-me completamente desse contacto clássico, dessas cenas da academia musical. Só quero tocar e produzir. Mas como vim de lá, eu acabo por tocar, transmitir e traduzir a minha musicalidade com isso, porque foi isso que eu vivi.

Há um press release que recebi teu que frisava muito a palavra “desconstrução”. É um bocado isso? Pegar em toda essa informação que bebeste e, ao invés de imitar essa estética, tentar desconstruir esses ensinamentos e aplicá-los numa outra área sonora?

A desconstrução é uma palavra complexa, porque hoje em dia ela abrange muita coisa. A desconstrução que falo de mim, não é no sentido de querer apagar esse ensinamento que me foi dado. É exactamente como estavas a dizer: é pegar no que eu sei, desenvolver uma linguagem musical e sonora minha, própria, e chegar em certos lugares onde eu queira arriscar. Eu posso ir para um lugar mais hip hop, ou outro mais celestial, lo-fi… Mas sempre dentro dessa base que é minha, porque acho que o primeiro contacto que uma pessoa tem com a música é muito privado. Nós destacamo-nos pela identidade musical e por esses detalhes de ensinamento que nem toda a gente teve. Nem toda a gente teve o percurso que eu tive. Eu tive um acesso completamente diferente à música, é óbvio. Tenho consciência de que foi um privilégio por ter começado assim. Mas o que eu quero levar em diante é um estudo meu, um estudo sonoro, porque também acho que esses padrões não se encaixam com uma ideologia na qual eu acredito.

É de facto um privilégio termos acesso a um certo tipo de ensino musical desde cedo. Mas isso, às vezes, também pode ser uma arma que se vira contra quem cria, não é? Uma pessoa pode ficar demasiado agarrada àquilo que lhe é ensinado e depois não progride.

Quando eu falo de privilégio, é no sentido do acesso ao ensinamento da música, de ter tido uns pais que conseguiram trabalhar para pagar as minhas aulas de piano. É dessa noção de privilégio que estou a falar. Mas, como estavas a dizer, nós podemos ficar muito pegados a esse ensinamento, e eu acho que esse foi o meu maior defeito no início do meu trajecto. Sem dúvida. Não a questão de estar agarrada a noções sonoras clássicas, mas mais na forma como executava. Se calhar, isso era um self-sabotage, o querer tudo na perfeição e entrar dentro dessa equação sonora. Tive de ficar mais tranquilo e let it go em relação ao que estou a fazer. Sem dúvida.

A dado momento deixas de viver na Suíça e vens para Portugal. Isso é uma coisa que tu fizeste sozinho ou vieste acompanhado com a tua família?

Então é assim… Eu cresci lá e aprendi português em casa, tinha família cá, então tive sempre essa cosisinha de “vamos ver o que é que pode acontecer em Portugal.” Eu vim para cá para estudar. E pensei: “‘Bora ver o que é que pode acontecer.” Eu tomo essa iniciativa com a minha mãe. Eu digo-lhe: “O que é que achas de voltarmos?” Ela achou interessante. Ela e o meu pai emigraram nos anos 80. Morávamos em Genebra, mas eu tinha contacto com a minha família de cá. Então fiquei curioso e disse que queria ir ver e conhecer Portugal mais intimamente. Eu vim e a minha mãe seguiu-me, só que ela ficou na terra de onde é natural, Aveiro. Ela disse-me: “Para a área que tu queres seguir, acho que Lisboa e Porto são os lugares certos.” Entretanto, foi em Lisboa que eu encontrei casa e um curso para tirar. Portanto, vim para cá com a minha mãe. Foi uma iniciativa minha. Acabei os meus estudos lá, tinha 18 anos, e pensei só em seguir. Sempre tive essa curiosidade de vir para cá, de conhecer e de estar aqui, de presenciar e tirar as minhas próprias conclusões.

Para quem viveu até tão tarde na Suíça, falas mesmo muito bem português. Os teus pais fizeram mesmo questão de fomentar isso?

Sim. Eu falava português em casa e tinha aulas de português semanalmente. Mas, sem dúvida, foi quando eu vim para cá estudar que eu tive de elevar a barra, até mesmo para poder escrever. Eu não tinha esse hábito e tive de batalhar. Eu queria mesmo escrever e cantar em português. Parte da curiosidade que me trouxe até cá foi, também, o eu querer abrir a minha escrita para uma língua que me tinha sido transmitida, mas que eu não tinha tido muito diálogo ainda. Quando tu escreves, estás a ter um diálogo com essa língua. Eu estava a precisar de sentir essa conexão. Essa conexão foi feita nos últimos 5 anos e agora, com o Mémoires, estou a voltar para um lugar onde me estou a reconectar com de onde eu venho, a tentar misturar para criar a minha própria linguagem, numa mistura entre o francês e o português.

