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Publicado a: 06/09/2015

Festival Rimas e Batidas: o futuro do hip hop tuga passou pelo S. Jorge

Publicado a: 06/09/2015

[FOTOS] Bruno Martins

Pouco passa das 18 horas e já há movimento no S. Jorge para o último de três dias de Festival Rimas e Batidas. No foyer, mr_mute vai alternando entre 7”s e 12”s de beats e breaks que, em conjunto, parecem desenhar um roteiro pelas sonoridades que primeiro influenciaram o movimento hip hop; nas bilheteiras as impressoras vão estampando os bilhetes; e na Sala 3, Beware Jack e Blasph vão alinhando energias no soundcheck.

Há uma carga positiva de expectativas em torno de uma noite em que o núcleo sónico é o hip hop emparelhado em sólidas produções boom bap e electrónicas. Por exemplo, Slow J subirá ao palco pela segunda vez na sua carreira, momento que tanto poderá ser (ainda) de afirmação, como de confirmação do ascendente da mais recente revelação do rap português. Mais tarde, Beware Jack e Blasph trazem pela primeira vez ao palco O PROCESSO, um projecto colaborativo cujo disco estará prestes a sair do forno, o que significa que é de esperar o inesperado. Por outro lado, os ASTROs ProfJam e Mike El Nite já cimentaram as suas posições entre a nova geração de MCs e produtores de hip hop tuga, fruto dos tempos da conectividade sem barreiras e da imediatez da internet – é hoje cada vez mais frequente ver uma pluralidade de nomes desta editora figurar em cartazes de festivais e eventos dedicados à cena. E Prodígio… é Força Suprema. Se já impressionou com Pro-Evolution, Prodígios regista evolução.

As portas abrem depois do jantar e paralelo convívio entre artistas e staff. Slow J é o primeiro. Uma tela refracta a projecção do vídeo “Tinta da Raiz”, uma estreia. O público exulta e já não há mais dúvidas: Slow J tem uma crescente base de fãs, foi o artista mais aplaudido da noite, aquele que mais público atraiu e ainda se fez acompanhar por uma pequena crew de produção televisiva. Ficamos com a sensação que, a partir deste momento, que é apenas o seu segundo onstage, a carreira do MC de Setúbal apontará a novos voos – sensação esta que se quedou em nós na estreia de Fábia Maia em palco.

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The Free Food Tape EP ainda é fresco e o alinhamento não foge das tracks que o compõem. “O Objectivo” é nome de faixa de abertura e, igualmente, prólogo para um espectáculo onde as palavras são absorvidas sílaba por sílaba. Primazia da rima, portanto. “‘Cristalina’ é uma faixa espectacular”, dizia Beware Jack já no backstage.  Por altura d’”O Cliente” já Slow J tinha conquistado todos os presentes e abandonou o palco sob o eco de assobios e palmas.

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Com ProfJam e Mike El Nite avança-se para uma travessia estética: o boom bap dá lugar ao trap e aos graves electrónicos proveniente da Zona T, finest. O primeiro lançou a uma série de trunfos de The Big Banger Theory e partilhou o palco com Phoenixx MGMagboy RSK; o segundo saneou o ambiente nas rimas e nos beats com tracks de Vaporetto Titano e ainda com uma escuta da teneborsa “Banghello (O Gesto)” na companhia de L-ALI. Mike El Nite foi o artista mais activo da noite: primeiro como DJ de Slow J e ProfJam e depois na qualidade de MC, evidência de um crescente estatuto no movimento que o coloca entre as referências primárias da nova geração.

O lirismo metafórico de Beware Jack e o descomprometido MS style de Blasph são raiz d’ O PROCESSO, projecto colaborativo cujo disco será editado muito em breve. As primeiras malhas foram desvendadas no palco da Sala 2, toda uma génese boom bap, prioridade à mensagem, uma espécie de conversa entre público e MCs. O estilo destes rappers permanece intacto nos seus flows escorreitos sobre beats que se norteiam pelas legados daquela era a que chamamos dourada.

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Prodígio foi o último dos artistas do lineup no palco, a bomba “Cara Preta” a espicaçar os levels e o crowd. É um espectáculo de BPMs elevados e garra na rima. Além disso, há uma qualidade neste rapper da Linha de Sintra que é herança do modus operandi dos tropas Força Suprema: a interacção com o público. A primeira edição do Festival Rimas e Batidas terminou na festa que todos nós desejávamos: artistas e audiência em cima do palco, comunhão ao ritmo de um trap electrizante, o hip hop lusófona numa demonstração de união. Próxima paragem: Festival Rimas e Batidas 2016.

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