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Fotografia: Beatriz Pequeno
Publicado a: 07/04/2023

Curar custa.

iolanda: “Ter lançado estas músicas cura-me um bocadinho todas as pequenas mágoas que fui guardando”

Fotografia: Beatriz Pequeno
Publicado a: 07/04/2023

Perdoa-se a abordagem simplista a possíveis temas frágeis: curar uma ferida dura tempo. Óbvio, não é? Mas, quiçá, numa era onde se procura tanto o imediato ao contrário do duradouro, é preciso providenciar um pequeno lembrete disso – curar custa. Requer esforço, alguma paciência e, no limite, ajuda exterior, como recorrer à terapia. Não há mal nisso.

Mas o tempo passa e os danos mantêm-se visíveis. Os contornos das cicatrizes, sejam estas figurativas ou bastante reais, dão corpo a lembranças do passado, ora recente, ora longínquo, que se perpetuam na nossa memória e nos continuam a influenciar praticamente diariamente. Curar custa.

No caso de iolanda, o título do seu primeiro curta-duração – Cura – não podia ser mais apto. O processo para chegar a este momento não foi curto – pelo contrário. Iniciou-se com a sua paixão pela música, passou pelas suas primeiras experiências de estúdio divididas entre Pombal e Louriçal, por múltiplos programas de talento da televisão portuguesa, onde o não realizar de um sonho se transformou num combustível para reconstrução do seu âmago, e por uma experiência ou outra mais profissional no mundo da música que, independentemente das suas qualidades e defeitos, partilham algo: existia um indício que iolanda tinha potencial para ser uma diva. Só precisava de se encontrar. 

Uma estadia no BIMM Institute, em Londres, serviu como experiência para reconstruir a identidade artística de iolanda. Voltou para Portugal revigorada e ao longo dos últimos dois anos, ao lado de boa malta como Luar, LEFT. ou NED FLANGER – entre outros colaboradores – construiu minuciosamente aquilo que seria o melodramático, romântico e sensível universo de Cura

Se cada vez que escutamos iolanda ao longo dos últimos dois anos em canções, seja nos singles de antecipação de Cura ou na sua participação em várias faixas do Volume I da AVALANCHE, o nosso coração era aquecido, agora surge a ternura confirmação de que estamos perante um nome que, com o dado nível de sorte – e muito trabalho à mistura -, tem tudo para ser uma das próximas grandes divas da música feita em Portugal para a próxima década. Restam poucas dúvidas: Cura é um dos projetos do ano e será apresentado ao vivo hoje (7 de Abril) no Tokyo Lisboa, com primeira parte ao encargo de Inês Monstro.

Para entendermos melhor a Cura de iolanda, o Rimas e Batidas sentou-se à conversa com a artista para trocar impressões sobre o seu percurso, o processo de criação deste seu EP de estreia, colaborações desejáveis e o que se segue para esta no futuro.



Não Foi Isto Que Sonhaste“. Este título diz-te alguma coisa?

Diz-me. Fui eu que escrevi, algures [risos]. 

Há para aí uns 10, 11 anos…

Ya! Isso foi uma cena que escrevi com o Proz e com o RimeR, que era malta com quem escrevia e fizemos assim umas coisas [juntos]. Na verdade, foi a minha primeira experiência de gravação, e na altura, foi muito engraçado, porque eu não fazia ideia nenhuma sobre o que era o processo, mas fui à mesma escrever coisas. Na altura, acho que ganhámos uma coisa da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, se não me engano. E eu tinha 15 [anos], para aí, se calhar?

Fizeram mais alguma coisa em conjunto ou foi só essa experiência?

Nós fizemos a primeira canção que se chamava “Num Segundo“. Passou na rádio da escola e eu estava crazy quando passaram aquilo.

Isto em Pombal, certo?

Sim, em Pombal, no Louriçal. Passaram a música lá na rádio da escola e aquilo foi assim incrível, porque a malta andava a perguntar se era a Iolanda a cantar, e surgiu fazer umas quantas mais. Fomos para um estúdio que eles tinham, assim meio improvisado, e fizemos umas três ou quatro, se não me engano. Foi assim uma fase minha de descoberta no hip hop, no Louriçal.

Isso foi há uns 11, 12 anos. Entre a tua presença em vários programas de talentos e uma feature numa canção do Darko (Zé Manel dos Fingertips), passou muito tempo desde esse teu primeiro momento de experiência em estúdio. Este teu primeiro EP ser colocado cá fora é um sonho realizado?

É um sonho realizado, sim. É uma coisa que e tinha muito presente na cabeça e não desisti enquanto não o fiz. Na altura, não sabia que o precisava de o fazer, e isto é engraçado. Queria lançar músicas, e eu não sabia que o Cura era o que precisava de lançar. Não sei se na altura pensava nisto como um EP, porque quando escrevi a “Quem Tem Mossa” foi um bocado de estar a gostar do que estava a escrever e explorar a partir daí – não foi numa de pensar que a “Quem Tem Mossa” ia ser a quarta faixa do EP. Foi tudo um bocado all over the place, na verdade. Na altura, não estava com foco em fazer um EP, mas sempre soube que queria fazê-lo.