Na Suíça já tinhas alguma ligação à cultura portuguesa? Consumias música, televisão ou cinema de cá?

Tinha, sim. Eu já escutava alguns nomes, como o L-ALI. Gosto muito da vibe. Também gostava de pessoas como o LON3R JOHNY. Ouvia hip hop. E do que eu me lembro, a vez em que eu pensei que queria mesmo assistir a um concerto em português foi quando ouvi um som do Valete, o da Vanessa [“Roleta Russa”]. Lembro-me de estar na Suíça a ouvir isso e “uau! Que cena!” O movimento era completamente diferente. Mas o L-ALI, lembro-me que era mesmo aquele artista que eu escutava na Suíça e ficava assim, “uau!” Toda a produção e o som dele… Eu gostava muito. A partir daí também comecei a pensar em vir para cá e ver as coisas. Aqui comecei a sair à noite, a conhecer as pessoas, a tentar perceber quem é que estava a fazer a cena aqui, quem cantava… Conheci mais coisas e comecei a interessar-me ainda mais. Entretanto, vai-se conhecendo as pessoas e agora estou a morar aqui.

Eu ainda não consegui perceber se, de alguma forma, estás ligado a outros músicos ou produtores. Nas tuas músicas, és tu que fazes tudo sozinho? Compões, produzes e cantas?

Eu tenho mão na produção de tudo o que eu faço. Eu componho na maior parte das vezes. Mas eu tenho sempre a ajuda de um beatmaker, de um engenheiro de som, uma pessoa que vai organizar o meu pensamento, que é como eu costumo dizer [risos]. Ele dispersa muito e pode ir para vários lugares. Eu antes tinha a ajuda do António Penaguião, que agora está a estudar em Londres. Ele produziu comigo as minhas primeiras tracks, até ao Tirésias. Agora tive a produzir, no âmbito do Queer Art Lab, do Festival Imersão, com a Filipe Sambado e com a Diana XL. Produzimos duas músicas novas. Agora estou a produzir com um rapaz que se chama dr.ba e estamos a fazer coisas novas. Ele mandou-me umas tracks, uns beats, e estamos a colaborar. Mas eu tenho sempre mão em algo da produção, apesar de ter alguém por trás. Na escrita sou sempre eu. Na composição, se existir um piano, um synth ou umas teclas, também sou eu na maior parte das vezes. A minha dificuldade — o meu ponto fraco, como costumo dizer — é mais na cena rítmica, no montar os hi-hats, no encontrar um 808 bom… É por isso que eu gosto de entregar o trabalho ainda cru a outros artistas, producers. Mas eu estou super-afim de trabalhar com pessoas, colaborar. Estou à procura. Já andei a falar com algumas pessoas e até gostava de lançar um projecto colaborativo, sem dúvida. Já estive a falar com a Rezmorah, que é um nome que me tem andado a bater no crânio. É ver o que é que aí vem. Eu estou sempre a produzir desde que tive aquele exercício com a Filipe no laboratório. De resto, mix e master também nunca sou eu que faço. Entrego sempre. Agora tenho trabalhado com o Cripta. Uma pessoa que está a pegar nas duas tracks que fiz com a Filipe Sambado é o Eduardo Vinhas. São coisas que estão em processo, mas quase acabadas. Agora quero vir com muito visual, muito acompanhamento estético, porque acho que é muito importante e eu ainda só tenho dois projectos visuais. Preciso agora de vir com algo visual, uma história visual. O visual está presente nos meus shows, mas acho que preciso de lançar videoclipes com as músicas para dar mais alguma presença.



Eu descobri a tua música através da “Paris”. Andei um bocado para trás e encontrei o Tirésias. Antes disso, já tinha mais coisas?

Eu tinha a “Lonely”, que é um single de 2021. Entrei com a “Sem Noção” numa compilação, que é a Memory Palace, que tinha vários artistas e foi para uma label [Mãe Solteira Records]. Essas foram as primeiras duas tracks que eu lancei. Depois disso tive umas actuações e decidi, em Dezembro de 2022, lançar o Tirésias, que nasceu dessa colaboração com o António Penaguião e com o K The Producer do Mad Things Lab, que foi o sound engineer do projecto. Mas antes do Tirésias só tinha a “Lonely” e a “Sem Noção”. Andei sempre a trabalhar com o António, a produzir… Só que como eu tenho essa vertente do piano, eu consigo compor na hora. E gosto de uma cena, que é fazer versões acústicas das minhas músicas. Posso pegar numa música do Tirésias e dar-lhe uma versão acústica, com piano e a cantar por cima.

