Depois de terem trabalhado juntas em Lobo e Cão, a cineasta Cláudia Varejão voltou a convidar a pianista Joana Gama para assinar a banda sonora do seu novo filme. A curta-metragem KORA estreia-se esta sexta-feira, 30 de Agosto, na Seleção Oficial do Giornate degli Autori, a secção paralela e independente do Festival Internacional de Cinema de Veneza.
Também a partir desta sexta-feira é possível ouvir a peça musical composta e interpretada por Joana Gama. “Sigo com admiração o trabalho da Cláudia Varejão há vários anos e, com o tempo, fomos tecendo uma amizade de afinidades. Foi um grande gosto poder gravar um excerto da música de Hans Otte para o filme Lobo e Cão e foi com receio de não estar à altura, mas com entusiasmo na mesma medida, que aceitei o convite para fazer a música para KORA, a sua mais recente curta-metragem”, refere a pianista em comunicado.
KORA centra-se numa série de mulheres refugiadas a viver em Portugal — Inna da Ucrânia, Norina do Afeganistão, Zohra do Sudão, Margarita da Rússia e Lana da Síria. O filme vai-se desenrolando através dos seus gestos e vozes.
“Vivemos uma tragédia humana sem precedentes. Falhámos enquanto espécie e sociedade. Sinto-me responsável como ser humano, cidadã e, até mesmo, como realizadora. KORA foi nascendo desse sentimento de pequenez e, simultaneamente, da frustração por fazer parte de algo que não fala por mim. Este filme é o meu olhar, político e afectivo, sobre o momento histórico que me cabe viver”, diz Cláudia Varejão acerca do filme.
Sobre o processo de compor e interpretar a banda sonora, Joana Gama conta que tudo “se passou muito rápido entre o convite, o trabalho ao piano e a gravação”. “O tempo era pouco e o entendimento foi imediato, para nossa surpresa e regozijo. Vi o filme repetidas vezes, para ir depurando a contribuição musical, e emocionei-me muito com os relatos e com o resultado: um registo íntimo e humano de situações pelas quais ninguém deveria passar. Espero que este filme seja visto por muitas pessoas, já que é uma contribuição preciosa para a humanização da vida de tanta gente, que deixa os seus países em busca de uma vida digna.”