Na última vez que conversámos, aquando da conversa contigo, com o Luar e com o LEFT. sobre a AVALANCHE em finais de novembro de 2022, ouvi nas entrelinhas que este EP estava para breve. Colocar esta Cura cá fora demorou tempo? Quando é que começou o processo de criação do EP?

Eu sei quando escrevi a primeira canção, a “Quem Tem Mossa”, devido a um vídeo que meti no Instagram. Foi a 16 de abril de 2020. Foi a primeira vez que senti que era diferente, que não era como as outras coisas que tinha escrito antes. Aquilo fez-me sentido e estava a gostar porque já tinha escrito muito lixo antes – e outras coisas que não eram lixo, não é preciso ser tão agressiva [risos], mas havia algumas que eram más, eram estranhas. Antes achava essas cenas que escrevi bué fixes, mas hoje vou ouvir e fico “Heyyyyy mano, ‘tá grave”-

Ainda bem que fica no arquivo, então [risos].

Mas é que às vezes até me apetece publicar aquilo, sabes? Porque há bué malta que fica perdida naquele processo de sentir que não tem nada para escrever ou que aquilo que está a escrever não é fixe, mas se calhar vai ser. Só que tem que se ir escrevendo e fazendo e procurar essa cena como eu procurei. E eu procurei muito nestes dois últimos anos. Mesmo durante o processo após escrever a “Quem Tem Mossa”, houve alturas em que escrevi coisas que não gostava e frases que não gostava. 

O Luar é uma espécie de soulmate musical para ti, mas o Cura também conta com produção do LEFT. e do NED FLANGER em algumas faixas. O que cada um deles trouxe às canções do EP?

Olha, isso é uma pergunta interessante, também porque o miguele fez um pouco de co-produção na “Juro Já Nem Paro” e eu, que fiz em todas.

Mas só tens créditos acho que… em duas?

Sim, porque também não quis estar a meter-me em tudo. Deixei créditos na “Juro Já Nem Paro”, porque foi um trabalho muito mais em equipa, e se não me engano na…-

“31 [de Dezembro de 2020]”.

Exatamente, que fui eu que idealizei mais ou menos a cena. Mas o Luar teve um processo em todas, menos na “V de Volta” e na “Lugar Certo”, que foram a do NED FLANGER e do LEFT., respetivamente. Acho que eles trouxeram algumas coisas interessantes ao processo a vários níveis. E isto é engraçado, porque é um EP, parece uma coisa mais pequena, mas foi toda uma viagem e foram dois anos de eu a admirar pessoas. Eu já admirava estas pessoas quando estava em Londres – lembro-me de na altura estar a trabalhar num pub e nas pausas ia ao telemóvel ver se eles já me seguiam de volta ou não [risos] – e eu bajulava genuinamente aquela malta porque adorava-os, e como estava um bocado sozinha, estava à procura de malta que gostava e achava que a aura deles colava. Então, colei um bocado na malta do [estúdio] Great Dane. Lembro-me de olhar para as coisas do LEFT., da Rita [Onofre]… Do Luar não, porque o Luar já tinha conhecido pessoalmente e tivemos sempre ali uma relação diferente e mais de irmãos, mas depois todos começaram a vir para este lado de outra forma. Quando os conheci pessoalmente, foi quando percebi que iria ser uma família muito bonita. 

Então, acho que tanto o NED FLANGER como o LEFT. trouxeram algumas coisas frescas à minha escrita, e lembro-me da primeira vez que tive sessão com o LEFT.. Eu fiquei chocada! Mostrei-lhe uma música, fizemos ali uns arranjos com umas harmonias, e eu fiquei “Wow, isto é uma cena muito diferente”, que não estava à espera que acontecesse assim do nada, e ainda não tinha a “Cura“. Ou seja, a “Lugar Certo” foi das primeiras que produzi, assim a saber que queria fazer uma música do início ao fim. Depois, com o NED FLANGER, foi uma viagem enorme e incrível do início ao fim. Houve altos e baixos, houve alturas em que estávamos meio perdidos, sem saber o que íamos fazer a seguir, porque foi uma canção difícil de produzir, mas o processo valeu a pena. Acho que a “V de Volta” foi assim a mais difícil [de fazer]. A “Lugar Certo” foi a mais, diria, consensual, mas desde a primeira vez que a produzi até ao produto final, foram dois anos – acho que foi assim a mais longa. Mas eles trouxeram coisas muito bonitas. Podia estar aqui a dizer bué adjetivos, e está-me a faltar um bocado as palavras, mas trouxeram coisas que eu sozinha não ia conseguir, sem dúvida. O LEFT. com os 808s dele e com aquela produção maluca e toda cheia de altos e baixos, o NED FLANGER de repente faz um beat meio r&b meets jazz meets fado meets tudo. Então, acho que se nota cada coisinha deles e de uma carrada de pessoas que fizeram parte, como a Rita ou o Gui Salgueiro (YANAGUI) nas teclas da “V de Volta”, o miguele com as guitarras na “Juro [Já Nem Paro]”. É um EP com os meus amigos todos e isso é muito fixe, porque eles não eram meus amigos há três anos.

