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Fotografia: Beatriz Pequeno
Publicado a: 29/04/2025

Experiência consumada com sangue, suor e esperança.

Filipe Sambado na Galeria Zé dos Bois: um Aquário cheio, o coração ainda mais

Fotografia: Beatriz Pequeno
Publicado a: 29/04/2025

Foi no início de 2023, ainda num rescaldo pós-pandemia, que as primeiras músicas de Três Anos de Escorpião em Touro saíram do confinamento criativo que antecede a edição de um álbum em busca de novos (e velhos) ouvidos que lhes dessem casa. Apresentadas tanto em modo acústico, como a primeira mostra com “Choro da Rouca” em showcase para a Antena 3, como em formato banda com Chinaskee, em concertos como o do B.Leza, as canções ganharam então novas asas, mais excêntricas e espampanantes, com o lançamento do disco. As purpurinas da hyperpop fizeram-nas brilhar com uma nova luz, e foi debaixo dela que Sambado correu palcos como o do MEO Kalorama, acompanhada de uma equipa que lhes deu corpo — e o dobro da alma. 

Mas não é por lhes despirmos os figurinos e limparmos a maquilhagem que lhes conspurcamos a beleza. É talvez nessa simplicidade que Filipe Sambado tenha ancorado a força de “Gémea Analógica”, a tour a solo que originou o álbum homónimo com os mesmos temas em formato acústico, lançado em Janeiro deste ano. Num encontro entre o regresso às origens destas criações e a sua reinterpretação com apenas um instrumento e voz, Filipe Sambado alcatroou uma nova estrada para as voltar a cantar. 

Foi numa sala quase completa na Galeria Zé dos Bois que expôs a nudez que brota do abandono dos adornos de estúdio; e o Aquário parece a opção certa para uma partilha intimista como aquela da noite de 26 de Abril. Ainda de cravo na mão, começou o concerto com a dor e serenidade de “Desenho”, acompanhado da mesma guitarra acústica que deu também uma nova roupagem a “Laranjas/Gajos”, o tema onde Sambado sorri à sorte do amor que aceita sem preconceito. “Ela gosta de gajos, mas gosta de mim” já se cantava baixinho numa audiência ainda tímida, que foi progressivamente transformando os sussurros em coros apaixonantes à medida que a quarta parede se foi quebrando.

Cantou sobre miminhos com “No Leito” e “Só Beijinhos” (dos álbuns Revezo e Filipe Sambado & Os Acompanhantes de Luxo, respectivamente), antes de partir para o despedaçar de corações que é o “Choro da Rouca”, canção em que as vozes do público não se conseguiram mais conter. Abraçado ao humor para conquistar a proximidade com a plateia, confessou que antes não gostava que cantassem nos seus concertos, mas que hoje em dia adora: “Estou mais madura”. 

Alternando entre o teclado, o cavaquinho, a guitarra acústica e a eléctrica, mostrou-nos como as músicas podem ter várias vidas e como a voz pode ter várias caras. Seja de “Fadista!”, como alguém gritou no final de “Lugar na Mouraria”, ou de cantautora popular com o gostinho a Fausto que “Este Fardo” deixou, Sambado consumou esta experiência partilhada com sangue, suor e esperança. Com o 25 de Abril ainda fresco, relembrou-nos que os novos cravos e as novas lutas continuam a precisar de novas vozes. “Não passarão, mas o pássaro já está grande demais”. Que se continue a falar, a cantar e a gritar pela igualdade, para que nunca nos tirem a liberdade.


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