Essas músicas de que me falas já estão todas dentro de uma estética que é tua. Não tiveste de batalhar um bocado até chegar a este ponto? Chegaste a passar uma temporada a criar coisas que guardaste apenas para ti enquanto estavas a evoluir? Ou chegaste assim tão rapidamente a este tipo de resultados logo nas primeiras coisas que começaste a fazer?

Eu já tinha coisas minhas, mas eu não hesitei muito nem demorei a lançar, até porque eu sinto que não posso perder tempo na sonoridade, porque sei que sou uma pessoa que está sempre a mudar na necessidade da entrega e na vontade de me renovar e de evoluir sonicamente. Eu sabia que se eu não lançasse naquela altura, em 2021, eu não as ia lançar mais. A “Paris”, por exemplo, era uma música que eu nem queria lançar. Ela chegou a estar prevista para sair no Tirésias e eu decidi que não ia sair lá no último segundo. Depois mostrei a track ao pessoal, e o pessoal disse-me: “Não pode ser. Tu não podes não lançar isto. E tens de fazer videoclipe.” Fui motivado por essas pessoas com quem colaboro, que insistiram e me disseram para regravar e confiar. Eu regravei, mas ela era para ser uma unreleased track. Eu guardo muita coisa. Tenho muita coisa já gravada de há muito tempo. Guardo, vou seleccionando… Há sempre uma renovação sonora a acontecer e eu tento sempre evoluir. Agora tenho mais capacidade de produção, porque eu não tinha há um ano. Estou nessa questão de querer arriscar mais, todos os dias, a sentir que vou evoluir e entrar noutro nível sonoro. Também estou a tentar arriscar noutras formas de escrita, ver até onde é que consigo ir. Agora tenho o show da Jameson, apresento-me dia 3, e vai ser onde eu vou conseguir ver o casamento de toda esta história, que vai de “Lonely” até agora, para onde eu estou a ir — porque eu já vou mostrar coisas do futuro de Marianne; vou apresentar coisas que ainda não estão lançadas. Quero ver como é que o pessoal reage. Para a “Paris” correu bem. Eu apresentei-a ao vivo antes de a lançar, mesmo para testar, e foi óptimo. O pessoal reagiu super-bem. Eu gosto de fazer essa coisa, de dar esse toque ao público que está comigo, de dizer mesmo: “Isto é uma unreleased track e eu quero saber como é que vocês acham que a música está.” Pronto. Vai ser uma junção de tudo. Vamos ver como resulta na sexta-feira.

Percebo que foste bastante ponderado na escolha dos temas que integraram o Tirésias e até me falaste de teres retirado a “Paris” do alinhamento. Para um primeiro projecto, ele ficou de facto muito coeso. E é curioso que todas as faixas tem praticamente o mesmo número de streams no Spotify, algo que não acontece muito nos discos lançados nos dias de hoje — há sempre duas ou três faixas que se destacam, depois os números são mais baixos nas restantes. Ou seja, dá a ideia que as pessoas estão mesmo a consumir o teu álbum como uma peça só, não como um conjunto de faixas que agrupaste ali. Houve algum conceito por detrás deste disco?

Eu não acho que tenha criado um conceito. Quando um álbum é sobre a vida de uma pessoa, é um álbum que simplesmente é feito. Há muitos artistas que fazem isso e passam por esse momento na carreira. Eu não me conseguia ver a avançar no meu repertório sem lançar esta compilação de tracks. Quando me perguntam o que é o Tirésias para mim, eu digo que é a minha apresentação. Eu não preciso que as pessoas gostem ou que ouçam bué. Isto é um momento. O Tirésias é um momento para ouvir, é uma identidade, sou eu — eu de várias formas. Esse é o meu conceito. Para mim, era impensável não fazê-lo. A “Lonely”, por exemplo, ainda está em inglês, comigo a ver para onde é que haveria de ir sonicamente. No Tirésias, eu pensei mesmo… Eu até apresentei o Tirésias no Iminente, ainda antes de o lançar. Eu tinha 45 minutos de actuação e pensei que era um óptimo momento para apresentar o Tirésias. Foi uma produção intensa de 5 meses, todos os dias de seguida. Eu não ia lançar este disco para o pessoal se identificar. Ele é a minha história. O pessoal pode identificar-se em certos pontos e aspectos que eu liricamente posso atingir, mas a vivência é minha, unicamente minha. Daí este ser um álbum autentico. O conceito é ser o meu conceito. Eu digo sempre isto ao pessoal: “Isto é a minha apresentação. Se tu queres saber quem eu sou, ouve o Tirésias.”