Tens esses dois créditos de co-produção no EP. Vês-te a experimentar e aprender mais enquanto produtora no futuro?

Sim, gostava muito e é algo em que penso muito. Não é que seja preguiçosa, mas sou um bocadinho insegura, e então a produção é aquela coisa que tens de assumir mesmo, tens de estudar, tens de praticar, tens de lutar um bocadinho contra aquela procrastinação que acontece. Depois, tens um programa com tanto botão e tens de estar ali horas e horas a praticar. Acho que ainda não passei por essa fase, porque ainda não pus na cabeça que é necessário esse trabalho. Eu sei que é necessário mas, por exemplo, é uma cena difícil de gerir. Mas gostava muito. Aliás, eu tenho um curso, uma masterclass, que me ofereceram no meu aniversário, inclusive por todos esses amigos que acabei de falar agora – estou-lhes a dever três mesinhos em frente ao computador porque eles sabem que eu quero e eles vêem que isso seria giro. E é mega divertido. Quando vejo a malta a fazer essas cenas, eu fico “Wow, também quero”. Mas sim, quero muito estudar mais produção no futuro, quero tirar tempo para isso e, quem sabe, produzir as minhas coisas no futuro. Isso seria muito giro, muito interessante, e se calhar também libertador, porque às vezes tu estares a depender de um produtor para fazer as tuas canções nem sempre é a solução mais fácil. Às vezes é fácil porque estás ali tu a colaborar, mas quando tu própria produzes, podes mostrar uma ideia ao produtor, podes dizer “Olha, gostava de ir por aqui”, e mesmo que não seja a produção final, é fixe. E isso já aconteceu. Ao início, quando estava em Londres, como estava muito mais sozinha e dividia o meu trabalho entre casa e escola, produzia às vezes e fazia beats. Coisas muito simples, muito baseadas em voz e sons que criava no quarto e algumas percussões, porque acho que para elevares o teu skill até começares a utilizar samples e instrumentos eletrónicos, que era o queria fazer, requere bué trabalho e acho que ainda não consigo chegar aí. Mas isto é um caminho e é uma viagem, e sem dúvida que quero produzir muito mais no futuro.



Falaste já de Londres. Em 2015, em entrevista à RTP após a tua passagem pelo The Voice Portugal, falavas que querias ir estudar música para fora. Isto foi um desejo que cumpriste ao licenciares-te no BIMM Institute, em Londres. Como é que essa experiência impactou o teu desenvolvimento artístico?

Olha, essa experiência foi uma experiência que mudou a minha vida. Eu saí do The Voice, em 2015, e estava assim meio perdida. Não foi uma experiência fácil. Digo que foi uma experiência mega importante para a minha autoestima em vários níveis, porque obviamente, na altura, foi um choque. Acho que fui um bocadinho numa de quase desespero. Não estava com a cabeça nem o coração no sítio certo e devia ter tido mais calma. Se tivesse tido mais calma, talvez tivesse tido um outcome diferente. Ou seja, acho que nem fui pela música. Isto é giro de perceber e acho que é giro de dizer, porque há aquela coisa dos programas. Eu fui ao Uma Canção Para Ti quando tinha 14 anos, fui ao Ídolos, fui ao The Voice, fui ao Factor X, e de cada um retiro uma cena diferente porque estava em diferentes fases da minha vida. O The Voice é assim a única coisa que… Não quero dizer que me arrependo de ter ido, porque não me arrependo e acho que cresci muito com isso, mas foi duro. Foi difícil. Lembro-me de pensar em desistir e de achar que não valia a pena e aqueles clichés todos negativos que depois não aconteceram porque tenho uma família que me apoia muito. A minha mãe é provavelmente a minha fã – não é a [número] um, é a que vem antes – e os meus amigos todos me apoiaram muito, mas não chegou e tive que ir embora porque precisava de refletir um bocado em tudo.

Na altura, pensei que seria giro estudar música lá fora, mas eu não fui para Londres para estudar songwriting. Eu fui para Londres para curtir Londres, da forma que podia – porque obviamente que estudei e trabalhei ao mesmo tempo e, portanto, o tempo era escasso -, para ter uma vivência diferente, e pensei “Se calhar vou estudar música” porque sempre quis fazer isso e na altura não o fiz. Fui para Ciências da Comunicação para ter aquele plano B que toda a gente diz que é mega importante – e que eu acho cada vez mais que não é, porque a vida é um comboio a passar de Oeiras até Cais do Sodré e então mais vale aproveitarmos enquanto podemos – e licenciei-me. Mas era muito mais giro fazer música e decidi ir para Londres ver no que dava. E acho que Londres foi uma cidade que vivi e absorvi. Na altura, trabalhava em pubs, e então havia sempre aquela aura de Londres que é tão bonita, mas que é muito estranha. Às 11 da manhã, a malta bebe gin, e isso para mim era tipo… Dava uma espécie de vibe Amy Winehouse. Londres, pub ao lado de paragem de autocarros em Victoria Station, um entra e sai de pessoas que eu nunca tive tanto como ali. E tens tanta realidade. Aquilo deu-me tanto para escrever e absorver e tive experiências que acho que me trouxeram à terra e deram-me alguma perspetiva, porque na altura estava muito focada em mim, no que tinha falhado, no que fazia diferente ou no que não fiz de diferente em todo o meu percurso, principalmente no cúmulo que o The Voice foi. E pensei, “não, ‘bora escrever coisas.” Comecei a escrever sobre várias coisas, sobre a cidade. Tenho canções em inglês que não estão cá fora porque na altura não faziam sentido e não faziam parte de nada, são só canções soltas. Fui escrevendo tanto e fui praticando tanto, no autocarro para a escola, da escola para o trabalho, ou do trabalho para casa e para o supermercado, que foi a minha vida durante dois anos. Tenho voices de táxis e autocarros a passar, de malta a falar, e comigo a fazer beats, instrumentais e rimas e a tentar compor o máximo que podia nesses percursos. Isto tudo para dizer que sim, mudou muito a minha vida. Mudou bué a minha vida e acho que aprendi a escrever cenas bué interessantes e tenho algumas peripécias assim interessantes. 

Houve uma vez que mandei mensagem à Joy Crookes. Eu era muito fã dela, mas assim mesmo fã meets stalker [risos], e tenho uma história bué engraçada porque eu fui a um evento com o meu melhor amigo, que é o Jacob, que é de Gales e estudou comigo lá [em Londres], e queria bué conhecê-la, mas estava a trabalhar. E eu mandei o Jacob ir para lá mais cedo, mas aquilo era muito longe. Era para aí a duas horas de Southfields, que era onde eu morava. De repente, ele chega lá e eu estava atrasada; ele estava a apanhar uma seca [risos] e mandou mensagem a dizer para eu não demorar muito, porque estava mesmo aborrecido e não sabia o que fazer porque estava lá sozinho e aquilo eram só famílias e amigos – aquilo era um evento que não era bem para fãs e nós fomos à mesma. No final, conheci-a e falei com ela, porque o Jacob obrigou-me, porque eu ia embora sem dizer nada, e ele disse “Não, agora vais falar com ela porque eu estive aqui quatro horas contigo à espera. Portanto, vais falar com ela”. Disse-lhe que admirava muito o trabalho dela e ela falou muito da cena de songwriting de mulheres, que era muito importante, porque estávamos naquela fase em que se começou a falar muito sobre a mulher na música e na indústria – estava muito aceso esse assunto – e que ficou feliz por ter ido falar com ela e acabámos a tocar Instagrams – mas ela não me seguiu e eu fiquei triste [risos]. Mas claro que ela não me ia seguir! Ela não me conhecia de lado nenhum e eu estava mega stalker. Portanto, ainda bem que se calhar ela pensou que não ia seguir aquela miúda porque podia correr mal [risos]. Mas na altura pensei em ver se isso ia dar em mais alguma coisa, e abriu um concurso qualquer em que ela era embaixadora, no qual participei com uma canção e lembro-me que tu tinhas de mandar a tua candidatura com uma música, que escrevi em inglês. E isto tudo para dizer o quê? Não sou maluca, calma. Eu falo bué, mas isto tudo tem um sentido [risos]. Queria-te explicar como é que a cena do fado e desses trinados todos que comecei a fazer acontecem e como é que eles surgem. E acontece numa música chamada “Go Back”, que escrevi com a banda que tinha na altura com malta da BIMM, e de repente começo a perceber que estou a cantar e estou a começar a fazer esses trinados, essa forma de cantar que tem aqueles melismas do fado que não sabia de onde é que vinham. E depois, quando juntei a cena do inglês a esses melismas, fiquei “Ok, isto é uma cena”. Mas eu não queria escrever em inglês. No entanto, mandei a música e ela escolheu-me. Só que eu não pude ir à cena, ao evento, porque tinha clicado num botão que dizia que não estava disponível no dia do evento, mas não me lembro de clicar naquele botão. Eu fiquei desolada! E ela mandou-me uma mensagem no Instagram a dizer que estava frustrada, a dizer que não sabia porque não podia ir, mas que tinha gostado bué da música. E eu tipo: “What the fuck. Esta pessoa que a malta estava bué a querer ouvir escolheu a minha música e eu não posso ir porque cliquei num botão que não sabia.” Portanto, ya.

Respondeste-lhe?

Respondi, claro, e falei com ela. Depois estava sempre a chateá-la, no bom sentido, e a partilhar cenas com ela, e ela era bué querida. Até lhe fiz um convite, na altura, porque queria fazer uma cena de songwriting com mulheres cá em Portugal, e na altura fizemos uns lives. Fiz com a JÜRA, o Tyoz, acho que com a Brisa… E queria fazer com ela porque queria fazer a ponte entre a malta inglesa e a malta portuguesa, e depois, na altura, não aconteceu porque ela estava ocupada com um álbum. Mas para mim, aquilo foi tudo reacional, porque ela era bué acessível e ainda hoje há alturas em que lhe mando uma mensagem random e ela vê e fico chocada. Para mim, era uma cena impensável, I don’t know, de acontecer. E o facto dela ter dito o que disse sobre a música que escrevi na altura acho que também me deu um bocado de força para continuar a seguir esse caminho, ainda que em português.