Entretanto lanças o Mémoires. Nota-se que é produto do mesmo artista, mas tem um som mais grave e mais sombrio, de certa maneira. Qual era o teu estado de alma quando estavas a fazer este projecto?

No Mémoires eu tive ainda mais mão na produção e na composição. Sou eu a revisitar as minhas memórias, onde escrevo em francês e misturo com português. Eu nem queria fazer uma grande produção para a capa do EP nem nada. Eu só queria autenticidade e vulnerabilidade. Esse foi o estado de espírito, onde eu estou num lugar de várias questões para com a sociedade. Foi como se eu pegasse nas minhas caixinhas de memórias e as entregasse. O Tirésias é a caixinha que tenho dentro de mim, onde eu permito às pessoas ouvi-la e verem-na. O Mémoires é a caixinha que sai de mim, vai para fora e está aberta, para que consigam ter um olhar crítico sobre ela, mesmo que não entendam tudo, por ter coisas em francês. O tom e a maneira como ela está a ser cantada — a emoção que está a ser posta — é o que retrata e revisita as minhas memórias, onde eu me permito ir às coisas que tenho lá bem atrás, de quando era era criança, de quando eu tinha os meus primeiros contactos com o francês e o português, o crescer com isso. É por isso que fiz a música “Métamorph”, em que eu estou numa metamorfose sonora, a ir para um lugar de um som diferente e a querer colaborar com outras pessoas. Eu vejo todo o meu trabalho como stages, etapas, e eu gosto de encerrá-las quando estão completas. Eu entrego-as para depois poder continuar a step up em direcção a outro lugar. Isso implica também a sonoridade. Eu agora não vou fazer coisas do género do Tirésias ou do Mémoires. Vou para a frente.

Em relação ao teu concerto no Jameson Urban Routes: como vai funcionar o teu espectáculo ao vivo? Tu vais ter banda ou apenas voz com beats a serem disparados?

Normalmente tenho sempre músicos comigo. Desta vez não vou ter guitarrista, que normalmente até era o António. Vou ter uma violinista, uma artista multi-disciplinar chamada N▲N▼. Eu, normalmente, estou sempre a tocar piano. Acho que que tive poucos shows em que não toquei. Vou ter pelo menos um teclado da AKAI ou algo assim. Desta vez, vou começar logo com um instrumento clássico, que vai ser o violino, com um som intenso para abrir o show a entrar nesse mundo da música clássica. Tenho uma DJ, a Isabella Corá (ou Nicotyna). Desta vez não vai ter guitarrista porque, como é o Musicbox, onde nunca toquei e é um espaço indoor (eu só toquei em espaços outdoor), tem aquela coisa do foco ser unicamente eu. No exterior tu podes ter várias coisas à volta e desapegares-te rapidamente. Eu sinto mesmo que este é o momento para eu apresentar os meus skills de composição, de piano, de voz e de diálogo com as pessoas. Também quero mostrar o aspecto estético, porque vai existir sempre componente visual. Normalmente tenho performance, mas desta vez não vou ter, porque é isso: quero que seja íntimo e este é um palco onde tenho de ter esse statement de estar sozinha à frente. Sou eu para o público. É Marianne para o público.

Estamos já prestes a começar um novo ano. Já tens planos para o que vai ser o teu 2024 em termos de agenda?

Sem dúvida que temos planos. Eu trabalho com a Aufstand Team e temos tido planeamentos de ideias que eu consigo fazer. Sou artista independente, a agência também é independente, então vamos fazendo acontecer com o que conseguimos ter. Temos projectos fechados, gravados e masterizados que vamos lançar. Mas é como estava a dizer mais no início desta entrevista: eu quero lançar mais coisas com visual, com videoclipes, porque é muito importante para mim essa questão estética. Eu quero fazer um vídeo com uma produção bem grande, para não parecer que estamos só a tapar buracos. Tenho de mostrar um level up nessa questão, não só no som, mas também na estética visual. Estou a pensar lançar um single em 2024 e, provavelmente, também um EP, mais a meio do ano, com 3 ou 4 tracks. Mas será sempre algo a ser ponderado. Eu estou a dizer-te isto, mas não tenho problema em recuar se eu achar que não está pronto. Como sou artista independente, tenho essa facilidade de poder avançar ou recuar nas decisões que eu acho que são melhores para mim e para a minha equipa.


pub

Últimos da categoria: Entrevistas

RBTV

Últimos artigos