Enquanto falávamos sobre esta cena de Londres e da tua passagem por programas de talentos, passou-me uma coisa pela cabeça. O nome do EP já aponta numa direção terapêutica – Cura, não é? – e acho que as canções podem ser vistas como a cura de uma relação amorosa. Contudo, até que ponto é que esta cura não é também perante a tua relação com a música?

Talvez haja ali uma ou outra referência que tenha subconscientemente escrito para a minha cura com a música. Talvez na “Quem Tem Mossa” um bocadinho, mas no resto, por acaso não sinto… Talvez também na primeira faixa [“31 de Dezembro de 2020”], porque quando escrevemos essa, na verdade, nem foi muito premeditada. Mas acho que na sonoridade, principalmente, sim. Eu procurei muito por esta sonoridade que apresento no Cura, mas também foi uma cena em que sabia que procurar não era sempre a solução. E houve muito tempo e muitas coisas de mim que estão no EP que fazem parte do meu processo todo enquanto cantora. A cena da “V de Volta”, de ter ali um bocadinho de hip hop e aquele spoken word – não sei se lhe posso chamar spoken word, é mais um cantar meets falar – vem muito dessa minha escola de hip hop, que comecei quando era mais miúda. Acho que todas as minhas experiências na música, e os “nãos” que tive, e toda essa luta e essa perseverança interior que tive de manter, apesar de ter duvidado muito – e acho que é importante dizer que a dúvida e o duvidar não é negativo, não é uma cena que nós devamos evitar falar ou diminuir dentro de nós, porque faz parte. Acho que a Cura teve esse papel em mim, mais não seja porque lancei. Procurei tanto lançar coisas e fui lançando umas colaborações e umas coisas de hip hop e assim, mas tudo muito numa base não profissional, a não ser a música com o Darko e outra que fiz com uma banda. 

Mas ya, acho que o processo de cura é, sem dúvida, sobre a relação, porque todas as letras foram sobre isso e escrevi sempre nessa perspetiva. Talvez também seja sobre outras relações, ou seja, não seja só de uma específica e da que eu falo especificamente, mas acho que todas as outras passadas têm um bocadinho influência nesse processo de escrita. Mas isto tudo para dizer que acho que ter lançado estas músicas cura-me um bocadinho todas as pequenas mágoas que fui guardando, de não passar no The Voice ou de não ganhar um programa de televisão. Na altura, vivia um bocado esse sonho e acho que não era por ali que tinha que ir. Tinha de levar na cabeça e tinha que sofrer um bocado para poder descobrir o caminho certo e para levar a música da forma como eu levo, de uma forma intrínseca, que faz parte de mim, e então acho que isso curou um bocadinho a mágoa toda de às vezes não passar nesses programas. 

Não sei, é engraçado fazeres essa pergunta, porque nunca tinha pensado nisso. Mas é fixe, porque sem dúvida que sim. Não posso dizer que não, não é? É o meu primeiro EP. Aliás, só o lançar o primeiro single, já foi uma cena bué… Tinha essa preocupação de já ter escrito bué coisas, mas nunca ter lançado nada. Tinham passado 10 ou 12 anos desde a primeira vez que escrevi e guardei sempre muito para mim. Não tinha coragem de partilhar. Eu cantei muito em bares, portanto às vezes cantava originais em bares, mas sinto que a malta não ouvia. Ficava meio… estavam à espera de um Bruno Mars ou de uma Beyoncé, queriam que eu cantasse covers que pudessem ouvir, dançar, cantar, e eu às vezes queria cantar uma das minhas músicas e era mega teimosa e cantava mesmo assim. Às vezes, até ficava assim meio com cara de chateada porque as pessoas não ouviam e fazia “hmm hmm” ao microfone [risos]. Acho que lançar o EP, e isto para te dar algum fio condutor, porque já percebeste que falo bué [risos], curou-me parte, mas agora quero lançar outra coisa porque já estou deserta. Mas acho que lançar isto, para mim, é uma vitória enorme. Estar a fazer isto de forma independente, com o meu investimento, isso para mim é uma vitória, porque na altura, em Londres, trabalhava tipo 12 horas para conseguir poupar algum dinheiro – e Londres é caro, Londres é muito caro -, para um dia conseguir ter dinheiro para fazer isto. Porque vídeos, promoção, o estúdio, músicos, produtores, fotógrafos… Isso para mim era tudo uma cena que estava bem definida na minha cabeça. Estou muito feliz porque está cá fora e curou-me essas dores todas que tu falas e essa foi das melhores perguntas que já me fizeram.

És perfecionista?

Demasiado. 500%. Acho que às vezes até roça ali um bocado ao chato, mas acho que é um bocado difícil não o ser. Já o sou em todas as outras coisas da minha vida, porque não sê-lo na música também? [risos] Já que chateamos toda a gente, ao menos chateamos mesmo, mesmo toda a gente. Mas acho que, na verdade, não sou só eu. Já falei com o Luar sobre isso, porque nós somos os dois muito perfecionistas e o processo sempre foi mais demorado por causa disso. No outro dia, apercebi-me que a “Cura” saiu há nove meses e achava que tinha saído há muito mais tempo. É chocante-

O quanto aconteceu nesses nove meses?

Ya. Às vezes, não me apercebo disto, mas tenho-me apercebido cada vez mais que em nove meses fez-se muita coisa. Mas sou muito perfecionista, e acho que parte disso é insegurança. Por exemplo, quando cantava em bares, a malta gravava as coisas, e às vezes o som era péssimo, e depois aquilo parecia que eu cantava mal e mandava mensagem às pessoas para elas tirarem os vídeos. E não é a cena de ter uma imagem perfeita, não é nada disso, porque nobody is perfect, já dizia a nossa amiga Jessie J, mas havia vídeos terríveis. Eu andava sempre à caça dos vídeos no Youtube, mas nem era pela voz. Quer dizer, houve um que para mim não dava, e chateei bué o rapaz, coitado. Fui tocar uns covers e um ou dois originais, na altura tinha uns 16 anos, e acho que foi numa faculdade de medicina, uma coisa assim, e lembro-me de pedir encarecidamente para tirar porque eu não estava a cantar fixe. Estava mau! E depois na altura, coitado, eu chateei-o tanto que ele acabou por tirar.

Se esse rapaz ler esta entrevista, espero que ele se lembre.

Se ele ler, desculpa! Não te quis chatear tanto, mas estava mesmo insegura, precisei mesmo que tirasses isso. Mas há outros vídeos que fico feliz por estarem ali porque mostram o meu progresso. O do The Voice, por exemplo. No início, fiquei a pensar que aquilo ia ficar na net para sempre. Três milhões de pessoas viram aquilo – e eu até desafinei – mas também faz parte. Acho que é bué importante estar ali, que é para as pessoas saberem que literalmente ninguém é perfeito e que faz tudo parte do teu processo e da forma como tu encaras as coisas e como lidas. Portanto, acho que isso é fixe. E tudo isto para responder à tua pergunta de que sou perfecionista [risos]. Sou bué e chateio muita malta e quero sempre o melhor. E com isto não estou a dizer que as minhas coisas são as melhores, não é isso. É mais: se não vamos fazer o melhor numa ação, perde impacto para mim. Então, vou até à última. Por exemplo, com mixes, sou bué perfecionista. Gosto de estar até à última a tentar perceber se tenho tudo o que preciso ou não e é um trabalho minucioso. É chato às vezes colocar essa pressão nos nossos colegas, porque é uma equipa, mas o produto final é a minha cara e é o meu nome. Sinto que a malta dá 300% e estou grata pela equipa que tenho e pela forma como as pessoas me encaram e como às vezes me protegem daquilo que poderiam ser as ações que eles teriam se tivessem menos paciência. Mas a malta tem muita paciência para me aturar [risos] e o produto final está à vista. Se calhar é por isso mesmo que não mudava nada de nada. Ficou exatamente como eu queria e faria tudo outra vez da mesma forma, igual, igual, igual. Por isso, ya, sou perfecionista [risos].

Perguntei isto também porque, ao longo do EP, notei em alguns detalhes que me chamaram à atenção, de fundo. Na “31 de Dezembro de 2020”, ouve-se o mar. Na “Quem Tem Mossa”, ouvem-se uns grilos, uns passos-

São os grilos de casa da minha mãe. Aliás, eu tenho o áudio. Um dia destes vou pôr num story.

E na última [“Estas são as últimas canções que escrevo sobre ti”] ouve-se conversa e acho que é um… comboio que passa ao longe?

Sim, isso foi gravado num retiro com a Rita e com o Luar em que fomos os três para a Fontela, para a casa da minha avó paterna – que é numa aldeia, assim meio para o idílico -, e aquilo é o comboio que passa à frente. Aquilo aparece para fechar o EP, porque sinto que já é uma nova fase… Não é uma nova fase de composição, mas é e não é. É um meio-termo. Então, decidi que ia ser isso a fechar o EP. Nós estávamos à procura de uma forma de fechar o EP e andávamos de volta dos sons que tínhamos, das demos, dos meus dictafones todos, mas não aparecia nada fixe. E o Luar saca daquela gravação, que é uma gravação do retiro. E aquilo não foi produzido. Quer dizer, foi, mas não foi. Aquilo é um som da casa da minha avó, que é uma casa de pedra com buéda eco, e não tinha letra. Mas eu gostei bué daquilo, mas ainda não estava totalmente lá. E eu disse ao Luar – e eu digo-lhe bué vezes isto – “Olha, faz aí umas cenas, que eu vou ali dois minutos” – e depois estou ali durante um bocado, na minha, a escrever e, de repente, comecei a escrever um poema para essa canção. Portanto, o resultado final foi um mix entre o áudio da Fontela e a gravação da minha voz, que são dois primeiros takes de dois momentos diferentes. Mas qual foi a tua pergunta? [Risos] 

Não a cheguei a terminar [risos]! Entretanto começaste a responder. Ia perguntar se todos esses detalhes eram uma forma de incrementar o tom introspetivo do EP.

Sim, acho que sim. E era um bocado o também estar mais vulnerável, para o público e para as pessoas que ouvem, porque sinto que as canções, quando são assim mega produzidas, com um beat, todo um início e um fim, sinto que é fixe desconstruíres um bocado isso e dares, neste caso, uma introdução [“31 de Dezembro de 2020”] e uma outro [“Estas são as últimas canções que escrevo sobre ti”], que queria que fossem momentos especiais, que não fosse só o abrir e o fechar do EP. Queria estar um bocadinho mais perto das pessoas e sair um bocado da máscara dos 808s, e dos beats mega dramáticos – se bem que a intro é mega dramática e eu gosto das cenas assim, dramáticas e dolorosas. Acho que a intro disse isso tudo muito bem e a outro fecha exatamente como eu queria que fechasse.



Falaste aí de vulnerabilidade e parece-me um bom momento para te perguntar algo que perguntei à INÊS APENAS no outro dia [numa entrevista a ser publicada em breve aqui no Rimas e Batidas]. Vocês, malta ligada à AVALANCHE, Great Dane, etc., falam muito da música como forma de terapia. Como vocês colaboram muito entre vocês, quando criam em conjunto, sentes que existe uma espécie de terapia de grupo que permite criar um espaço seguro para se apresentarem assim vulneráveis?

Sim. Mesmo antes de existir AVALANCHE, nós já nos dávamos todos e fazíamos parte das casas de uns dos outros. Portanto, acho que sim. É o meu grupo e são a minha casa e a minha família, e acho que nós críamos, entre todos, um espaço, como tu dizes, para sermos vulneráveis e de partilha. Não há competição, e mesmo que haja, é saudável, é numa de puxar uns pelos outros, e acho que isso é bonito de se ver. Eu, pelo menos, não senti isso durante muito tempo. Não sei se era por não ter ainda encontrado ainda as “minhas pessoas”, mas acho que eles são as minhas pessoas e espero também ser uma das pessoas deles. Sinto que é uma aura diferente, uma cena diferente. Acho que também era preciso isso que a AVALANCHE trouxe. Pelo menos, enquanto ouvinte, acho que é diferente. Acho que traz uma aura diferente à música portuguesa e, juntos, fazemos uma coisa bonita na AVALANCHE, em que cada um cria o seu espaço para ser vulnerável e não haver medo de ser vulnerável, porque há muita gente que não o é. Acho que o grupo que críamos trouxe, de forma muito natural, qualquer coisa de mágico à música e ao facto de se fazer música e de ser aquela cena mega colaborativa, que acho que é mega interessante para as pessoas que estão a começar a querer e fazer música. Mesmo os writing camps, que depois começaram a acontecer, são muito giros para que mais pessoas colaborem e sintam aquela cena de que é mais giro que ficar fechado no quarto a compor – e eu fiz isso bué, o EP nasceu quase todo assim até à fase de ir para estúdio. Mas espero que influencie muito as pessoas a colaborarem também porque acho que isso é o mais bonito de se fazer música. É o mote de fazeres por fazeres, que é o mote da AVALANCHE, e que vivemos enquanto amigos, fora dos holofotes de músicas lançadas. É muito bonito de se ver.

Ao nível de colaborações, também já escreveste para outros, como é o caso do tema que a Blacci levou ao Festival da Canção 2022 [“Mar no Fim”]. Para ti, é diferente quando escreves para ti ou quando escreves com outros e para outros?

Ainda não. Sinto que tenho de me por na pele do outro, não é? Porque estou a escrever para outro. Quando escrevo para outras pessoas, gosto sempre de fazer um preâmbulo para que a outra pessoa se possa abrir um pouco e explique-me onde está naquele momento, onde é que se encaixa, se se encaixa de todo, sobre o que quer escrever, e obviamente comigo não faço isso. Se calhar, devia fazer. Devia sentar-me comigo própria ao espelho, mas não costumo fazer isso. Escrevo só e deixo-me levar um bocado pelo momento. Com as outras pessoas, tento sem dúvida perceber o que elas querem fazer. Acho que é essa a diferença aí maior entre processos, mas muitas vezes espero que a outra pessoa me dê qualquer coisa que eu possa trabalhar para a cena também não ser mega formal. Acho que é mais fixe a pessoa dizer e, de repente, mostrar-me uma frase que tenha, uma melodia, o que seja, e trabalhar assim. Comigo, acaba sempre por ser muito mais introspetivo porque estou ali à procura do que vou fazer e do que não vou fazer. Mas gosto bué dos dois processos. Acho que são auras totalmente diferentes e estão em mundos totalmente diferentes para mim.

Lembro-me de ver uma foto tua em estúdio com a Bárbara Bandeira. Cozinharam algo em conjunto?

[Risos] Cozinhámos em conjunto para ela, mas ainda não saiu, e não posso dizer muito, na verdade [risos]. Mas sim, estive numa sessão de songwriting com ela-

Foi no Great Dane?

Não, foi numa casa. Foi bué interessante porque nunca tinha tido uma experiência assim de songwriting para outra pessoa que fosse tão big e acho que foi muito giro. Na altura, isto surgiu via um convite da [Bárbara] Tinoco, porque ela achou que seria interessante e na altura fiquei bué feliz porque queria bué escrever para outros artistas e então-

E foste logo escrever para uma pop star como a Bandeira [risos].

Exato, e foi giro! Eu estava mega nervosa no início, mas a Barbara [Bandeira] foi uma querida. Foi mega incrível, mega aberta comigo, e estava sempre mega tranquila para eu lhe dar as ideias que queria dar. Foi fixe.

Com quem gostavas de colaborar que ainda não aconteceu?

Com a JÜRA, com a Milhanas… Gostava muito de colaborar com o GSON no futuro, porque admiro muito o trabalho dele e gosto muito do timbre dele, de como ele canta e como a cena surge. E tantas outras pessoas. Gostava muito de colaborar com a Cláudia Pascoal, já lhe disse. Espero que aconteça um dia, gostava muito, é das pessoas que mais admiro neste país. Depois, gostava muito de colaborar com a Ana Moura, sem dúvida. Passava-me da cabeça. Acho que provavelmente parava de fazer música depois disso porque já não havia assim nada que pudesse ser tão icónico quanto isso para mim. Depois, claro, tenho colaborações de sonho internacionais que acho que obviamente toda a gente que está na música tem. Quem é que não quer fazer uma colaboração com a ROSALÍA, por exemplo? Ou com o C. Tangana ou uma Madonna? Se ela quiser fazer uma colaboração comigo… Madonna, já sabes. De memória, não me ocorre outros, mas tenho várias outras pessoas que admiro o trabalho e que seria muito fixe colaborar. O Ivandro, talvez, ele tem um timbre incrível. Acho que vou buscar sempre malta com timbres bué interessantes, na minha opinião. 

A mim, sugeriram-me uma collab tua com o xtinto, uma vez.

Olha, já falamos sobre isso, no estúdio – não com o xtinto, mas com outras pessoas. Eu conheci o xtinto na listening party do álbum dele [Latência]. Não o conheci no dia, mas falamos lá um bocado pelas redes, e é bué fixe porque curto muito da “Cadáver”, foi aí que comecei a curtir do trabalho dele. Acho que vou buscar muito malta que canta e faz rap, e eu acho que ele também tem aquela vibe que canta um bocadinho, de não ser só um rapper e eu curto disso. Eu gosto de fazer música, ponto, quase com toda a gente. Mas essas são sem dúvida as referências mais importantes.

Vais apresentar o EP no próximo dia 7 no Tokyo Lisboa. Tens alguma coisa especial reservada para esse concerto?

Tenho algumas coisas especiais, sim. Vamos ter um formato assim diferente. Não diria inesperado, porque já se viu noutros concertos, mas acho que é diferente, e vai ser um bocado um concerto de celebração destes anos da minha vida a preparar isto. Foram dois anos de preparação, mas há toda uma vida para trás, e toda uma carrada de sacos e sacos e sacos de areias enfiadas de coisas que já se passaram, que acho que isto vai ser mesmo uma mega libertação e quero bué celebrar este processo todo. Portanto, acho que vai mostrar muito isso. Vamos ter convidados – quem já veio aos outros concertos sabe algumas das surpresas -, mas estou mega entusiasmada para que novas pessoas venham e se juntem a esta família e a este projeto. Ao nível do cenário, acho que podem esperar algumas coisas, porque não gosto de ter um palco vazio. Não há bailarinos ainda, mas um dia destes gostava de ter, e eu gostava até eu de ter aulas de dança porque é um desafio mega interessante para mim. Não danço mal, mas há espaço para melhorar – há espaço para uma Jazzy [risos]. Gosto sempre de ter umas cenas diferentes e estou a preparar umas cenas, na realidade, com a minha mãe, que estou mega excited que as pessoas vejam. Acho que vai ser giro ver a reação tanto da malta que já me viu tocar ao vivo como a malta que espero que venha ver pela primeira vez.

E o que há mais no futuro para iolanda?

Há vários spas, que é o que preciso [risos]. Mas há uma vontade enorme de ir para estúdio já escrever um álbum, porque sinto que estas canções vieram de dois anos muito intensos de perceber como se faz. Tudo isto é muito giro mas há toda uma dinâmica à volta que não tem nada a ver com música, que é mega cansativa e mega incrível ao mesmo tempo, que tu ficas sempre meio overwhelmed com o processo, e acho que sinto muito a falta de escrever música porque não tenho escrito assim tanta ultimamente. Há muitas colaborações que estão para vir, que já estão a começar a ser escritas e quero muito fazer outras coisas que não têm a ver com música, porque sempre gostei de criar conceitos e de criar ideias. Portanto, tenho assim algumas ideias pensadas, que muito provavelmente são a longo prazo, e quando eu digo a longo prazo, são coisas que são alheias à música, mas que podem ter alguma influência, seja ao nível de merch ou de produto. Eu gosto muito da ideia de teres alguma coisa que tenha um bocadinho de ti, como um perfume ou uma marca de roupa. Gosto bué disso, sempre gostei, e acho que me vou focar nisso in the next moment, porque acho que é bué giro criares uma coisa tua, um bebé, que vem da tua cabeça. Tenho uma série de projetos pensados que eventualmente quero concretizá-los, mas também que eventualmente podem deixar de fazer sentido a longo prazo. Mas sem dúvida o que quero mais fazer é um álbum e preciso muito de começar a escrever.


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